Ariano Suassuna encantou-se às 17h15 desta quarta-feira, dia
23 de julho, enquanto Garanhuns vive a 24ª edição do Festival de Inverno, onde
o escritor já esteve mais de uma vez, com as suas fabulosas aulas-espetáculo.
O paraibano mais pernambucano de que se tem notícia vai ter
seu corpo velado no Palácio das Princesas, perto do Santa Isabel, do Palácio da
Justiça e às margens do Capibaribe.
Sua alma, acredito, já está no céu. Ele deve ter sido recebido
por São Pedro e logo se juntou a seus personagens imortais, como Chicó e João Grilo,
também tirando logo uma prosa com outros grandes nordestinos como Chico Anísio,
Patativa de Assaré, Luiz Gonzaga e Dominguinhos.
Com certeza o homem danou-se a cantar suas histórias e enquanto
Recife, Pernambuco, Paraíba, Nordeste e Brasil estão banhados em lágrimas no céu
tá todo mundo rindo graças ao alto astral do mais ilustre torcedor do Sport.
PERFIL - Advogado, professor, teatrólogo e romancista, Ariano
Vilar Suassuna costumeiramente é considerado “o paraibano mais pernambucano”
que se conhece.
Nasceu em Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa, em 16 de junho de 1927.
Filho
de João Suassuna e de Rita de Cássia Vilar, Ariano tinha pouco mais de três
anos quando o seu pai foi assassinado na Paraíba, por conta das lutas políticas
que antecederam a Revolução de 1930 no Brasil.
Depois da morte do marido, Rita resolveu se mudar com os nove
filhos para Taperoá, cidadezinha do interior, onde o futuro escritor passou a
ter contato com o universo mágico que iria fazer parte de suas obras.
Em
Passa
a escrever nos jornais recifenses e em 1943 publica sua primeira peça, “Uma
Mulher Vestida de Sol”, conquistando o prêmio “Nicolau Carlos Magno”.
Formado
em Direito, a partir de 1950 passou a advogar e volta a morar em Taperoá
por motivos de saúde. No interior paraibano escreve a peça “Torturas de um
Coração. Dois anos depois está novamente no Recife, de onde praticamente não
sairia mais. Em 1955 publica “O Auto da Compadecida”, sua obra mais popular até
hoje.
O SUCESSO - A
história engraçada protagonizada por João Grilo e Chicó cairia no gosto do
grande público e receberia duas versões para o cinema: uma em 1969, com direção
de George Jonas, tendo Regina Duarte – a então namoradinha do Brasil - e
Armando Bogus como estrelas principais: a outra de 2000, dirigida pelo
pernambucano Guel Arraes (filho do ex-governador) e Selton Mello vivendo um dos
principais personagens.
Ainda
em 1962, o crítico Sábato Magaldi faz sua avaliação pelos jornais: “O Auto da
Compadecia é o texto mais popular do moderno teatro brasileiro”.
Em 1969 foi nomeado Diretor do Departamento de Extensão Cultural da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, ficando no cargo até 1974.
Ariano estava sempre interessado no desenvolvimento e no
conhecimento das formas de expressão populares tradicionais e, no dia 18 de
outubro de 1970, lançou o Movimento Armorial, com o concerto "Três Séculos
de Música Nordestina: do Barroco ao Armorial", na Igreja de São Pedro dos
Clérigos e uma exposição de gravura, pintura e escultura.
O escritor também foi Secretário de Educação e Cultura do Recife e Secretário
de Cultura do Estado, sempre ligado a Miguel Arraes e ao seu neto, Eduardo
Campos.
Ariano é doutor em História pela Universidade Federal de
Pernambuco e foi professor da UFPE por mais de 30 anos, ensinando Estética e
Teoria do Teatro, Literatura Brasileira e História da Cultura Brasileira.
Seu "Romance da Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do
Vai e Volta" publicado originalmente em 1971 teve a primeira edição.
Relançado somente em 2005 teve sua segunda edição esgotada em menos de um mês,
o que é uma coisa rara para um volume de quase 800 páginas.
Alguns consideram “Romance da Pedra do Reino”, como a maior
obra de Ariano.
O escritor construiu em São José do Belmonte, no Sertão
pernambucano, um santuário ao ar livre, constituído de 16 esculturas de pedra,
com 3,50
m de
altura cada, dispostas em círculo, representando o sagrado e o profano. As três
primeiras são imagens de Jesus Crito, Nossa Senhora e São José, este o padroeiro
do município. No local ocorre todos os anos uma cavalgada inspirada no romance A Pedra do Reino.
Recentemente, numa entrevista a TV Globo, Ariano Suassuna deve ter surpreendido alguns intelectualoides. Ele fez rasgados elogios à novela "Lado a Lado", que estava em seus últimos capítulos. Disse que há tempos não se escrevia história tão boa para a televisão e admitiu que o folhetim deixaria saudades.
Com a morte de Ariano Suassuna, hoje, a literatura brasileira
entrou definitivamente de luto, pois perdeu há poucos dias João Ubaldo Ribeiro
e Rubens Costa.
O “encantamento” do autor do Auto da Compadecida é que causou
maior comoção, como comprova a repercussão nas emissoras de rádio e TV, nos sites,
blogs e redes sociais.
O ex-governador Eduardo Campos, admirador e amigo do escritor,
assim como seu avô, Miguel Arraes, disse que o que mais aprendeu com o Ariano
foi ter fé no Brasil. Luiz Fernando Veríssimo, filho do grande Érico Veríssimo sintetizou
ai importância do autor: “Ele era um tesouro”, afirmou.
Ariano, que este ano foi homenageado no desfile do Galo da Madrugada,
parte desta vida para a eternidade. Mas será sempre lembrado deste lado de cá pelo
seu nacionalismo, seu falar nordestino, os livros, o movimento armorial, a militância
política, as histórias, tudo que ele foi e deixa pra nós, como exemplo de intelectual
de verdade e ser humano de primeira.
Uma pena!
ResponderExcluirEra o último esquerdista digno vivo no Brasil.