Nesta quinta-feira, dia 29, às
10h, a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), realiza um Grande
Expediente Especial para devolução simbólica do mandato parlamentar do deputado
federal Gregório Bezerra, em nome dos pernambucanos que o levaram à Câmara
Federal. Ele foi cassado em 1948, quando o Partido Comunista foi colocado na
ilegalidade. A sessão atende pedido do deputado Waldemar Borges, que acolheu
sugestão da deputada federal Luciana Santos.
A Câmara dos Deputados aprovou,
em março de 2013, uma resolução que anulou a decisão da Mesa Diretora da Casa
adotada em 10 de janeiro de 1948, que extinguiu os mandatos dos deputados
federais sob a legenda do Partido Comunista do Brasil. A Mesa da Câmara
atual considerou que a decisão da década de 40 contrariou a Constituição
Federal democrática de 1946, promulgada após o governo de Getúlio Vargas (1930 a 1945).
Numa iniciativa complementar a
solicitada pela deputada Jandira Feghali (PCdo B/RJ) e como um desdobramento da
resolução da Câmara Federal, o deputado estadual Waldemar Borges e a deputada
federal Luciana Santos, resolveram fazer uma homenagem para ratificar a
devolução do mandato de Gregório Bezerra e reafirmar sua expressiva votação em
nome dos pernambucanos que o elegeram.
“Queremos fazer esse ato
simbólico de devolução do mandato desse verdadeiro herói do povo brasileiro que
foi Gregório Bezerra aqui em Pernambuco, sua terra, lugar que ele amou e
defendeu por toda a sua vida. Essa reparação histórica é necessária para que
possamos corrigir e reparar uma injustiça aos constituintes da década de 1940” , comenta Luciana. “Além
disso, queremos reafirmar a confiança que os pernambucanos lhe depositaram ao
elegê-lo”, completou Waldemar Borges.
GREGÓRIO
Gregório Lourenço Bezerra nasceu
na cidade de Panelas, no Agreste de Pernambuco. Com a idade de quatro anos
começou a trabalhar na lavoura de cana-de-açúcar para ajudar a família. Aos
nove anos de idade, já havia perdido ambos os pais – o pai aos sete anos de
idade e a mãe aos nove anos – e migrou para o Recife. Tinha vindo para ficar
com a família dos fazendeiros com a promessa de estudar, que não foi cumprida.
Como a maioria dos migrantes
pobres era sem-terra, sem-teto (segundo o próprio Gregório Bezerra, dormiu por
muito tempo entre as catatumbas do cemitério de Santo Amaro). Gregório era
analfabeto até 25 anos de idade. Foi carregador de bagagens na estação central,
jornaleiro e ajudante de obras. Foi como jornaleiro que começou a se interessar
pela política, com base na leitura que seus colegas de profissão faziam para
ele dos jornais locais. Em 1917 trabalhou como operário da construção civil.
A primeira das suas muitas
prisões ocorreu em 1917, quando participava de uma manifestação de apoio à
Revolução Bolchevique e das primeiras ondas de greve geral por direitos
trabalhistas no Brasil. Preso por cinco anos na antiga Casa de Detenção do
Recife, conheceu o cangaceiro Antônio Silvino, de quem se tornou amigo.
Após sair da prisão decidiu ingressar na carreira militar. Em 1922
alistou-se no exército; alfabetizou-se e em 1929 entrou para a Escola de
Sargentos.
Foi instrutor da Companhia de
Metralhadoras Pesadas na Vila Militar e instrutor de Esportes, no Rio de
Janeiro. De volta ao Recife, filiou-se, em 1930, ao Partido Comunista do Brasil
(PCB).
Em 1935, no Recife, liderou o
levante militar promovido pela Aliança Nacional Libertadora (ALN), movimento
também conhecido como "Intentona Comunista". Condenado a 28 anos de
prisão, pela morte do Tenente José Sampaio Xavier e por ter ferido o Tenente
Aguinaldo Oliveira de Almeida na tentativa de roubar o armamento do CPOR/Recife
no levante de 1935, foi levado, primeiro para Fernando de Noronha e, depois
para o Rio de Janeiro, no Presídio Frei Caneca, onde dividiu cela com o
ex-comandante da Coluna Prestes e secretário geral do Partido Comunista do
Brasil, Luís Carlos Prestes.
Com o fim do Estado Novo, foi
anistiado e elegeu-se constituinte (depois deputado federal), em 1946, por
Pernambuco, na legenda do PCB, sendo o deputado constituinte mais votado do
estado. Teve seu mandato cassado em 1948, juntamente com todos os parlamentares
comunistas. Viveu na clandestinidade por nove anos, organizando núcleos
sindicais no Paraná e em Goiás.
Foi preso imediatamente após o
golpe militar brasileiro de 1964, nas terras da Usina Pedrosa, próximo a
Cortês-PE, pelo capitão Álvaro do Rêgo Barros, quando tentava organizar a
resistência armada dos camponeses ao golpe em apoio ao governo federal de João
Goulart, e estadual de Miguel Arraes de Alencar.
Após a prisão foi transferido
para o Recife, onde foi torturado e arrastado pela praça do bairro de Casa
Forte pelo tenente-coronel do Exército Brasileiro Darcy Viana Vilock, com uma
corda no pescoço, e teve os seus pés imersos em solução de bateria de carro,
ficando em carne viva, e este espetáculo foi exibido pelas televisões locais à
época do golpe militar de 1964.
Condenado a 19 anos de reclusão,
teve seus direitos políticos cassados por força do Ato Institucional nº 1. Foi
libertado, em 1969, juntamente com outros 14 presos políticos, em troca da
devolução do embaixador estadunidense no Brasil Charles Burke Elbrick,
seqüestrado por um grupo de oposição armada.
Viveu no México e na então União
Soviética. Com a promulgação da anistia, voltou ao Brasil dez anos depois, em
1979, e logo entrou em divergência com o seu partido (o PCB), desligando-se de
seu quadro. Gregório apoiou o Partido do Movimento Democrático Brasileiro
(PMDB) e, nessa legenda, candidatou-se, em 1982, à Câmara dos Deputados,
ficando como suplente.
Gregório Bezerra passou 22 anos
de sua vida preso por motivos exclusivamente políticos, comparando-se a Nelson
Mandela, que passou 27 anos. Antes de morrer, Gregório declarou: gostaria de
ser lembrado como o homem que foi amigo das crianças, dos pobres e excluídos;
amado e respeitado pelo povo, pelas massas exploradas e sofridas; odiado e
temido pelos capitalistas, sendo considerado o inimigo número um das ditaduras
fascistas. (Texto: jornalista Ida Comber).
Sempre que as elites se acham ameaçadas com ideias de igualdade, reagem violentamente. Os comunistas não tinham força suficiente para propagar sua ideologia e muito menos para tomar o poder no Brasil. Alguns pagaram caro em insistir nessa luta. Foi o caso do nosso herói pernambucano Gregorio Bezerra. Infelizmente é mais um guerreiro desconhecido. Mas ainda há tempo de corrigir esses lapsos de ignorância nociva à cidadania. No caso de Gregorio podemos ler seu livro biográfico: Memórias.
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