De Neide Tavares no livro "Lembranças de Garanhuns":
Num breve
passeio pelas ruas de Garanhuns, a minha geração carinhosamente chamada de
"geração dourada", não pode deixar de contemplar a Praça jardim,
ponto de encontro dos jovens nos anos 50 e 60. Ali localizava-se o Cine Jardim,
o principal da cidade, bastante frequentado pelos rapazes e mocinhas da época.
Muito bem instalado, um prédio muito bonito, suntuoso até, o Cine Jardim
somente enaltecia a cidade, enchia de orgulho o Garanhuense, pois era um dos
maiores das cidades interioranas.
Tínhamos
vários cinemas, porém nenhum mais importante do que o Jardim, onde os
melhores filmes passavam e acontecia a mais partilhada diversão, tornando-se
ponto inicial para duradouras amizades. Era ali que os casais marcavam
encontros e começavam namoros, muitos destes terminando em casamento. Além do
mais, podia-se ver a elegância feminina, apresentada aos olhos daqueles que
ficavam nas calçadas, apreciando a entrada e saída das pessoas, ao inicio e
término de cada sessão. Geralmente os rapazes saiam apressados e se postavam na
esquina da Avenida Santo Antônio, esperando todo um desfilar. Havia sempre um
cumprimento aqui e acolá, pois todo o mundo se conhecia. No outro dia, as
conversas: Gostou do filme?" "Fulano estava lá". Você viu? Estava
com namorada. "E se houvesse um Cinemascope, ou outra invenção, você
ficaria com a sensação de desconforto e perda, se não tivesse ido ver a
novidade. Contavam o filme e muitos dos que não assisti àquela época, sei o
enredo todo, pois era o assunto principal da semana. Quantas vezes senti grande
tristeza porque não pude ir ao filme anunciado...
Muitos lembram as estórias
alegres e românticas das terças-feiras, chamadas de "sessão das
senhorinhas". (Quantas vezes estivemos lá, hein, Ilza e Ilma Frias,
quantas vezes, Leni Cipriano?). Eram filmes leves, geralmente musicais, vividos
por Debbie Reinolds, Shirley Jones, Gene Kelly, Fred Astaire e Cyd Charisse. E
os bang-bangs, com Audie Murphie, Rocky Rogers no seu belo cavalo, e com
direito a assistir à série, ao "perigo da série", e tudo o mais que
ainda repetia-se aos domingos nas matinês? Isto na década de 50, com o seriado
de Flash Gordon (que hoje eu vejo no Multishow), e o chamado "perigo da
série" vivido a semana toda pela garotada frequentadora. Geralmente nas
matinês eu chegava tão cedo junto com meu irmão e a pessoa adulta que sempre
nos levava que eu ficava contando as cadeiras ocupadas, sabendo que,
quando toda a sala estivesse lotada, aí sim, ouviríamos o sinal que
marcava o inicio da sessão.
Cedo comecei a frequentar o
Cinema Jardim, e aos cinco anos de idade, vi o filme que marcou a minha
infância: "Coragem de Lassie". Estrelado por Elizabeth Taylor, muito
jovem ainda, quase criança, e muito linda. Guardei cenas deste filme até hoje,
pouco sabendo do enredo que não entendia, no entando jamais esquecendo a figura
bonita e juvenil da atriz.
Outros que ficou gravado
foi: "Numa ilha com você", a cores, estrelado por Esther Williams, e
lembro ainda de outro em preto e branco, cujas imagens vinham à minha memória,
sem que eu pudesse identificá-la. Tempos atrás, numa sessão da tarde na TV,
reconheci as cenas e verifiquei o nome da fita. Tratava-se de uma estória de
guerra, com Robert Mitchum, intitulado Sublime Sedução. Quanta emoção senti ao
reconhecer o filme que assistira ao lado do meu pai, que tão cedo me transmitiu
o amor á sétima arte.
Quem não se deleitou na
época com os épicos: Helena de Tróia, Ulisses, ou com os religiosos: Os dez
mandamentos, Ben Hur, Quo Vadis, e outros mais? Quem pode esquecer os
dramas vividos pelos famosos Toni Curtis e Burt Lancaster em Trapézio, ou gary
Grant e Debora Kerr em Tarde Demais Para Esquecer, ou mesmo, Juventude
Transviada com James Dean, também estrelando Assim caminha a Humanidade, ao
lado do bonitão Rock Hudson? E os filmes alegres com Doris Day, comédias
românticas com Marilyn Monroe, ou a ingênua Sandra Dee? A geração dourada viveu
a época áurea de Hollywood e foi privilegiada com filmes inesquecíveis
protagonizados por atores e atrizes célebres. São tantos! todos eles assistidos
no Cinema Jardim, onde a empolgação especialmente nos faroestes nos levava a
gritar e aplaudir, quando a mocinha era salva da mão dos bandidos, pelo herói.
Era uma vibração geral. Deve ser este motivo pelo qual o filme assistido numa
sala de cinema é bem melhor, pois dividimos ou somamos emoções.
Durante muitos anos curtimos
o Cinema Jardim. Ele já fazia parte da nossa vida. Esta e a razão porque sinto
um misto de tristeza e revolta dentro de mim, quando passo em frente ao local
onde funcionava o cinema. Somente pessoas insensíveis ou desmemoriadas poderiam
permitir a modificação do prédio, transformando-o num supermercado, que
de tão pouco frequentado, logo fechou. Mas o mal já estava feito. Não somos
contra o progresso, porém este não requer sempre demolição. A beleza destruída
poderia ter sido preservada para a posteridade, com uma utilidade mais nobre,
servindo à cultura de Garanhuns. Agora é tarde demais. Por mais que construam,
por mais que façam não se restituem as ilusões perdidas, embora tentem
reencontrá-las. O sabor do passado ficou perdido para sempre. (Transcrito do Blog de Anchieta Barros).
Namorei muito ai
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