O MAIOR ESPETÁCULO DA TERRA - FILMES INESQUECÍVEIS - 100º


Os circos existem desde a antiguidade, tendo merecido destaque à época do império romano. O formato que nos conhecemos, caracterizado por uma grande lona e picadeiro, para apresentação dos artistas, data do século XVIII, numa iniciativa de um militar inglês.

O Brasil conheceria as atividades circenses no século XIX, graças aos emigrantes europeus que para aqui vieram.

Apesar de toda tecnologia, do cinema, da TV de alta definição oferecendo centenas de opções, da internet, da vida diversificada nas grandes cidades, o circo ainda sobrevive, mesmo sem a força do passado.

Há poucos anos mesmo, tivemos o lançamento do romance “Água para Elefantes”, depois adaptado para o cinema, uma tentativa de resgatar e homenagear a história dos circos. Muitos outros diretores e atores se envolveram em filmes com essa temática: temos o ótimo  "O Homem Elefante" (David Lynch), "Carrossel de Emoções (com Elvis Presley) e o brasileiríssimo "Saltibanco Trapalhões", com Renato Aragão.

Esse registro histórico do glamour e do trabalho artístico embaixo da lona foi realizado com talento e suntuosidade raros em 1952, com O Maior Espetáculo da Terra, do cineasta americano Cecil B. DeMille, um mestre das grandes produções em seu país. Esse diretor realizou quase uma centena de filmes, dentre eles os conhecidos Sansão e Dalila,  Os Dez Mandamentos, O Rei dos Reis e Cleópatra.

O Maior Espetáculo da Terra traz uma curiosidade: é considerado pela crítica especializada americana como “o pior longa a ganhar o Oscar de Melhor Filme”.

Logicamente isso é discutível, devem existir filmes piores de que o clássico de B. Demille que levaram a famosa estatueta. E se você avaliar o trabalho cinematográfico em questão como espetáculo, levando em conta atores, fotografia, música, figurinos e o objetivo de homenagear os artistas de circo, concordará que o filme é de boa qualidade, com momentos deliciosos de se ver.

Em alguma resenhas que li os articulistas desdenhavam O Maior Espetáculo da Terra por conta do roteiro, criticavam o drama envolvendo os personagens principais.

Assisti o filme recentemente (não lembro se vi a produção americana quando criança ou adolescente) e percebi facilmente que o triângulo amoroso envolvendo Braden, Holy e Sebastian é na verdade secundário. O que Cecil B. DeMille pretende mesmo é mostrar a grandiosidade do circo, com seus trapezistas, malabaristas, equilibristas, palhaços, mulheres bonitas, cantoras, dançarinas e domadores de animais diversos, como cavalos, macacos, tigres, leões e elefantes.

Na história, um grande circo americano está em dificuldades. É preciso ter criatividade e contratar artistas que atraiam o público para evitar o pior. Uma das alternativas encontradas é limitar as apresentações só às grandes cidades, cortando do roteiro de viagens os centros menores.

Os artistas discordam, querem estar com seu público em todos os lugares, principalmente nas cidades médias e pequenas. Fica subentendido que nesses locais o carinho ou a empatia com as pessoas que amam o circo é maior.

O gerente do grande circo, Brad Braden (Charlton Heston) fica ao lado dos seus empregados e contrata o trapezista Sebastian, um astro capaz de garantir o público nas apresentações, inclusive nas cidades de pequeno e médio porte.

Braden é viciado no trabalho, só pensa no circo, negligenciado o amor que sente por Holly (Betty Hutton) e aparentemente sem notar que a garota também o ama. A mocinha do filme é bastante ingênua, de uma inocência difícil de encontrar no mundo real.

Sebastian, que chega para reforçar o elenco do circo, é bonitão, extremamente vaidoso e mulherengo, com um comportamento pessoal e profissional que beira a irresponsabilidade.

Esses três personagens dominam a trama central, numa história meio bobinha que serve na verdade para expor tudo que está envolvido na vida de um grande circo. São mostrados os arriscados números de trapézio, os malabaristas e equilibristas, coreografias de diferentes regiões do planeta com mulheres belíssimas à frente, além dos animais presentes em qualquer grande espetáculo de picadeiro.

Muitas vezes o olhar da câmera do diretor passeia pela platéia: um velho que se comporta como uma criança assistindo o circo, se divertindo muito, enquanto um menino ao seu lado é estranhamente sisudo. Casais de namorados, pessoas de meia idade e a meninada em peso em êxtase: acompanhando cada lance com atenção total, alguns emocionados, quase todos felizes, livres, sem tirar os olhos do picadeiro, mesmo quando têm em mãos um gostoso sorvete ou um saco de pipocas.

Além dos atores citados, sendo o mais conhecido deles Charlton Heston (Os Dez Mandamentos, O Planeta dos Macacos, Aeroporto, Terremoto), o filme tem ainda dois ícones do cinema americano: Dorothy Lamour e James Stewart. Este último, que estrelaria depois alguns do melhores trabalhos de Alfred Hitchcock, interpreta um personagem curioso em O Maior Espetáculo da Terra: ele se “esconde” por trás de um palhaço, sempre maquiado, quando na verdade é um famoso cirurgião que matou a mulher por amor.

Em O Maior Espetáculo da Terra não vemos apenas um filme. Durante quase três horas é como se estivéssemos também dentro de um verdadeiro circo, acompanhando não só os números belos e variados que são exibidos no palco ou picadeiro, mas também tomando conhecimento do que está por trás da vida de cada artista famoso.

Cecil B. DeMille era um mestre nesses espetáculos majestosos, épicos e prova isso numa das grandes cenas do filme, quando dois trens com os artistas do circo se chocam deixando por alguns momentos a sensação de que “tudo vai acabar”. É bom lembrar que isso foi feito em 1952, sem os efeitos especiais de hoje. O realismo que o diretor conseguiu, porém, é impressionante.

O título dessa obra cinematográfica é bastante significativo. O responsável pelo longa quis realmente proporcionar um grande espetáculo e conseguiu. Com o filme e o circo, os dois juntos na tela grande, um se ancorando no outro e formando um produto único que oferece arte, graça e diversão de primeira.


FILMES COMENTADOS NESTA SÉRIE:

  1. Casablanca
  2. O Grande Ditador
  3. A Noviça Rebelde
  4. Um Sonho de Liberdade
  5. Os Brutos Também Amam
  6. Sociedade dos Poetas Mortos
  7. Janela Indiscreta
  8. Suplício de Uma Saudade
  9. ET – O Extraterrestre
  10. A Bela da Tarde
  11. E O Vento Levou
  12. Horizonte Perdido
  13. Gladiador
  14. Silêncio dos Inocentes
  15. Ladrão de Bicicletas
  16. Cidade de Deus
  17. Sexto Sentido
  18. Titanic
  19. O Segredo de Brokeback Mountain
  20. Central do Brasil
  21. Um Estranho no Ninho
  22. Noivo Neurótico, Noiva Nervosa
  23. 2001 – Uma Odisséia no Espaço
  24. Cinema Paradiso
  25. A Felicidade não se Compra
  26. Peg Sue – Seu Passado a Espera
  27. Perfume de Mulher
  28. Tropa de Elite
  29. Rain Main
  30. O Poderoso Chefão
  31. Em Algum Lugar do Passado
  32. Luzes da Cidade
  33. Eles não usam Black-Tie
  34. O Planeta dos Macacos
  35. 2 Filhos de Francisco
  36. A Queda – As Última Horas de Hitler
  37. Forrest Gump
  38. Filadélfia
  39. O Exorcista
  40. A Testemunha
  41. Adorável Professor
  42. Gandhi
  43. Mandela – A Luta pela Liberdade
  44. O Pagador de Promessas.
  45. O Expresso da Meia Noite
  46. As Pontes de Madison
  47. Ben Hur
  48. Encurralado
  49. Amadeus
  50. Carandiru
  51. Os Dez Mandamentos
  52. A Mão que Balança o Berço
  53. O Óleo de Lourenzo
  54. Coração Valente
  55. Vidas Secas
  56. Uma Linda Mulher
  57. Ghost
  58. 10 obras primas contemporâneas
  59. Anatomia de um crime.
  60. Alcatraz – Fuga Impossível
  61. Um Corpo que Cai
  62. Kramer versus Kramer
  63. A Festa de Babette
  64. Carrie a Estranha
  65. O Discurso do Rei
  66. Gritos do Silêncio
  67. Laranja Mecânica
  68. Lawrence da Arábia
  69. Tempero da Vida
  70. O Quatrilho
  71. O Bebê de Rosemary
  72. Gritos e Sussurros
  73. Zorba, o Grego
  74. O Último Imperador
  75. Pixote – A lei do mais fraco
  76. Assim Caminha a Humanidade
  77. Pra Frente Brasil
  78. Sete Anos no Tibete
  79. Sem Destino
  80. Sob o Domínio do Medo
  81. Z
  82. Cidadão Kane
  83. Cleópatra
  84. Incêndios
  85. A Vida é Bela
  86. Doutor Jivago
  87. A Missão
  88. Crepúsculo dos Deuses
  89. Os Imperdoáveis
  90. Os Incompreendidos.
  91. O Homem que matou o facínora
  92. Carlota Joaquina
  93. O Nome da Rosa
  94. O Advogado do Diabo
  95. O Dia em que a Terra parou
  96. Psicose
  97. Feitiço de Áquila
  98. Tomates Verdes Fritos
  99. Lanternas Vermelhas
  100. O Maior Espetáculo da Terra

5 comentários:

  1. PARABÉNS ROBERTO ALMEIDA;SOU UM ROMÂNTICO INCORRIGÍVEL E SAUDOSISTA, LEVASTE-ME A UM PASSADO QUANDO RECORDO-ME NA ÉPOCA ADOLESCENTE,NO CINE JARDIM EM GARANHUNS ASSISTI O MAIOR ESPETÁCULO DA TERRA.E DENTRE OS DEMAIS FILMES QUE CITAS, ASSISTI;E O VENTO LEVOU-CLEÓPATRA-ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE-OS DEZ MANDAMENTOS E O PODEROSO CHEFÃO.E CONFESSO QUE GOSTEI.

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    1. Amigo Saul,

      Também sou romântico incorrigível e saudosista. Quando você citou que assistiu o filme que comentei hoje no antigo Cine Jardim me senti recompensado. E todas as obras que o você cita são imperdíveis.

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  2. Parabéns pela série creio que não a colocastes como os 100 melhores filmes da História.Mas, sem dúvidas seu gosto pela dúvidas seu gosto pela 7ª Arte é incontestável, um cinéfilo de carteirinha, e viva a Verdadeira Arte.Em tempo, desta lista não assisti 5 filmes, que agora vou correr atrás para conseguir. Um abraço.

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  3. Valeu Augusto. Alguns desses filmes podem ser encontrados na lojas Americanas local, pelo preço de uma entrada de cinema. E você ainda vai enriquecendo a coleção. Outros é possível baixar pela internet. Na rede você encontra tudo. Grande abraço.

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  4. Parabéns pela lista.

    Estou montando minha lista de favoritos também, acho que temos em comum pelo menos uns 60 filmes, a ordem é que muda um pouco. Vou atrás de alguns que não conheço de sua lista. Também amo a 7ª Arte.

    Eliano Gonçalves de Oliveira
    São José dos Campos / SP

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