VIDA DE JORNALISTA

Ser jornalista tem vantagens e desvantagens para quem faz da profissão um sacerdócio. O lado negativo passa pela remuneração, que ainda é pequena, mesmo nas capitais, o estresse, pois se é repórter 24 horas por dia, de domingo a domingo. Se você leva a coisa a sério também contraria muitos interesses, podem pegar no teu pé e até ameaçar sua vida.

O lado positivo: o jornalista é um apaixonado pelo que faz, trabalha como quem está se divertindo. Cada matéria, uma nota, um furo de reportagem, é semelhante ao gol marcado numa partida de futebol. O profissional conhece muitas pessoas, aparecem oportunidades de viagem e normalmente pode transitar entre todas as classes. Nas cidades maiores um bom repórter, uma pessoa que conseguiu credibilidade, é respeitada, muitos valorizam o trabalho realizado.

Vou dar exemplos a partir da minha trajetória. Uma pessoa que nasceu numa cidade pequena como Capoeiras, chegar próximo e até trabalhar com alguns figurões, como aconteceu comigo, é gratificante.

Fui assessor de Marcos Freire antes dele ser nomeado presidente da Caixa Econômica Federal e depois Ministro da Reforma Agrária. Fui Subsecretário de Imprensa de Carlos Wilson, Chefe da Divisão de Rádio e Editor na TV Pernambuco, no segundo Governo Arraes.

Como repórter, apertei a mão e entrevistei quatro brasileiros que chegaram à presidência da República: Fernando Collor, que um dia apareceu na TV Pernambuco quando ainda era um mero azarão na disputa presidencial de 1989; José Sarney entrevistei sem nenhum problema para a Rádio Clube em 1984. Ele era apenas o vice de Tancredo, no dia em que fiz a matéria ninguém queria saber dele. Fernando Henrique Cardoso, então senador por São Paulo, me foi apresentado pela deputada Cristina Tavares, na Assembleia Legislativa de Pernambuco; a parlamentar disse uma coisa que nunca esqueci: "Ele é muito inteligente, mas muito burguês".

O outro político que entrevistei foi o presidente Lula. Ele era apenas candidato, em 2002, pintando como favorito para ganhar a disputa. Cheguei atrasado no Hotel Tavares Correia e sua assessoria não queria deixar eu gravar, pois os outros profissionais de Garanhuns tinham feito o seu trabalho e eu tinha "perdido a hora".

Briguei com Ricardo Kotscho e Duda Mendonça mesmo estando errado - vejam só que atrevimento -, mas valeu a pena. O próprio Lula resolveu conversar comigo, conceder a entrevista. E foi um papo bom, longo e exclusivo de mais ou menos 20 minutos. Devia estar nos meus arquivos, como documento histórico. Sabem o que aconteceu? Deu um problema no gravador e a fita não registrou nada. Quase morro de frustração.

Mas estive com Lula, com Brizola, Luiz Carlos Prestes, Francisco Julião,  Ulisses Guimarães, Collor, Sarney, Tancredo, Ulisses Guimarães, Fernando Henrique e tantos outros que fizeram historia no Brasil. E estar junto desses líderes gratifica qualquer um na condição de jornalista ou como simples cidadão.

Pra ninguém não me acusar de estar mentindo ou contando vantagens - não é essa minha intenção, sei administrar bem a minha vaidade - tenho pelo menos algumas fotos registrando esses momentos: Acima, numa conversa com o velho e bom Ulisses Guimarães - a quem esse Brasil deve muito - e numa entrevista com o presidente Lula, feita aqui em Garanhuns.