Nesta mesma série já tivemos a
oportunidade de escrever sobre o nazismo e citar alguns grandes filmes
relacionados com o tema. Voltamos ao assunto, que precisa estar sendo lembrado,
para que as pessoas se conscientizem do horror praticado pela Alemanha de
Hitler, com seus seguidores na Itália, no Japão e em outros países. O próprio
Getúlio Vargas, que era presidente do Brasil quando estourou a segunda guerra
mundial, esteve de namoro com os fascistas, mudando de posição quando os
aliados começaram a inverter a situação e garantiram a vitória da democracia e
da liberdade.
Tanto quanto os livros o cinema vai fundo ao examinar as
raízes do nazismo e suas conseqüências. Charles Chaplin, que era um gênio,
antes mesmo da invasão dos países da Europa e início da guerra, previu tudo no
excelente O Grande Ditador. O longa, já resenhado neste blog, como que antecipa
o que estava por vir. Faz uma caricatura de Hitler, mostra que ele é um louco,
dá um recado bastante objetivo: “Esse sujeito vai levar o mundo ao caos, ao
sofrimento, à loucura”. Mas a própria Inglaterra e França, as potências da
época, fecharam os olhos à ascensão do ditador alemão, não o levaram tão a
sério e imaginaram que o nazismo poderia ser usado contra o “mal maior", o
comunismo.
“A Queda – As Últimas Horas de Hitler”, também avaliado
nesta série “Filmes Inesquecíveis”, é quase que um documentário. Mostra o
nazismo por dentro, os últimos momentos de Adolfo e seus seguidores fanáticos,
o final da segunda guerra mundial.
“A Vida é Bela”, que examinamos hoje, é um dos trabalhos
mais originais a respeito da aventura nazista. Muitas leituras podem ser feitas
sobre este filme, inclusive pode se acusar o diretor, como já fizeram, de
tentar emoldurar as atrocidades dos alemães.
Revendo o longa do italiano Roberto Benigni, fico convencido
de que o cineasta, acostumado à comédia, usou o seu talento no gênero para
denunciar a barbárie de uma outra forma, da sua maneira e como que dizendo: “o
que está acontecendo é tão terrível, é tanta a maldade, são tantos os crimes,
que as crianças não devem saber”.
A Vida é Bela começa quase como uma história de amor, com
toques de comédia pastelão. Guido (interpretado pelo próprio Benigni), se
apaixona pela jovem e bela Dora, que estava comprometida para se casar com um
rapaz ligado à burocracia fascista italiana.
Uma das cenas interessantes do filme é quando o personagem
entra no salão com um cavalo, todo pintado de verde e rouba a moça do seu
futuro esposo. Para desespero da mãe de Dora, esta prefere o amalucado contabilista
judeu, deixando o homem que iria oferecer à filha um futuro sem atropelos.
Ela casa, tem um filho e Guido continua o mesmo. Sonhador,
sem grandes perspectivas, oferecendo a mulher uma vida modesta.
Então vem a guerra, a perseguição aos judeus e Guido é
levado para um campo de concentração, juntamente com o filho Giosuè.
Os momentos mais densos e mais dramáticos de A Vida é Bela
se passam no campo de concentração. Os prisioneiros são explorados, espancados,
assassinados. As crianças são levadas para o “chuveiro” para morrer.
Todos mal alojados, com uniforme os identificando como
judeus, marcados com um número no braço, sem esperança no amanhã.
Como salvar o filho e encobrir dele o que está acontecendo?
Como salvá-lo para Dora, que também está no campo de concentração (fez questão
de ser presa para estar perto do marido)?
Guido transforma tudo num conto de fadas, num jogo. A
realidade bruta vira fantasia, de maneira que o filho não sinta tanto a fome, o
desconforto, não perceba que os soldados alemães estão torturando e matando
seres humanos só por serem judeus.
Guido é engraçado e trágico. Giosuè é tocante. O filme
provoca reflexões e um riso contido, que pode levar ao choro. Afinal de contas
como achar divertido o comportamento cruel dos nazistas e os sofrimentos de suas
vítimas?
O título do filme esconde uma grande indagação ou ironia:
Como a vida pode ser bela com a existência da guerra, com a morte rondando,
tanta gente sofrendo, com homens como Hitler e Mussolini querendo dominar o
mundo?
Guido vai para o sacrifício. Por seu filho e pela sua Dora.
Quem sabe no amanhã mulher e filho poderão ser felizes, poderão viver o conto
de fadas inventando pelo personagem?
Quem sabe depois que a guerra terminar, com a derrota do
nazifacismo, aí então a vida poderá ser mesmo bela?
Alguns críticos viram em Roberto Benigno, em seu trabalho,
influência de Chaplin e de Frank Kapra. Do primeiro a utilização do humor para
tratar de uma questão tão delicada. Do segundo a crença nos homens, a opção
pelo otimismo mesmo quando surgem as piores situações.
Chaplin e Kapra (ver nesta série A Felicidade não se compra)
a meu ver foram maiores do que o diretor italiano. Mas Roberto Benigno também
fez um belo filme e não foi à toa que comoveu milhões de pessoas pelo mundo e
conquistou dezenas de prêmios com seu trabalho. Ganhou inclusive o Oscar de
Melhor Filme Estrangeiro de 1999, derrotando o nosso Central do Brasil. Se fez
justiça. A produção brasileira era (é) de alto nível, mas foi superada por esta
obra instigante do italiano.
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