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A FESTA DE BABETTE - FILMES INESQUECÍVEIS - 63º

Certamente são poucos os filmes dinamarqueses conhecidos dos brasileiros. Este país europeu rico e belo, conhecemos mais através das imagens nos livros, nas revistas, na TV e um pouco no próprio cinema. Não sei se os leitores deste blog têm as mesmas impressões deste que vos escreve: quando leio ou vejo qualquer coisa a respeito da Dinamarca, Noruega, Holanda, Bélgica, Suécia e Suíça, sempre imagino lugares bonitos e civilizados; terras habitadas por pessoas sem problemas materiais, que de há muitos superaram as crendices e preconceitos que atormentam nós pobres terceiro-mundistas.

A Dinamarca, por vezes, surpreende com uma boa seleção disputando a Copa do Mundo, embora nunca tenha chegado muito longe, caso da Holanda, três vezes vice-campeã do torneio que reúne os melhores times do planeta.

Vamos ao que interessa, porém, pois o papo aqui é sobre cinema, embora não tenha conseguido resistir à tentação de escrever algo sobre esses países que encantam tantos com seu alto padrão de vida e belezas naturais.

A Dinamarca conseguiu, em 1988, chamar a atenção de Hollywood. O que significa atrair sobre si as atenções do mundo ocidental. Um filme de inegável qualidade artística, “A Festa de Babette”, dirigido por Gabriel Axel, ganhou o Oscar de melhor longa estrangeiro daquele ano e conquistou a admiração de todos com um mínimo de sensibilidade para apreciar uma verdadeira obra prima.

O filme é baseado num conto curto da escritora dinamarquesa Isak Dinensen, que o escreveu usando o pseudônimo de Karen Blixen. Por que não usou seu próprio nome? Ora, porque na época em que escreveu seus livros uma mulher dedicada à escrita poderia ser considerada um sacrilégio.

“A Festa de Babette” conquista a partir do início, com a história ambientada num pequeno vilarejo dinamarquês, afastado dos grandes centros da época e do “desenrolar da história”.

Neste lugar isolado duas irmãs, Martina e Philippa, moram com o pai, um rigoroso pastor luterano, que vive de acordo com um conjunto de regras rígidas que irão perdurar mesmo após a sua morte.

Tanto Philippa quanto Martina tiveram pretendentes, quando eram jovens e formosas. Talvez devido a vida ascética que levavam, ficaram solteiras e os homens que tentaram entrar em suas vidas – um militar de alta patente, no caso de uma, e um cantor lírico, da outra – terminaram tomando outro rumo.

Muitos anos depois, Martina e Philippa já maduras, chega ao lugarejo e a casa das duas mulheres uma jovem chamada Babette. Vinha fugindo da guerra civil que eclodira na França e trazia uma carta de recomendação de Achilles Papin, justamente o cantor lírico que se apaixonara por uma das irmãs.

A francesa passa a servir as duas irmãs e entre as três se estabelece um relacionamento fraterno, embora de poucas palavras e revelações. A vida segue na casa simples da vila, sem grandes acontecimentos e sem notícias do “mundo lá fora”.

Babette, no entanto, mantém uma ligação com a França, o mundo que trocou por esse exílio numa aldeia esquecida na costa da Dinamarca. Todos os anos um bilhete de loteria é renovado por uma amiga fiel.

Até que um dia, pegando personagens e expectadores de surpresa, Babette é premiada. Dá para entender que ficou rica, possivelmente vai abandonar as irmãs, a essa altura inteiramente apegadas à boa serviçal.

A francesa, contudo, que tinha trabalhado como cozinheira num grande restaurante de Paris, pede a Martina e Philippa para fazer um jantar em homenagem ao pastor, que se vivo fosse estaria completando 100 anos.

A partir daí, o filme se desenrola num outro ritmo, as novidades invadem a casa e a vila onde nunca acontece nada de interessante, de modo que a irmã e os moradores ficam um poucos “assustados”.

Os preparativos do jantar perturbam as irmãs, acomodadas a uma vida seguida à risca pelo manual do antigo pastor.

O jantar ou a festa, proporcionada por Babette, se constitui na verdade num ato revolucionário. As comidas preparadas, os vinhos, a forma como a mesa é posta, tudo requer um trabalho de muito esmero, feito com amor e arte.

Babette mostra que existe outro mundo, que é possível o prazer, que é possível transgredir e ser feliz.

A história é uma metáfora, possibilita leituras diversas e provoca uma reflexão que transcende os diálogos, as imagens, a interpretação dos bons atores do filme, principalmente os três personagens básicos: Stéphane Audran, Brigitte Federspiel e Bodil Kjer.

Imaginem os senhores (as) que apenas uma vez assisti este filme, no final da década de 80. Mesmo assim, guardo na memória a competente condução do longa pelo cineasta, a interpretação excepcional das três mulheres, o clima da casa e do vilarejo da Dinamarca, o comportamento simbólico e marcante de cada personagem.

Não é porque ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro ou porque a crítica especializada incensou que a “A Festa de Babette” merece entrar nesta relação de grandes e boas produções do cinema. Acontece que este longa realmente está muito acima da média e pode ser considerado um dos melhores produtos artísticos da sétima arte dos últimos 30 anos.

Um filme de arte. Sem ser “cabeça” demais, sem em nenhum momento enveredar pela monotonia. Eu diria até que pode ser popular e agradar pessoas não tão familiarizadas com as sutilezas de uma obra com intenções artísticas.

A “Festa de Babette” é uma celebração da vida e do cinema de qualidade.

2 comentários:

  1. sem sombra de duvida uma perola do cinema,nao canso de assisti-lo

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  2. Nossa estou procurando esse filme e não encontro em nenhum site para assistir, se alguém souber me diga por favor

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