O SHOW DE PAULA FERNANDES EM GARANHUNS

No segunda-feira a responsável pela venda de ingressos no Coluna Café antecipava que os ingressos estavam saindo bem. Admitia, no entanto, que o público poderia ser bem maior se o show fosse num sábado. Confessava, indiretamente, que a Arena Hall Garanhuns não estaria lotada, no 8 de setembro. Passado o feriado, no entanto, o movimento na quinta-feira cresceu bastante, à tarde havia sempre uma pequena fila.

Poucos depois das 21h o tráfego de veículos já era enorme nas imediações da Casa de Show.

Depois das 22h a Arena começou a encher. No grande salão, embaixo, em toda sua extensão, principalmente próximo ao palco. Na área denominada Tapete Vermelho, que não tinha nada disso, apenas umas cadeiras cor laranja e um piso em tábua acinzentado, os vips ocuparam todos os espaços. As bandas que tocaram antes ninguém prestou atenção, todos aguardavam a estrela da noite.

Paula Fernandes somente se apresentou e começou a cantar perto de 1 hora da manhã. A maioria achou que valeu a pena a espera. A menina apareceu com um belo visual, os cabelos soltos, o sorriso característico e uma sainha branca que o José Fernandes Costa teria adorado. Ela, meus caros leitores, é a falsa magra perfeita, com um corpo que não dá para deixar de olhar, apesar da bela voz. Por sinal, "ao vivo e em cores", como se costuma dizer, o vocal tem um tom ainda mais masculino do que no disco ou na TV.

Não conheço o repertório da artista. Sei que ela regravou Tocando em Frente (de Renato Teixeira e Almir Satter) e Índia (Cascatinha e Inhana) e ficou bonito no seu vozeirão. Estou informado também que emplacou algumas canções em novelas da Globo que fizeram o maior sucesso. Uma delas, Pássaro de Fogo, de sua própria autoria, é uma canção muito bonita. Assim, não identifiquei a maioria das músicas. Percebi, no entanto que a mocinha de Sete Lagoas iniciou o show numa linha pop, alguns dos primeiros números eram quase rock e impressionavam, principalmente porque o cenário, parecendo um quadro caprichado, remetendo à natureza, ajudava bastante no visual.

O público delirava a cada música e - impressionante - quase todo mundo cantava junto, sabia de cor cada canção. E nunca vi tanta câmera digital numa mesma noite. Eram milhares flagrando aquele momento único. Paula com uma ótima presença de palco, tendo os fãs na mão, às vezes deixava de propósito a cargo dos presentes entoar determinados versos. Mais na frente o repertório deu uma guinada e ficou mais brega, sertanejo e algumas coisas pareciam forró estilizado. Depois de botar todo mundo para dançar, mudou novamente e ficou mais romântica. E as pessoas gostando, se acotovelando para vê-la mais de perto.

Uma pessoa me informou duas coisas que não sei se são corretas. Depois posso checar com o Geraldo do Bloco o Bicho. Disse que na Arena Hall cabem 12 mil pessoas. Se assim for, nesta quinta tinham pelo menos 10 mil. Informou ainda que o show da estrela do momento na MPB custou R$ 240 mil. É muita grana. Nenhum dos bons artistas que se apresentou no último Festival de Inverno deve ter recebido nem metade disso.

Enfim, saí antes da apresentação acabar. Quem esperou pelo fim deve ter passado pelo menos uma hora no pequeno trecho da BR até a entrada de Garanhuns. Foi bom ver a Paula Fernandes de perto, conferir sua performance no palco, vê-la dançar com um jeito de menina desajeitada e gracioso, cantar com uma facilidade que espanta. Ela não faz o mínimo esforço para nos brindar com sua canções, sejam elas belas ou apenas barulhentas.

Não dá para negar que tem carisma, talento e caiu no gosto do povão. No momento (ninguém sabe se o fenômeno vai durar) é o Roberto Carlos do Século XXI. De saia curta e repertório mais eclético, embora sem a capacidade de estar tão sintonizado (o repertório) com os brasileiros como as canções do Rei nos anos 60 e 70. De qualquer modo é válido que nesses tempos de pirataria dominante, falência do mercado de disco e artistas fabricados e descartáveis apareça uma moça cantando de verdade, apresentando um produto com alguma qualidade e chegando ao coração do povo.

Alguns torcem o nariz. Acham que cantor bom é aquele que agrada só a meia dúzia. Ou escritor que produz só para si mesmo e quatro amigos altamente intelectualizados. Besteira. Paula Fernandes é muito melhor do que Luan, Zezé de Carmargo e irmão, Chitãozinho e Chororó, Vítor e Léo e todos esses  que mídia incensou dos anos 80 até hoje. A cantora, porém, embora atinja um público maior, no momento, está longe da voz de Betânia, de Simone como intérprete, da força de Nana Caymi, do bom gosto de Adriana Calcanhoto ou Marisa Monte, da doçura de Gal Costa ou Vanessa da Mata.

Ela poderia ser melhor, mas aí não teria tanto público. É, não é nada demais deixar essa menina agradar as massas.

Foi um bom show para Garanhuns.