O movimento realista foi radicalizado com o surgimento do naturalismo. Neste, escritores, teatrólogos, pintores buscavam expressar a realidade influenciados pelo evolucionismo de Charles Darwin. A ciência passou a ditar as normas dos artistas ligados a esta corrente literária.
Émile Zola, francês, autor do romance Germinal, foi o grande nome do naturalismo em termos mundiais.
No Brasil, o maior representante desse momento da literatura foi o maranhense Aluísio Azevedo. Embora tenha começado a escrever como romântico e tenha publicado diversas obras ligadas à esta escola para garantir a sobrevivência, foi com sua adesão aos naturalistas que consolidou o seu nome entre os grandes romancistas do país.
Estreou com “Uma lágrima de mulher”, em 1880. O título já diz tudo, é um livro romântico, da mesma forma que o eram os romances de Joaquim Manoel de Macedo (A Moreninha) e boa parte da obra de José de Alencar.
Em 1981, porém, Aluísio Azevedo publicou “O Mulato”, que causou escândalo em São Luís. O livro traz um posicionamento claro a favor da abolição da escravatura e investe contra o clero, do qual o escritor era um crítico mordaz.
Mesmo com os problemas que enfrentou na terra natal, o escritor ganhou notoriedade com o livro e pode se mudar para o Rio de Janeiro.
Além de bom escritor, Aluísio Tancredo Belo Gonçalves Azevedo era um excelente desenhista. Na então capital federal, colaborou com os jornais como caricaturista, contista e publicou suas principais obras, através de folhetins. Assim como o irmão mais velho, Artur Azevedo, o autor de “O Mulato” também escreveu peças teatrais.
Seus maiores romances – O Mulato, Casa de Pensão e O Cortiço – são todos naturalistas. Nesses livros o autor se preocupa com a questão do preconceito de cor, a vida dos pobres nos cortiços, habitações coletivas sem muito conforto, talvez semelhante às favelas de hoje.
Depois de publicar mais de 20 livros, Azevedo passou num concurso para diplomata e abandonou a Literatura. Morou em diversos países e se fixou por último na Argentina, onde veio a falecer em 1913, aos 56 anos, na cidade de Buenos Aires. Foi sepultado no país vizinho, mas depois seu corpo foi transportado para São Luiz do Maranhão.
Escolhemos um pequeno trecho de O Cortiço, para que o leitor possa conferir a boa prosa, o estilo elegante de Aluísio Azevedo, certamente um dos grandes nomes da literatura nacional em todas as época.
“Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pêlo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário