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ESCRITORES BRASILEIROS 4º - LIMA BARRETO

Lima Barreto viveu apenas 41 anos. O álcool, a depressão, o reumatismo, o somatório de sofrimentos e frustrações acabaram cedo com um dos mais notáveis escritores do Brasil.

Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro, em 1881 e morreu em São Paulo, em 1922, o ano da Semana de Arte Moderna, que marcou o início da renovação literária no país.

O pai do escritor, Joaquim Henriques, nasceu escravo e a mãe, Amália Augusta, era filha de uma escrava. Essa herança seria um peso na vida de Lima Barreto. Num Brasil pós abolição da escravatura e pós monarquia, lutaria contra os preconceitos, a hipocrisia, a corrupção e o elitismo.

Afonso Henriques teve oportunidade de estudar. Frequentou o Colégio Pedro II, que era a melhor escola pública do país na época e tentou se formar em engenharia. Conseguiu apenas o curso de Mecânica, pois teve que ajudar o pai a criar os irmãos. A mãe do escritor morreu quando ele tinha apenas sete anos de idade.

Lima Barreto começou a escrever bastante jovem e teve uma vida ativa como colaborador da imprensa carioca. Publicou artigos e reportagens nos mais diferentes jornais e revistas da época, como o Correio da Manhã e o Jornal do Commercio (do Rio de Janeiro).

O primeiro romance publicado na íntegra foi “Recordações do Escrivão Izaías Caminha”. É um livro valioso, em tom de diário, de conteúdo autobiográfico. Barreto faz uma crítica impiedosa a própria imprensa, à sociedade, aos políticos. Quem já trabalhou numa redação de jornal vai se identificar e chegará à conclusão que as coisas não mudaram tanto. Existem hoje, como no início do século passado, dezenas de vaidosos, pernósticos, bajuladores e carreiristas, espalhados na mídia e nos parlamentos.

Lima Barreto escreveu também Clara dos Anjos, Os Bruzundangas, Cemitérios dos Vivos, Vida e Morte de J.S. Gonzaga e Triste Fim de Policarpo Quaresma.

Embora Clara dos Anjos seja o primeiro dos livros do autor carioca, só foi publicado inteiramente após a sua morte. É um livro que discute abertamente a questão do preconceito racial no Brasil. Em Os Bruzundangas, Lima cria um país fictício em que as elites cultas dominam e exploram o povo. Em tudo esse lugar imaginário é parecido com o nosso país. O escritor chega a se referir a “arte de furtar” se referindo aos espertalhões da época que hoje estão tão presentes na vida pública e investe, também, contra as escolas literárias, os intelectuais rígidos demais no uso da gramática, incapazes de compreender a importância da cultura oral e do uso coloquial da escrita.

O autor também se destacou como contista e uma de suas mais famosas histórias é “O Homem que sabia Javanês”, onde satiriza o falso saber. Nesta pequena obra prima o escritor mostra um personagem que se destaca, ganha fama e respeito por falar um idioma raro, conhecido no Brasil talvez só por ele. Na verdade o javanês é uma invenção, uma língua criada pelo falso intelectual, que não passava de um “picareta” das primeiras décadas do século passado.

“Triste Fim de Policarpo Quaresma”, publicado em 1915, é o livro mais conhecido de Lima Barreto. Virou um clássico da literatura nacional, já tendo sido adaptado para a televisão e o cinema. O major Quaresma, personagem principal do romance, é considerado por alguns críticos como um Dom Quixote brasileiro, na sua luta pela justiça, a verdade e contra as mazelas nacionais.

Lima Barreto viveu o bastante para tomar conhecimento da revolução russa, da qual foi simpatizante, tendo sido o primeiro escritor brasileiro a atrelar seus livros às causas sociais. Criticado pela linguagem “desleixada”, o escritor na verdade procurou uma linguagem mais coloquial, mais acessível, sem os preciosismos dos movimentos parnasiano e naturalista.

O autor de “Recordações do Escrivão Izaías Caminha” é um precursor dos modernistas de 1922, que revolucionariam a Literatura Brasileira e nos dariam escritores do porte de Mário de Andrade, Osvald de Andrade, José Lins do Rego, Érico Veríssimo, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade.

Abaixo um trecho do significativo romance “Triste Fim de Policarpo Quaresma”.

"Iria morrer, quem sabel naquela noite mesmo? E que tinha ele feito de sua vida? Nada. Levara toda ela atrás da miragem de estudar a pátria, por amá-la e querê-la muito bem, no intuito de contribuir para a sua felicidade e prosperidade. Gastara a sua mocidade nisso, a sua virilidade também; e, agora que estava na velhice, como ela o recompensava, como ela a premiava, como ela o condenava? Matando-o. E o que não deixara de ver, de gozar, de fruir, na sua vida? Tudo. Não brincara, não pandegara, não amara - todo esse lado da existência que parece fugir um pouco à sua tristeza necessária, ele não vira, ele não provara, ele não experimentá-la. Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois se fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz”.

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