José Martiniano de Alencar nasceu em Mecejana, no Ceará, em 1929. O pai, que tinha o mesmo nome, foi senador da República. O futuro escritor estudou direito e advogou, exerceu a atividade jornalística, tentou a vida política, porém viria a se consagrar mesmo como escritor. Cronista, dramaturgo e romancista, o cearense é um dos maiores nomes da literatura brasileira até hoje. Morreu com apenas 48 anos de idade, no Rio de Janeiro, em 1877.
Uma parte da crítica literária brasileira acredita que Machado de Assis, o gênio do realismo, e José de Alencar, a expressão máxima da fase romântica da literatura nacional, influenciaram profundamente tudo que veio depois deles.
De acordo com essa visão dos escritores em tela, duas correntes ou dois estilos se formaram a partir das obras do carioca e do cearense. José de Alencar praticamente fazia poesia em prosa, seus textos são quase que musicais, encantam os leitores com a discrição dos costumes, ambientes e mulheres de sua época.
Particularmente considero encantador o romance Senhora, que li a primeira vez com 18 anos de idade e fiquei apaixonado por toda beleza do personagem de nome Aurélia, que Alencar, como se fosse um mestre da pintura, nos mostra radiante, viva, inteligente e transparente. Reli já depois dos 50 anos e não mudei minha visão. Mesmo com todos os exageros da fase romântica da literatura brasileira é um livro belíssimo.
Este estilo poético de escrever de José de Alencar vai se refletir mais tarde em outros grandes escritores, inclusive em Jorge Amado , o mais popular dos autores brasileiros até hoje.
Ao contrário do autor de O Guarani, Machado era filosófico, centrado na psicologia dos personagens, optando por um estilo em que o texto era trabalho quase que à perfeição. Muitos beberam na fonte do “bruxo do Cosme Velho”, embora ninguém o tenha igualado até hoje. Um escritor dessa corrente ou estilo Machadiano é o pernambucano Osman Lins, natural de Vitória de Santo Antão.
Voltando a Alencar, merece destaque a produção literária dele com preocupações históricas (Guerra dos Mascates, As Minas de Prata), o regionalismo (O Gaúcho), os costumes (Diva, Lucíola e Senhora) e a figura do índio brasileiro. Particularmente conhecido é Iracema, que como outros trabalhos do escritor já recebeu diversas adaptações para o teatro, cinema e televisão.
Abaixo uma mostra da linguagem poética de José de Alencar ao descrever Iracema.
"Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.
Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto.
Iracema saiu do banho; o aljôfar d'água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste".
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