LAVAGEM CEREBRAL

Como escreveu outro dia o jornalista Ricardo Kotscho, quem chegar de fora ao Brasil vai tomar um susto. Vai pensar que o país está vivendo uma guerra religiosa e estamos a um passo de voltar à Idade Média. A discussão sobre como foram os governos de Lula e FHC, as propostas dos candidatos José Serra e Dilma Roussef, passaram absolutamente para o segundo plano. A população como que sofreu uma lavagem cerebral e só pensa neste momento em aborto, quem é mais ou menos beato, qual dos dois candidatos será capaz de salvar os brasileiros do perigo do inferno. Os avanços da medicina, das ciências, a tecnologia dos celulares, dos computadores e da internet foram num instante jogados no ralo. Parece que o fanatismo dos talibãs dominou a população e falta pouco para exigirem as mulheres usando burkas, aquelas roupas esquisitas cobrindo as representantes do sexo feminino dos pés a cabeça. Nem os olhos elas têm o direito de mostrar. As igrejas, com sua visão moderna, vão dando uma ajudinha a esse debate com os olhos voltados para o passado. Os católicos, que queimaram Joana Darc e Giordano Bruno, acusados de bruxaria, estão com saudades da Santa Iquisição. Se a campanha for esticada até dezembro, Dilma Roussef poderá ser satanizada até o ponto de exigirem nas ruas uma fogueira para ela também. O bolsa família, as universidades espalhadas pelo Brasil, a atuação da Polícia Federal, a descoberta do pré-sal, o investimento forte em saneamento, a conquista da Copa e das Olimpíadas, a ascensão dos pobres e da classe média, a criação de empregos... Nada disso mais tem importância. Estão virando todos fundamentalistas fanáticos e só falta  os suicidas em aviões, como nos Estados Unidos do 11 de setembro de 2001. Quando acontecem lavagens cerebrais como estas, corremos riscos de retrocessos. Serra, pelo menos não acredito nisso, não é um facista, não tem o nazismo no seu DNA. Mas a sua campanha parece coisa dos anti-comunistas doentes do período pré-64, permite gestos obscenos, como os dos apaixonados por Hitler. Se até sua mulher, Mônica Serra, vem a público e diz: "Dilma mata criancinhas" e ninguém enxerga o absurdo dessa situação é porque realmente estamos dopados. Todos só voltarão ao normal, à realidade, após as eleições, quando surgir o vencedor ou a vencedora. E quando os eleitos forem empossados. O perigo é que essa onda de alienação, distorções dos fatos e mentiras continue em 2011. Espero que os brasileiros, quando acordarem, não venham a sentir muitas saudades da Era Lula, no futuro. (A imagem da ilustração foi mandada por e-mail. Essa edição da Veja não encontrei, o que sinaliza para uma montagem. A revista, no entanto, tem feitos coisas bem parecidas, neste espírito aí: satanizando Dilma e o PT, santificando Serra e seus aliados).