(Ao clicar no nome do artista, acima, você acessa um vídeo
com Milton e Chico cantando Cálice)
com Milton e Chico cantando Cálice)
Nesta série que estamos escrevendo há mais de um ano, sobre os Grandes Nomes da Música Popular Brasileira, é oportuno hoje focar na figura de Francisco Buarque de Hollanda. Isto porque, em ano político estão tentando desqualificar o compositor, o teatrólogo e o escritor, por conta de sua adesão a uma determinada candidatura presidencial. Algumas pessoas que não compartilham de seu posicionamento ideológico, desconhecem ou esqueceram todo o legado desse grande artista às artes e a cultura nacional. Chegaram a escrever, sem saber o que fazem nem o que dizem que “Chico é um bom compositor, um escritor medíocre e um idiota público”.
Possivelmente, os equivocados estão fazendo eco ao jornalista Diogo Mainardi, colunista da Revista Veja, que na tentativa de ganhar notoriedade, tempos atrás, atacou Chico Buarque querendo desmerecer toda sua obra. O autor de A Banda é respeitado no Brasil e exterior, é um excelente compositor, dos melhores que esse país já teve desde que Pedro Álvares Cabral aportou por aqui, além de bom escritor de peças teatrais e romances. Devemos destacar, ainda, o grande caráter dessa figura que nunca se meteu em polêmicas ou brigas, nunca prejudicou ninguém e ao longo de uma carreira de mais de 40 anos só fez amigos e parceiros, contribuindo com a carreira de muitos outros cantores e cantoras.
Ao anunciar seu apoio à candidatura de Dilma Roussef, na eleição de 2010, Chico Buarque apenas mostrou a coerência política de um homem que sempre defendeu uma mesma linha ideológica e filosófica. Compôs músicas e foi às ruas contra a ditadura militar do Brasil, fez canções para saudar a Revolução dos Cravos, em Portugal, esteve presente na campanha das diretas, na década de 80 e em todos os momentos da luta pela redemocratização do país. Além disso não podemos julgar um artista com base unicamente nas suas preferências políticas. Roberto Carlos sempre foi alheio às questões sociais e nunca levantou bandeiras à direita ou esquerda. Nem por isso, contudo, deixa de ser uma figura de primeira grandeza na música popular do Brasil. Da mesma forma, não podemos querer diminuir a poesia de Ferreira Gullar ou o talento do Fernando Gabeira escritor e militante político da esquerda no passado, porque hoje esses dois intelectuais abraçam a candidatura de José Serra.
Francisco Buarque de Hollanda nasceu no Rio de Janeiro, no dia 19 de junho de 1944 . É filho do historiador Sérgio Buarque de Hollanda e da pintora e pianista Maria Amélia Cesário Alvim. Poderíamos escrever que Chico Buarque tem “berço”, para usar aqui uma expressão elitista comumente utilizada para designar as raízes de alguém que nasceu de família rica ou respeitada.
Com apenas dois anos de idade Chico foi morar em São Paulo e desde cedo despertou interesse pela música. Na casa dos pais, pôde ainda menino e rapaz conviver num ambiente intelectual, conhecendo personalidades como o poeta Vinícius de Moraes e o compositor Paulo Vanzoli, que teriam influência em sua obra. O compositor, por força do trabalho do pai, ainda residiu uns tempos na Itália, onde compôs suas primeiras marchinhas. Na volta ao Brasil, começou a escrever crônicas para jornais de São Paulo. Antes de completar 18 anos, participou de um roubo de carro, na capital paulista, para passear pelas ruas da cidade. Terminou nas páginas policiais do jornal a Última Hora e ficou proibido pelos pais de sair sozinho à noite até chegar à maioridade.
O filho de Sérgio Buarque ingressou na Faculdade de Arquitetura, mas como tantos outros artistas não concluiu seu curso porque a vocação pela música falou mais alto. Em 1965 já exibe talento com Sonho de Carnaval e Pedro Pedreiro, duas músicas ainda hoje apreciadas por quem conhece a obra do compositor. No ano seguinte, conquista o primeiro lugar do Festival da Record, com a música A Banda, interpretada por Nara Leão. Num livro publicado sobre esse e outros eventos musicais da época, o crítico Zuza Homem de Melo revela que A Banda venceu a competição tendo obtido 7 votos dos jurados, contra 5 de A Disparada, de Geraldo Vandré. Chico, no entanto, exigiu que as duas fossem consideradas vencedoras. Caso contrário ele abriria mão em favor da canção do paraibano.
Em 1967, consagrado nacionalmente com A Banda, compôs Roda Viva, outro grande sucesso de público e de crítica. Um ano depois venceria o Festival Internacional da Canção, na TV Globo, com a música Sabiá, feita em parceria com Tom Jobim. Desta vez haveria contestação, pois o público preferia Pra Não Dizer que não Falei de Flores, de Geraldo Vandré, em primeiro lugar.
No final dos anos 60 e início dos anos 70, o compositor continuou criativo, brindando os brasileiros com verdadeiras pérolas como Construção, Minha História (uma versão), Apesar de Você, Fado Tropical, Bárbara, Tatuagem, Cálice e O Que Será. Fez parcerias com Vinícius, Tom Jobim, Caetano Veloso, Francis Hime, Paulinho da Viola, Ivan Lins e Milton Nascimento. Também resgatou velhos e bons compositores que o influenciaram, como Noel Rosa e Lupicínio Rodrigues.
Cantor de recursos modestos, mas bom intérprete de suas próprias músicas, compositor de talento inquestionável, Francisco Buarque de Hollanda escreveu também peças de teatro bem recebidas pela crítica e pela juventude intelectualizada. Nesta área produziu Roda Viva, Calabar – O Elogio da Traição, Gota d`água (pessoalmente o que mais gostei) e Ópera do Malandro. Fez ainda uma adaptação musical de um conto dos Irmãos Grimm, transformando “Os Músicos da Cidade de Bremen” em “Os Saltimbancos”, que renderia um ótimo disco e um filme, com participação de Os Trapalhões, à frente o engraçado Renato Aragão.
As centenas de músicas compostas por Chico Buarque foram publicada no livro Tantas Palavras, que inclui um biografia assinada por Humberto Werneck. O próprio artista escreveria livros infantis e romances adultos, como Fazenda Modelo, Chapeuzinho Amarelo, A Bordo de Rui Barbosa, Estorvo, Benjamim, Budapeste e Leite Derramado.
Embora seus livros estejam entre os mais vendidos do país, Chico não tem como escritor o mesmo prestígio do compositor e cantor. Seus romances não conseguem a objetividade ou mesmo a popularidade das canções. Alguns dos enredos chegam a ser chatos, como acontece com Estorvo. A crítica especializada reconhece no entanto uma evolução e talvez por isso Budapeste recebeu um prêmio de prestígio nacional e Leite Derramado, o último publicado foi o mais elogiado de todos.
Independente dessa querela literária, no entanto, é inegável a importância de Chico Buarque na cena cultural brasileira. Mesmo que deixássemos pra lá todos os livros na área do teatro ou da prosa de ficção, bastaria enumerar algumas canções para comprovar seu talento, diria mesmo genialidade como artista. Ele não é um nome qualquer. Como Noel, Adoniram, Pixinguinha, Caetano, Paulinho da Viola, Gilberto Gil ou Milton Nacimento, ele é um Gigante da Música Popular Brasileira. Abaixo, só para o leitor ter uma idéia, uma relação de obras primas com a marca de Francisco Buarque de Hollanda:
A banda (Chico Buarque - 1966)
A Rita (Chico Buarque - 1965)
Apesar de você (Chico Buarque – 1970
Boi voador não pode (Chico Buarque/Ruy Guerra - 1972-1973)
Bye bye, Brasil (Roberto Menescal/Chico Buarque – 1979
Cala a boca Bárbara (Chico Buarque/Ruy Guerra - 1972-1973)
Cálice (Gilberto Gil/Chico Buarque 1973)
Com açúcar, com afeto (Chico Buarque - 1966),
Construção (Chico Buarque - 1976)
Cotidiano (Chico Buarque – 1971
Ela desatinou (Chico Buarque - 1968)
Eu te amo (Tom Jobim/Chico Buarque - 1980)
Fado tropical (Chico Buarque/Ruy Guerra - 1972-1973)
Fantasia (Chico Buarque - 1978)
Feijoada completa (Chico Buarque - 1977)
Geni e o zepelim (Chico Buarque - 1977-1978)
Gente humilde (Garoto/Vinicius de Moraes/Chico Buarque - 1969)
Gota d'água (Chico Buarque - 1975)
Hino de Duran (Chico Buarque - 1979)
Iolanda (Pablo Milanés - versão de Chico Buarque - 1984)
Já passou (Chico Buarque - 1980)
Januária (Chico Buarque - 1967)
Joana Francesa (Chico Buarque - 1973)
Meu caro amigo (Francis Hime/Chico Buarque - 1976)
Minha história (Gesùbambino) (Dalla/Palotino - versão de Chico Buarque - 1970)
Mulheres de Atenas
(Chico Buarque/Augusto Boal - 1976)
Noite dos mascarados
(Chico Buarque – 1966
O casamento dos pequenos burgueses (Chico Buarque - 1977-1978)
O meu amor (Chico Buarque - 1977-1978)
O meu guri (Chico Buarque - 1981)
O que será (À flor da Terra) (Chico Buarque - 1976)
O velho (Chico Buarque - 1968)
Olê, olá (Chico Buarque - 1965)
Olhos nos olhos (Chico Buarque - 1976)
Pedaço de mim (Chico Buarque - 1977-1978)
Pedro pedreiro (Chico Buarque - 1965)
Quadrilha (Francis Hime/Chico Buarque - 1975-1976)
Quando o carnaval chegar (Chico Buarque - 1972)
Quem te viu, quem te vê (Chico Buarque - 1966)
Retrato em branco e preto (Tom Jobim/Chico Buarque - 1968)
Roda viva (Chico Buarque - 1967)
Se eu fosse o teu patrão (Chico Buarque - 1977-1978)
Sem açúcar (Chico Buarque - 1975)
Sem fantasia (Chico Buarque - 1967)
Sonho impossível (J. Darion/M. Leigh - versão Chico Buarque e Ruy Guerra - 1972)
Tanta saudade (Djavan/Chico Buarque - 1983)
Tantas palavras (Dominguinhos/Chico Buarque - 1983)
Tanto mar (Chico Buarque - 1975 (1ª versão) - 1978 (2ª versão)
Tatuagem (Chico Buarque/Ruy Guerra - 1972-1973)
Teresinha (Chico Buarque - 1977-1978)
Tira as mãos de mim (Chico Buarque/Ruy Guerra - 1972-1973)
Trocando em miúdos (Francis Hime/Chico Buarque – 1978
Vai levando (Caetano Veloso/Chico Buarque - 1975)
Vai passar (Francis Hime/Chico Buarque - 1984)
Vai trabalhar vagabundo (Chico Buarque -1975)
Valsinha (Vinicius de Moraes/Chico Buarque - 1970)
Caro Roberto Almeida,
ResponderExcluirEu admiro seu Blog, tanto quanto admiro sua série sobre filmes e sobre a MPB. É um serviço à nossa região e ao nosso país que não costuma ter uma boa memória. Por isso venho aqui fazer um comentário, me contendo, para não ultrapassar os limites de letras como sói acontecer.
É apenas para corrigir uma frase que coloquei num artigo, que como sempre pode ser visto em meu nome acima, que não é a que você disse mas passa perto. A frase usada por mim foi: “Chico é um ótimo letrista de MPB, um romancista medíocre e um idiota político.” Eu concordaria até em colocar na frase como você o fez, “compositor” ao invés de “letrista”, pois sempre gostei das suas músicas, mas ai está a correção, para aqueles que não concordarem. Talvez inclusive o autor da frase que não é o Diogo Mainardi e sim outro jornalista que você disse que é também uma vergonha da profissão: O Reinaldo Azevedo, concordasse também. Mas, vocês que são jornalistas que se entendam.
Eu apenas sou uma dona de casa que me preocupo com o Brasil e concordo com a frase, pelo que conheço do Chico, da música, dos romances (parcialmente) e da política. Pois para mim é uma idiotice hoje ainda ficar beijando a mão de Fidel, em nome de uma revolução que o próprio (Fidel) disse que não valeu nada.
O que o Diogo Mainardi disse, ao fazer uma entrevista com Edna O’Brien, que estava fazendo um conto sobre Chico Buarque, no qual ele ganhou o nome de Harpo, quando ela disse que: “...Chico Buarque era uma fraude, que ela se espantou com sua empáfia e com seu desconhecimento literário, e que se espantou mais ainda com sua facilidade para enganar a plateia da Flip”, em Parati foi:
“Eu já resenhei um romance de Chico Buarque: Benjamim. Nele, um homem à beira da morte relembra o passado, misturando realidade e sonho. Em Leite Derramado, seu último romance, um homem à beira da morte relembra o passado, misturando realidade e sonho. Chico Buarque, como Harpo, é o buzinador das letras: fon-fon. Ele está para a literatura assim como Dilma Rousseff está para as teses de mestrado. Ou assim como José Sarney está para Agaciel Maia. Edna O’Brien passou apenas uma semana no Brasil. Mas ela entendeu tudo: neste país fraudulento, o que mais espanta é a facilidade para enganar a plateia, enquanto a batucada continua do lado de fora.”
Pelos dois romances que li dele, confesso que fico com os jornalistas vergonhosos. Um abraço
Lucinha Peixoto (Blog da CIT)
Tanto a Lucinha quanto meu amigo Rafael Brasil, apesar de estaram querendo minimizar toda a grandeza do Chico, por questões políticas, são muitos maiores do que esse Diogo Mainardi. Este último escreve ruim, é reacionário, mau caráter e dedo duro. Eu mesmo já li uma coluna dele em que o Paulo Francis de araque "entrega" os coleguinhas. Rafael eu conheço bem e sei que apesar das opiniões políticas conservadoras (quando o conheci na juventude estava à esquerda de mim)é um grande figura humana. E Lucinha mesmo sem conhecer pessoalmente dá para perceber que tem bom coração. Enfim, os ditadores de 64 passaram. Sarney, Collor e Itamar idem. Lula irá passar, assim como Serra ou Dilma e Chico Buarque está vivo na sua literatura, no teatro e principalmente na música. Ele é muito maior do que tudo isso.
ResponderExcluirOlá amigo Roberto Almeida, gostaria de informar que na praça da Boa Vista (praça da Doce Mel), "MATARAM" quase todas as árvores. Segundo rumores foi por causa do vandalismo que se instalava no loca, pessoas consumindo drogas e efetuando pequenos roubos. Segundo informações também foi porque as árvores estavam atrapalhando a iluminação.
ResponderExcluirMinha opinião: primeiro, quanto ao vandalismo com árvores ou sem elas vai continuar, segundo, o consumo de drogas não dependem das árvores, quanto a iluninação é só colocar mais postes e por fim cade os projetos a favor da NATUREZA?????????? Gostaria que você fizesse uma denúncia contra esse "HOMICÍDIO".
Amigo Roberto Almeida,
ResponderExcluirBelíssimo o seu texto sobre Chico Buaquerue de Holanda, o que não é novidade quando você move a sua pena.
Diferente de alguns medíocres que não sabem o que fazer quando misturam as letras.
Garanhuns está de parabéns de ter um jornalista da sua qualidade, e de caráter.
E Chico, além de ser neto de pernambucano, participou das campanhas de Arraes, em inesquecíveis shows, aqui em Olinda, quando era visto subindo e descendo, a pé, nossas estreitas ladeiras centenárias.
Eu mesmo, num carnaval da década de 80, tive o prazer de receber em minha casa, na Ladeira da Misericórdia, a irmã-cantora de Chico Buarqueque, a quase olindenses Miúcha, por oção, parceira de Tom Jobim e que foi casada com João Gilberto, com quem tem uma filha, a também cantora, Bebel. Ela viu da minha janela não a Banda passar, viu, sim, o Elefante de Olinda, por quem é apaixonada.
Claro que Chico Buarque de Holanda não poderia ter outra opção política, jamais votaria
em Serra, um paulista burguês, metido a merda, cheio de preconceitos contra todos nós, os nordestinos, e com uma obcessão doentia em ser presidente do Brasil, quando os brasileiros não o querem.
Xô, Serra!
Por um Brasil sem ódio e sem mentiras.
É Dilma 13!
E Viva Lula!
Ruy Sarinho
Olinda/PE