PREFEITURA MUNICIPAL DE GARANHUNS

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O ELOGIO DO SILÊNCIO


Na estrada o homem segue só, guiando o seu automóvel com cuidado. Mesmo não sendo um carro novo, é silencioso, não agride o meio ambiente através da fumaça, buzina, peças batendo uma na outra, motor roncando fora do normal... O rádio está desligado. Nem as notícias policiais, nem as músicas barulhentas dos cantores do momento ou os comerciais gritantes na voz de locutores especializados na arte de irritar. Poderia trocar as emissoras comerciais por um CD no já surrado aparelho de som. Algo bossa nova, leve, só uma batidinha no violão e o talento de Leila Pinheiro. Ou melhor ainda: o perfeccionista João Gilberto.
A sua frente se descortina o céu azul do agreste. Nuvens brancas, como fios de algodão e o sol, que não está tão forte. Felizmente, tudo está bem verde, bonito, passando a impressão de uma natureza saudável. O homem só. A estrada. Dá para sentir as batidas do coração, o pulsar nas artérias, os pensamentos às vezes vindo como ondas, tão atabalhoados que parecem querer pular do cérebro, se espalhar pelos compartimentos do veículo, sair pelas janelas, ganhar o mundo...
E se o silêncio fosse quebrado com uma música ainda mais refinada, um clássico, a quinta sinfonia de Beethoven ou as quatro estações, de Vivaldi...?
Não. Mesmo a essa música divina ele prefere o silêncio ou o quase-silêncio desta manhã de segunda-feira, quando já velho e cansado se dirige ao trabalho, em estado de oração.
Sim, é como se estivesse indo a uma missa ou estivesse em estágio de celebração. Sem padres nossos, aves marias ou outras rezas que ouvia desde os tempos dos seus avós. É um sentimento muito particular, uma ligação com o invisível feita através do olhar, dos sentidos, da esperança, dos rios de cores a escorrer por esses céus pernambucanos.
O silêncio lhe permite escutar seres, vozes, pensamentos, segredos e informações ocultas. A paz faz com que despreze o trivial, o comum, como a notícia espalhafatosa do jornal.
Todo dia um crime.
Brigas por motivos absolutamente banais.
Chuva demais nas cidades do Sul e Sudeste. Terremotos em países irmãos.
Atrás, bem perto, a mulher, os filhos, as dores, os pequenos prazeres, as contas para pagar e os aborrecimentos do cotidiano.
Lá na frente a mãe, o irmão, as ruas da infância, o presente incerto e o futuro previsível.
Tudo isso leva a um mergulho dentro de si mesmo aprofundando mais ainda o silêncio. E quanto menos chegam os zunidos do mundo mais ele consegue adentrar na sua oração.
Pede para chegar inteiro. Agradece pelo que já foi conquistado. Reza por seus meninos, suas meninas, esquece os agressivos, os mal intencionados, os especialistas em provocar sofrimento e procura cultivar pensamentos agradáveis.
A oração consiste neste ritual: a visão do azul, do verde, dos riachos, dos bichos pastando, a música do vento, a comunhão com tudo que lhe cerca e a certeza de que ali não tem ninguém ao seu lado. Gente de carne e osso que conversa, puxa assunto, quer saber das coisas, entende de política e futebol, está informado mais quer mais e mais informações. Só ele, o carrinho modesto, a estrada, a paisagem e um sentimento de que estar só pode ser não estar só. Há uma música do silêncio, há um ser que não se alcança, existem fatos sem explicações científicas, há uma paz que vem do coração, do cérebro, da mente... Uma certeza de que a oração funciona. De que os pedidos chegarão a algum lugar e a proteção está garantida.
Oração sem igreja, sem padre, sem bispo muito menos o santo papa. Nem pastor, nem rabino, ou médium, ou um cidadão comum anunciado que foi chamado por Deus.
Será que Deus chama mesmo?
Pode ser, poder não ser. Deus pode ser esse silêncio. Por isso o distanciamento da poluição das vozes, dos vendedores da feira, dos sensacionalistas de televisão, do apito do guarda de trânsito, da azáfama das donas de casa, da comemoração das torcidas, só pode fazer bem.
Há música no silêncio.
Há paz.
Se você aprofunda mesmo esta comunhão, esta conversa sem pauta com quem não está ao seu lado, você descobre sentidos encobertos, percebe novas possibilidades de seguir na labuta. E pega gosto nesta forma de oração e vida.

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