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HOJE É DIA DE LEMBRAR RAULZITO

No dia nove deste mês escrevi uma nota sobre os 20 anos da morte de Raul Santos Seixas, um dos maiores fenômenos da música brasileira, um verdadeiro mito entre pessoas de gerações distintas e diferentes classes sociais. Hoje, dia 21, são exatamente duas décadas da partida do cantor e compositor baiano, que deve ter feito a viagem no seu "Trem das Sete".
O aniversário da morte do Raulzito (primeiro nome artístico do autor de "Ouro de Tolo) foi lembrada este mês - e especialmente hoje - por vários veículos de comunicação do país. A TV Globo, no Fantástico de domingo passado, chegou a exibir um clip inéditodo Raul, que tinha sido censurado pela ditadura. Aqui em Garanhuns, o "Maluco Beleza" foi lembrado pelo Jonas Lira, na FM Sete Colinas e por Marcos Cardoso, na Marano. Este último aproveitou logo a entrada do programa, falou da data e mandou tocar logo três das melhores produções do artista: Gitã, Metamorfose Ambulante e O Dia em que a Terra Parou. O Caderno C, do Jornal do Commercio, dedicou toda a primeira capa e metade da contracapa do seu espaço para falar da trajetória de Raul Seixas, em bela matéria assinada por José Teles.

AVALIAÇÃO E LEMBRANÇAS

Apesar da nota anterior, das matérias na TV, nos jornais e das homenagens nas emissoras de rádio, eu queria aproveitar este dia 21 de agosto para fazer uma avaliação mais pessoal do que representou e representa Raul Seixas na história da música nacional. E fazer isso junto com algumas lembranças de quando surgiu o fenômeno do rock/pop brasileiro.
Era início da década de 70, o Brasil já tinha sido tri-campeão do mundo e eu estudava à noite no Colégio Diocesano de Garanhuns. O padre Aldemar ainda estava bem vivo e forte, existia o Cine Jardim e bem pertinho o Bar do Miraboa, onde vez por outras nós estudantes tomávamos uma pinga com algum tiragosto.
Na década anterior, menino de 9/10 anos, despertei para a música ouvindo um cara que provocaria profundas mudanças na música do Brasil. Estava na mercearia do meu pai e o rádio soltava os versos provocativos que escandalizaria a Igreja Católica na época: "De que vale o céu azul sempre a brilhar/se você não vem e eu estou a lhe esperar... Só quero que você, me aqueça nesse inverno e que tudo mais vá pra o inferno". Pouco tempo depois, o mesmo cantor deixaria encantado o moleque do interior com outra letra irreverente, quando ele tão ousado naqueles tempos confessava "estar amando loucamente a namoradinha de um amigo meu". Só muitos anos depois eu seria capaz de compreender outros sons e entender artistas engajados como Caetano, Chico, Gilberto Gil e Luiz Gonzaga Júnior.
Retomemos, contudo, aos anos 70. Roberto Carlos ainda era idolatrado como "rei" de Norte a Sul do País, os outros cantores da Jovem Guarda começavam a sumir e surgiam novidades como The Fevers, que substituiam Os Incríveis na preferência popular e movimentavam as festinhas do interior. Em cidades como Caetés, Capoeiras, Lajedo e Jupi surgiu a onda dos "assustados", que reunia a moçada para paquerar, dançar e namorar. Tudo meio comportado, pois erámos moços e inocentes e na região ninguém sonhava ainda com esse negócio tão comum hoje em dia que se chama Motel.
Sem que estivéssemos devidamente preparados para novidade, de repente começamos a ouvir no rádio uma música completamente diferente daquela a que estávamos acostumados. Não eram os iê-iê-iês de Roberto e sua turma, não parecia em nada com o som dançante dos Fevers, muito menos com os baiões de Luiz Gonzaga, que também curtíamos. Era uma coisa meio louca, irradiada, como se o cara estivesse despejando palavras ao ritmo de uma metralhadora e querendo passar algum recado que ainda não tinha sido dado: "Eu queira estar contente, porque sou um cidadão respeitável e ganho quatro mil cruzeiros por mês...". Com pouco tempo saberíamos o nome daquele camarada que estourava nas paradas de sucesso do Brasil, chegando, com o sucesso de seu "Ouro de Tolo", a ser entrevistado e louvado nas páginas de O Pasquim, o alternativo capaz de enfrentar a ditadura militar de Garrastazu Médici.
No ano seguinte fui pela primeira vez a Angelim, participar de uma partida de futebol, e no ARA, o Clube local, uma vitrola (para os mais novos: era assim que se dava o nome aos aparelhos de som daquela época) tocava sem parar o segundo LP do Raul, então já um ídolo no país. O disco trazia Gitã, Trem das Sete, Medo da Chuva e outras músicas inesquecíveis que ainda hoje agradam pessoas de todas as idades.
Raulzito, ex-produtor de Jerry Adriani e Renato e seus Blue Caps virou Raul Seixas, tornou-se um grande vendedor de discos, e na parceria que fez com o futuro escritor Paulo Coelho ganhou fama de "filósofo", "esotérico", "lunático" e "maluco". Fez músicas inclusive falando de discos voadores e deu entrevistas garantindo já ter visto os tais discos e seus ocupantes.

TENTE OUTRA VEZ

Não há condição, neste espaço, de descrever toda trajetória do artista e analisar disco por disco. Então, vamos ao que realmente interessa ao escrever sobre o cantor. O terceiro LP de Raul Seixas teve a mesma qualidade dos dois primeiros em parceria com Paulo Coelho. Foi intitulado Novo Aeon e a música título é uma das melhores do álbum, que trouxe ainda "Tu és o MDC de minha vida", uma sátira interessante ao romantismo da Jovem Guarda, e "Tente Outra Vez", este um grande sucesso do artista que continua tocando como se tivesse sido feita ontem, acho que principalmente por conta da letra encorajadora dizendo para nunca desanimar, ir em frente, não desistir, dando a entender que cada um é capaz de "chegar lá".
Daí em diante, embora ainda tenha feito alguns trabalhos junto com Paulo Coelho, Raul Seixas nunca conseguiu reeditar a criatividade de "Ouro de Tolo", "Gitã" e "Novo Aeon". Claro, tivemos "Como Vovó Já Dizia", "Há 10 mil anos atrás" e "Maluco Beleza", esta última virando quase sinônimo de Raul Seixas.
Acredito, porém, que a mudança de parceiro, de companheiras, de gravadoras e certamente o álcool e as drogas foram destruindo o cantor. Ele, então, em vez de evoluir foi ficando decadente, terminou por adoecer e morrer muito jovem, apenas com 45 anos de idade.
Raul foi um artista popular que só pelos primeiros cinco discos que lançou assinalou definitivamente seu nome na música brasileira. Não fazia iê-iê-iê, não era puro rock ou MPB no sentido de gênero que essas três letras ganharam. Nem bossa nova, samba ou um pop na linha de Cazuza, Renato Russo e outros monstros sagrados da música nacional que vieram depois. O Raulzito foi um caso único mesmo, como um cometa, que passou e deixou uma marca difícil de apagar no cena artística do país.
Não era um grande cantor, como ele mesmo reconheceu; foi um bom intérprete em alguns momentos e a qualidade de algumas composições suas deixaram muito a desejar, como por exemplo o "Rock das Aranhas", revelando uma espécie de preconceito tosco contra as lésbicas e "Eu também vou reclamar", quando mostra muita deselegância em relação aos seus colegas da música popular brasileira". Sobra até para Caetano e Belchior, artistas corretos e de muito talento. (Como o compositor de "Maçã", um belo hino em defesa do amor livre, seria capaz de atacar de maneira tão feia o amor entre duas mulheres?).
Raulzito casou cinco vezes e teve três filhas. As duas mais velhas moram nos Estados Unidos e a caçula, Vivi Seixas, de 28 anos, é casada com americano no entanto mora aqui mesmo no Brasil. Ela não é cantora, mas algo do pai herdou: trabalha como DJ e pensa inclusive em produzir um CD dentro da sua linha de trabalho reunindo sucessos do pai.
Acredito que sem Paulo Coelho o cantor e compositor baiano não teria ido tão longe na música brasileira. O hoje escritor famoso deve ter sido o responsável pelas melhores letras e trabalhosde Raul. Tanto é que quando se separaram começou a decadência. O autor de O Alquimista é e era capaz de se apropriar de obras alheias para vender como se fosse criação sua. A prova está numa das músicas mais bonitas cantadas por Seixas, "Água Viva", incluída no LP "Gitã" e assinada pela dupla. No entanto, os versos são um verdadeiro plágio de um poema de São João da Cruz e o livro deste católico ainda pode ser encontrado para comprovação da fraude. Não custava ter dado o crédito e a canção deveria ter sido assinada assim: "Música e letra de Paulo Coelho a partir dos versos de São João da Cruz". Abaixo, segue a letra de"Água Viva", que também é o título de um livro de Clarice Lispector.

ÁGUA VIVA

Eu conheço bem a fonte
Que desce aquele monte
Ainda que seja de noite
Nessa fonte está escondida

O segredo dessa vida
Ainda que seja de noite
"Êta" fonte mais estranha,
que desce pela montanha
Ainda que seja de noite.

Sei que não podia ser mais bela
Que os céus e a terra, bebem dela
Ainda que seja de noite

Sei que são caudalosas as correntes
Que regam os céus, infernos
Regam gentes
Ainda que seja de noite
Aqui se está chamando as criaturas

Que desta água se fartam mesmo
às escuras
Ainda que seja de noite
Ainda que seja de noite...

Eu conheço bem a fonte
Que desce daquele monte
Ainda que seja de noite
Porque ainda é de noite!
No dia claro dessa noite!
Porque ainda é de noite


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