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POLÍTICA E CRÍTICA SOCIAL NA OBRA DE ANTÔNIO CARLOS BELCHIOR

Já publicamos aqui mesmo um texto  sobre a forte influência da literatura na música de Belchior.

Garcia Lorca, Fernando Pessoa, João Cabral de Melo Neto, Dante... são muitas as citações do cantor e compositor de Sobral.

O artista também, do início ao fim da carreira, sempre incluiu uma pitada de crítica social nas suas canções.

Crítica aos governantes, aos políticos, que chamou de estúpidos e idiotas em "No Maior Jazz", música que começa com um trocadilho em cima de "Guerra e Paz", monumental romance de Leon Tolstói.

Ora, Ora! Até vocês que ouvi dizer/São gente quase honesta, de "Arte Final", traduzida para os dias atuais, serviria para os "homens de bem" dos tempos bolsonaristas que infelizmente ainda estamos vivendo.

A canção citada no parágrafo anterior, por sinal, termina praticamente com um discurso revolucionário (e poético) de Belchior:

E então, my friends?

Bastou vender a minha alma ao diabo

E lá vem vocês seguindo o mau exemplo

Entrando numas de vender a própria mãe

Alguém se atreve a ir comigo

Além do shopping center? Hein? Hein?

Ah! Donde están los estudiantes?

Os rapazes latino-americanos?

Os aventureiros? Os anarquistas? Os artistas?

Os sem-destino? Os rebeldes experimentadores?

Os benditos? Malditos? Os renegados? Os sonhadores?

Esperávamos os alquimistas, e lá vem chegando os bárbaros

Os arrivistas, os consumistas, os mercadores

Minas, homens não há mais?

Entre o Céu e a Terra não há mais nada

Do que sex, drugs and Rock 'n' Roll?

Por que o Adeus às armas?

Não perguntes por quem os sinos dobram

Eles dobram por ti!

Ora, senhoras! Ora, senhores!

Uma boa noite lustrada de neon pra vocês

E o último a sair apague a luz azul do aeroporto

E ainda que mal me pergunte

A saída será mesmo o aeroporto?

Como o leitor com o mínimo de informação literária vai perceber, no trecho discursivo há duas citações ao genial escritor americano Ernest Hemingway.

"Balada de Madame Frigidaire" pode ser considerada uma canção mais simples.

Nela, a crítica à classe média e ao sistema é mais explícita. 

Um trecho da letra da música:

Ora, desde muito adolescente me arrepio ante empregada debutante/Uma elétrica doméstica então, que sex-appeal! Dá-me o frio na barriga!

Essa deusa da fertilidade, ready made à la Duchamp, já passou de minha amante

Virou super-star, a mulher ideal, mais que mãe, mais que a outra

Puta amiga!

Pra que Deus, Dinheiro e Sexo, Ideal, Pátria e Família se alguém já tem Frigidaire?

É Freud, rapaziada! Vir a cair na cantada dum objeto-mulher.

Oh, eu me confundo, madame! E a classe média que mame se o céu, a prazo, se der! 

As letras das canções citadas neste texto são dos anos 80. Quem conhece a obra do cearense sabe na década de 70 ele produziu suas músicas mais conhecidas.

Que uniam filosofia, literatura, história, política e poesia, é claro.

Se alguém quiser conferir o artigo citado, com as referências literárias na obra de Belchior, é só clicar no link abaixo:

https://robertoalmeidacsc.blogspot.com/search?q=a+forte+presen%C3%A7a+da+literatura+na+m%C3%BAsica+de+belchior

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