Por Altamir Pinheiro
Na década de 1970, sua música era
amplamente aceita pela sociedade, mas desprezada por uma elite intelectual.
Mesmo assim, Odair José não mudou, mas seu público sim. Como diz o próprio
Odair: "Vejo como se eu estivesse herdando o público do Raul Seixas".
Hoje, seu trabalho não é mais ouvido pelas classes populares, que apreciam
pagode, sertanejo e funk, por exemplo. Por outro lado, os jovens realmente
parecem ter redescoberto sua música e tudo isso tem uma participação decisiva e
preponderante por causa do lançamento do livro EU NÃO SOU CACHORRO,
NÃO (2002), de Paulo César de Araújo. O livro de Paulo César de Araújo ajudou a
mudar a maneira como as pessoas veem o trabalho dos chamados artistas bregas,
conferindo legitimidade a essa turma.
Odair José, o gênio rebelde e audacioso
é conhecido por muitos como O Bob Dylan brasileiro é um cantor
e compositor da música romântica copiado no mundo inteiro. Isso mesmo, no mundo
inteiro, inclusive na China, donde tem uma penca de seguidores!!! Até onde se
sabe, só Frank Sinatra, Beatles e os Rolling Stones
não interpretaram suas excelentes composições. Sacanamente, e por que não
dizer, por puro preconceito, indiferença ou menosprezo, sempre foi
tratado como PERSONA NON GRATA pelas rádios, TV’s e até os “moralistas”
da igreja católica foram indiferentes, frios e insensíveis com ele,
além de ser perseguido covardemente e censurado pela Ditadura Militar por
tratar de temas polêmicos para época.
Está bem viva em nossa memória ou
retina ao acompanhá-lo em nossa juventude que, quando não havia nada parecido
na música popular brasileira, na década de 1970, mesmo
sem o aval e o desprezo por completo das gravadoras, a música “Eu
vou tirar você desse lugar” entrava para o ranking das mais pedidas nas rádios,
contando a história de um homem apaixonado por uma mulher que se prostituía na
Zona. Na sequência emplacou com "Uma Vida Só", conhecida popularmente
pelo seu refrão, "PARE DE TOMAR A PÍLULA", que foi uma de suas
músicas censuradas pelo governo militar. Outra música de forte apelo popular
que é uma crônica do cotidiano do nosso povo foi "Deixa Essa
Vergonha De Lado", na qual traz uma face do preconceito da época e
refletia o apoio a nobre função de empregada doméstica que no início
da década de 70 ainda não era legalizada.
Só quem foi da boemia
ou vagueou nos restaurantes e nos bailes da
vida nas eternas madrugadas sem
fim, com a alma nostálgica tem a dimensão do que foram as
lindas poesias muito bem interpretadas por este mestre da paixonite
aguda, como por exemplo a linda melodia: MINHAS COISAS do ano de 1970, letra
esta, que não agredia o ouvido, apenas machucava os corações. Eis seus refrães:
As minhas coisas de repente estão
tristes / Compreenderam que não existe nada mais entre nós / Meu violão caiu de
cima do armário / Suas cordas arrebentaram dando adeus a minha voz / O meu
casaco com você se acostumou / Sentiu tanto a sua falta que de tristeza
desbotou / Se eu soubesse que eu iria lhe perder / Não teria acostumado minhas
coisas com você...
Até meu carro já não tem velocidade /
Pois ele sente saudade de quando andava com você / Meu telefone que sabia quase
tudo de repente ficou mudo / E mais nada quer dizer / O meu relógio sempre
certo trabalhou / Depois que ficou sabendo nada mais ele marcou / Se eu soubesse
que eu iria lhe perder / Não teria acostumado minhas coisas com você / Não
teria acostumado minhas coisas com você...
Pois bem!!! Enquanto a cervejinha
gelada não chega à mesa, curtam na íntegra o hino do Bob Dylan
tupiniquim que está de volta à mídia desde o início dos
anos 2010, do começo
deste século, pois continua
fazendo jus ao estilo musical que o consagrou nas paradas de sucessos que tanto
a gente cantou e dançou nos assustados de casas familiares ou nos bailes
da vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário