Por Gerson Lima*
No silêncio de uma noite, por
esses dias de julho frio, e de chuvas finas, o FIG trola o isolamento social e
bate à porta do seu criador. Em casa, envolvido em memoráveis lembranças, Ivo
Amaral saboreia sem pressa seus oitenta e tantos anos de alegrias e vitórias.
Mas levanta-se e abre a porta como sempre abriu para quem quisesse entrar em
sua casa. Dá de cara com a sua criação. O FIG curva-se em respeito ao seu
criador. Lhe estende a mão direita e solenemente balbucia como numa prece: Vim
lhe pedir a bênção. Deus lhe abençoe, responde Ivo como assim faz com todos os
demais filhos. Como você cresceu, meu rapaz! 30 anos se passaram. Criador e
criatura, ali, na frente um do outro sem cerimônia, debulhando histórias e
ciúmes de pai para filho e vice-versa.
Há trinta anos Ivo Amaral já
exercia a exímia arte de ouvir. Habilidade de políticos de alto nível. Era seu
primeiro mandato como prefeito de Garanhuns e Marcílio Lins Reinaux havia lhe
deixado uma ideia estapafúrdia de se criar um festival de artes em pleno mês de
julho, de céu de chumbo e chuvas frias em Garanhuns. Estapafúrdia?? Não. Assim
seria para quem não vislumbrasse um futuro bom para Garanhuns. Quem não tivesse
nas veias a arte de enxergar longe. Ivo tinha. Descansou a ideia com cuidado
por sobre a mesa de trabalho, mas sem perde-la de vista por um ou dois anos.
Um dia reuniu sua tropa de
elite e deu o comando. Já era sua segunda gestão como prefeito, numa época de
governo de parcos recursos, cidade se urbanizando rápido, avolumando-se as
necessidades do dia a dia, e tudo centrado em prioridades e ousadias. Montou
uma comissão, mas ficou à frente de tudo. Por isso é justo dizer que esse Festival
de Inverno tem pele e osso de Ivo Amaral. O menino foi gestado assim, no
atrevimento inconteste do seu criador. O FIG cresceu rodopiando os fundos do
Centro Cultural, mas já doido pra correr mais adiante e ganhar a hoje Praça de
Eventos. Não adianta, ia ser maior de todo jeito, porque já tinha nascido
grande. Durante sua infância e adolescência Ivo Amaral cuidou bem de sua cria
já mostrando para todos que se tratava de mais uma dádiva preciosa para
Garanhuns e seu povo.
Trinta anos se passaram, meu
rapaz. No Festival de Inverno, de garoa, chuvas, frio e belezas do inverno eu
saio de casa. Você sai, todos saem e outros chegam...Foi Ivo Amaral quem
inventou isso. Há uma celebração da vida nas igrejas, quando a música eleva as
almas aconchegadas nos acordes do erudito. O coração da cidade pulsa no
Maracatu, imita-se a vida no palco Alfredo Leite Cavalcante, O parque dos
Eucaliptos se embala no Rock Pop e no forró. No Pau Pombo há solos engolidos
por todos os vegetais vivos do lugar e na Praça Mestre Dominguinhos se debruça
um mar de gente bebendo mais música. Difícil achar um centímetro do perímetro
mais urbano da cidade que não respire artes nesse período.
Você cresceu, meu rapaz!
Levantou a auto estima de um povo, nos embriaga de orgulho e será imbatível em
qualquer coisa que tente lhe superar. Carrega ainda o sentido mais técnico dos
eventos de envergadura, como a geração de trabalho e renda, olhar político dos
governantes de plantão, a cadeia produtiva em toda a sua extensão e o
aquecimento da economia local que todos os anos bate recorde. Se está
entristecido com esse isolamento social por conta da pandemia, sei que também é
do povo fervilhando nas ruas que você sente saudade. Vai passar! Tudo passa
como os anos que lhe fizeram a majestade dos eventos e será duradouro seu
reinado.
Ivo Amaral contempla sua
criação completando 30 anos. E há muito mais de 30 anos Garanhuns contempla Ivo
Amaral na maior referência viva de nossa história política. Ivo abençoa o FIG
assim como Deus abençoa os dois. Nesse momento difícil de perdas e medos, nada
mais confiante do que a serenidade do criador do FIG, resistente e confiante a
nos garantir: Vai passar! Pelo jeito a
única coisa que jamais vai passar, é a possibilidade de ter de novo a partir do
ano que vem e anos vindouros, o nosso FIG com a sua beleza, a sua
efervescência, seu burburinho, sua leveza e claro, o eterno consentimento de
seu criador Ivo Amaral.
*Gerson Lima é radialista e publicitário. O texto foi lido hoje, como crônica, na FM Sete Colinas.
**Foto: Rádio Jornal
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