Por Junior Almeida
Quem
gosta de história e vive a pesquisar, vez por outra tem a grata satisfação de
encontrar em suas leituras alguns personagens que no passado participaram de
grandes façanhas ou mesmo que cruzaram o caminho de protagonistas de conhecidos
fatos históricos. Na região de Garanhuns, Pernambuco, por exemplo, dois homens
se encaixam nessa descrição, pois, viram a morte de perto, quando estiveram
frente a frente com famosos assassinos.
O
primeiro, um simples agricultor, Francisco Pereira de Barros, conhecido por
Chiquinho de Barros, em julho de 1935 teve sua casa arrombada a chutes e coices
de fuzil, num assalto praticado por Lampião e seus cabras. Do lado de fora da residência, no Sítio Queimada do André,
hoje município emancipado de Paranatama, mas na época, distrito de Garanhuns,
os cangaceiros mataram a punhaladas e tiros seu sogro, o idoso Zé Gomes,
enquanto ele, sua esposa Quitéria Correia Gomes e o resto da família ficaram
como reféns do Rei do Cangaço dentro da casa, enquanto essa era saqueada.
No decorrer da ação criminosa, Lampião mandou Chiquinho lhe trazer um cavalo que estava em um curral em frente da casa. Acompanhado por dois cangaceiros, ele foi buscar o animal, que estava bem agitado com a movimentação atípica e por isso não aceitou sela. Um dos bandidos com raiva golpeou a cabeça de Chiquinho de Barros com uma coronhada de rifle. O agricultor caiu com um corte na cabeça, tendo o ferimento sangrado muito, encharcando toda a sua roupa e, Chiquinho voltou para onde Lampião estava sem o cavalo. Virgulino com certa ironia, perguntou aos seus meninos por que fizeram aquilo com o homem e a Chiquinho perguntou se ele bebia pinga.
Completamente dominado, humilhado, supostamente sabendo que seu sogro e o outro
homem já tinham sido mortos, Chiquinho não tinha perspectivas, apenas disse que
sim, que bebia. Lampião mandou trazer um copo com cachaça, colocou pólvora
dentro e misturou, mexendo com um punhal. Chiquinho bebeu um bocado e com o
resto lavou o ferimento da cabeça. Menos mal que a súcia foi embora “apenas”
levando seus pertences, no entanto, sem levar a sua vida.
Outro que também escapou de ter um trágico destino foi o quarto Bispo de Garanhuns, Dom Juvêncio de Britto, pois este religioso foi agredido por pelo menos três vezes pelo mundialmente famoso Padre Hosana de Siqueira, assassino do Bispo Dom Expedito Lopes, um dos três casos do mundo em que um religioso matou outro, em toda história da Igreja.
Frei
Francisco Fernando da Silva, o Frei Chico, canonista e que trabalha nas causas
de beatificação de Dom Vital, Frei Damião e Dom Expedito, conta-nos em seu
“Vida de Dom Expedito Lopes; Bispo Mártir de Garanhuns”, que o Padre Hosana
antes de matar a tiros o seu superior hierárquico, Dom Expedito, já tinha
arrumado um monte de confusões por onde tinha passado, inclusive, tendo em
Panelas, matado a tiros uma égua, por que seu cavalo “se engraçou” com ela, e
um cachorro, que latiu ao estranhar a sua batina. Sobre as agressões do
indisciplinado e desequilibrado Padre Hosana a Dom de Juvêncio de Britto, Frei
Chico colocou no papel o depoimento em juízo do Padre Otoniel, colega do padre
homicida. Disse o religioso:
No tempo de Dom Juvêncio ele (Padre Hosana) foi transferido para
Quipapá, fazendo as maiores promessas de paz. Tanto foi que na primeira visita
pastoral em 1948 ainda mereceu elogios do Bispo. Mas logo começaram as
questões. A primeira briga com Dom Juvêncio foi num retiro. No último dia ele
chamava cada padre para conversar e dizia se ele voltava à paróquia ou se não.
Ele chamou Padre Hosana e eu fiquei de tocaia. Quando ouvi os gritos, corri,
chamei o Monsenhor Callou e Padre Tarcísio. E nós defendemos o Bispo.
Outra vez Dom Juvêncio marcou crisma para Angelim. Os redentoristas
participaram da missão.
O bispo estava confessando e Hosana para falar-lhe. O Bispo,
inexperiente, chamou Hosana para o quarto onde ele estava hospedado. Nós
ficamos na janela, eu e Padre Carlos, com cuidado no Hosana. Daqui a pouco
ouvimos vozes alteradas e Padre Carlos disse: “Vai Otoniel, entra!” Fui até a
porta e fingi que procurava o bispo. Este nos contou que Hosana tentara
agredi-lo. Havia pegado na abertura do Bispo, por cima da cruz peitoral e tinha
sacudido o Bispo para agredir o mesmo. Quando me viu procurando o Bispo tentou
despistar. Dom Juvêncio foi agredido mais três vezes por ele e não quis
resolver o problema. As acusações de mulheres, especialmente a Maria José,
quando Dom Juvêncio morreu em 1954, já fazia cinco anos ou mais que ele estava
com ela. Mas faltou coragem em Dom Juvêncio e ele foi tolerando assim como de
outros.
Todo mundo tinha medo porque ele andava sempre armado. Trazia sempre um coxim para forrar a sela e na bolsa do coxim um revólver. Essa conversa que ele pegou o revólver empresado para o crime é besteira. Com o que atirou em um cachorro e em um cavalo em Panelas? Com o que enfrentou o delegado de Tabira? Não cansava de mostrar a calça em baixo da batina e dizer que era homem para tudo.
Como
podemos perceber nos dois fatos, tanto Chiquinho Barros quanto Dom Juvêncio,
estiveram diante de homens que não hesitariam nem um pouco em os matar. O
primeiro ainda perdeu seu sogro, covardemente assassinado pelos cabras de Lampião, levou uma coronhada
na cabeça e bebeu na marra cachaça com pólvora, o segundo, um bispo, mesmo com
toda sua autoridade, deve ter tido a consciência do perigo que passou. Não era
vivo quando o Padre Hosana matou Dom Expedito em julho de 1957, mas se fosse,
certamente veria que o que o colega que o sucedeu na Diocese de Garanhuns teve
um fim, que poderia perfeitamente ser o dele.
*Fotos: 1- Dom Juvêncio de Britto, 4º
Bispo de Garanhuns, e Chiquinho Barros, no início da década de 1950; 2- capa do livro "Lampião, o Cangaço e Outros Fatos no Agreste Pernambucano"; 3- Frei Chico; 4- capa do livro "Vida de Dom Expedito Lopes; Bispo Mártir de Garanhuns”.
**Fontes: Livros acima citados.
Boa noite Roberto. Me chamo Renato Lima e venho lhe pedir que divulgue a situação que está ocorrendo no residencial Antônio Cordeiro localizado na cohab3, Garanhuns. Existem várias ruas com as lâmpadas queimadas, já entrei em contato várias vezes em contato com a secretaria de infraestrutura relatando o problema, porém a equipe de iluminação pública nunca apareceu aqui para ver a situação de escuridão que vivenciamos diariamente. Desde já agradeço pelo espaço e peço que divulgue esse apelo em seu blog, pois tem lâmpada que já está queimada a mais de um ano.
ResponderExcluir