“Eu estava
literalmente passando fome há dias, doente, perdido em Salvador. Tinha fugido
de um sanatório psiquiátrico onde fora internado por meus pais – não porque me
queriam fazer mal, mas porque estavam desesperados para controlar o filho
'rebelde'. Vaguei sem rumo pelas ruas da cidade, que me era completamente
estranha, sem um centavo no bolso, até que alguém me disse que havia uma freira
que poderia me ajudar – eu já corria o risco de ser preso por vagabundagem. Fui
a pé até a casa da freira. Juntei-me às muitas pessoas que estavam ali em busca
de socorro, chegou minha vez, e de repente estava frente a frente com ela.
Perguntou o que eu queria – e a resposta foi simples: 'Não aguento mais, quero
voltar para casa e não tenho como'. Ela não fez mais perguntas (O que está
fazendo aqui? Onde estão seus pais? Etc.). Eu não comentei que tinha fugido do
hospício e que corria o risco de voltar pra lá. Ela pegou um papel em sua mesa,
escreveu 'Vale um bilhete de ônibus até o Rio', assinou, e pediu que fosse à rodoviária
com ele e mostrasse a qualquer motorista. Achei uma loucura, mas resolvi
arriscar. O primeiro motorista que leu o que estava escrito no papel mandou que
eu embarcasse. Isso era o poder daquela freira: uma autoridade moral que
ninguém ousava desafiar."
É com lágrimas nos
olhos que escrevo essas linhas. Obrigado, Irmã Dulce, por seus dois milagres:
matar a fome de alguém e permitir a volta do filho pródigo.”
*Paulo
Coelho foi parceiro de Raul Seixas nos três primeiros discos do cantor. "Água Viva, Gitã, Trem das Sete, Medo da Chuva", dentre outras músicas conhecidas do artista são de autoria dos dois. Hoje ele é um dos escritores que mais vende livros no mundo.
Um exemplo tão simples e natural escrito por um dos maiores escritores brasileiro testemunhando a razão de viver da primeira SANTA BRASILEIRA ,a qual, pela televisão e jornais eu pude conhecê-la.
ResponderExcluirUm dos maiores escritores do Brasil escreve uma carta desta magnitude e chora ao lembrar dos atos e ações da PRIMEIRA SANTA BRASILEIRA, IRMÃ DULCE DA BAHIA. Lindo e emocionante o testemunho verdadeiro de um homem das letras e das artes!
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