Por Michel Zaidan Filho
Não há um
acontecimento mais debatido, na imprensa internacional, do que o ataque as
torres gêmeas do Wolrd Trade Center, em Nova Iorque. Os Estados Unidos
tinham sofrido antes as consequências de uma dura guerra civil que até hoje
deixou sequelas raciais no país.
O ataque ao World Trade
Center seria a segunda guerra em solo americano, agravada pela autoria de
agentes externos. Descontados os efeitos da derrota no Vietnam e a
contracultura dos anos 60, o 11 de
setembro representou um trauma na ideia da invulnerabilidade do grande país
do Norte.
A maioria dos
analistas da política internacional concorda que o evento e as mortes que ele
causou provocaram uma grande mudança na política externa americana. Após o
ocorrido, a política dos direitos humanos foi servida pelos diversos governos
nacionais à lá carte, no sentido de sua submissão as conveniências estratégicas
e econômicas das grandes nações.
Quem o disse foi a
alta comissária dos direitos humanos da ONU. A começar pelos EUA, com a edição
do patriótica, que no dizer do romancista Gire Vidal, suprimiu na prática as
liberdades civis em solo americano em nome da segurança dos cidadãos. Foi
quebrado o sigilo das comunicações postais e eletrônicas e os estrangeiros
foram (ainda são) vítima de perseguição em razão da cor, da religião ou da
ideologia.
As consequências
mais graves, contudo, manifestaram-se na política externa norte-americana,
submetida doravante a agenda "de guerra ao terror", o que representou
uma espécie de carta branca para invadir, perseguir, matar e destruir os países
do Oriente Médio e Ásia Central, suspeitos aos olhos do Pentágono de colaborar
com os militantes da al caida ou Bin Laden.
Aventuras militares
que arrastaram consigo a maioria dos países europeus, com exceção da França e
da Alemanha. Os americanos nunca aceitaram o fato de que a União Europeia
tivesse uma política externa independente. A lealdade canina dos ingleses e a
presença militar americana em terras europeias -representada pela OTAN - mesmo
depois do fim da guerra fria só tem como explicação a permanência da
influência de Washington no contexto da política externa da Europa. De nada
adiantou o manifesto assinado por Habermas e Derrida por uma política externa
independente. A agenda de "guerra ao terror" triunfou em toda linha
arrastando consigo os principais governos europeus, com e cação da Alemanha de
Ângela Merkel.
A invasão da Líbia,
a guerra civil na Síria e o apoio à ditadura egípcia, que derrubou o governo
legítimo da irmandade muçulmana, é a prova inconteste da hegemonia americana na
política internacional. Esta agenda tem um pesado custo: a guerra movida pela
frente ocidental contra o estado islâmico tem provocado a morte de muitos civis
e forçado a imigração maciça de velhos, doentes, mulheres e crianças.
Isso levando
os países europeus a fecharam as fronteiras e não respeitarem as
leis humanitária de conceder o direito de refúgio a esses imigrantes. Numa
política de absoluto cinismo e indiferença para com o sofrimento humano.
Aceitam fazer parte da coligação capitaneada pelos americanos contra governos
árabes, mas não aceitam acolher as vítimas dessa calamidade humanitária.
Simultaneamente, os países membros da "entente" antiterror tornam-se
alvo, por excelência, das ações do estado islâmico, em represália a essa
política antiterror. Em alguns casos, o desrespeito cultural alimenta a guerra,
como o jornal francês que publicou charges ofensiva ao islamismo.
O certo é que
depois do 11 de setembro o mundo ficou mais inseguro e inóspito para se viver.
Até hoje se debate as causas verdadeiras do ataque às torres gêmeas,
especulando os motivos internos do governo de George Bush, nos
desdobramentos desse episódio e suas relações com a família de Bin Laden.
O fato é que a
política internacional voltou, como nunca, a ser comandada pelos interesses
estratégicos e comerciais dos Estados Unidos e as liberdades públicas sofreram
um enorme golpe no mundo inteiro.
*Michel Zaidan Filho é cientista político e professor da UFPE.
**Foto: Folha de São Paulo/UOL
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