Dez perguntas que o jornalista Homero Fonseca faria ao ministro Sérgio Moro, se estivesse presente à audiência que acontecerá amanhã, no Senado Federal:
1 — O Sr. cursou o programa de instrução de advogados da Harvard Law
School em 1998 e participou de programas de estudos sobre lavagem de dinheiro
promovido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos. Durante a Operação
Lava Jato, o senhor manteve contato com alguém ligado a alguma instituição
americana? Qual instituição? Quando? Com quem? E sobre o que conversaram?
Quantas vezes nesse período o senhor viajou aos EUA?
2 — Em seu célebre artigo sobre a Operação Mãos Limpas, na
Itália, o senhor enfatiza que a Mani Puliti somente foi possível pela
atuação dos chamados pretori d’assalto (juízes de ataque). O senhor se
comportou exatamente assim durante a Lava Jato. O senhor se considerou um juiz
de assalto. O senhor achou que, porque tinha apoio cerrado da grande mídia,
havia ganho “legitimidade direta da opinião pública” e por isso podia atropelar
as leis, como vazar ilegalmente uma conversa de uma Presidenta da República.
Agora que suas intenções, sua parcialidade estão vindo a público, o senhor
ainda acredita nessa estratégia? Continuará agindo como se estivesse acima da
Lei?
3 — Agora o senhor é quem está sendo vítima de vazamentos. Mas o senhor
sempre foi um mestre dos vazamentos. Elogiou o método, no referido artigo,
registrando de forma aprovativa que “a investigação vazava como uma peneira”. E
explicou: “Tão logo alguém era preso, detalhes de sua confissão eram veiculados
no L’Expresso, no La Republica e outros jornais e revistas
simpatizantes.” O senhor usou a mesma tática. Quem são os veículos
“simpatizantes”, no seu caso? Com quais órgãos de imprensa o senhor mantinha
contato mais frequente durante a Lava Jato? E que tipo de contatos eram esses?
Por que o senhor, se não tem nada a esconder, não abre seu sigilo telefônico?
4 — No mesmo artigo sobre a Mãos Limpas, o senhor relativiza a
presunção de inocência, um dos pilares do nosso Direito. Com efeito, na Lava
Jato inúmeros dos seus atos demonstram claramente haver o senhor partido de uma
“presunção de culpa” do ex-Presidente Lula e do PT. Uma rápida olhada no
noticiário revela uma sincronização entre suas ações e o momento
político: no dia 4 de março de 2016, o senhor determinou, sem justificativa
convincente, a condução coercitiva de Lula, apenas nove dias antes das
passeatas pró-impeachment já marcadas. O fato atiçou as turbas de uma classe
média inflamada que foram às ruas no dia 13 em todo o país, gritar “Fora
Dilma”. No dia 16, o senhor, numa ousada jogada, determinou ilegalmente o
vazamento das conversas entre Lula, a Presidenta Dilma, familiares e advogados,
impedindo assim a nomeação do ex-presidente para o Ministério. O ministro Teori
Zavacki condenou a iniciativa mas, confiante na sua popularidade de justiceiro,
o senhor pediu desculpas e seguiu em frente.
Posteriormente, em ações espetaculares, dois ex-ministros dos governos
Lula e Dilma foram presos — Mantega, no dia 22 de setembro (em pleno hospital,
quando visitava a mulher em grave estado de saúde, e liberado no dia seguinte
porque pegou mal) e Palocci, no dia 26. Estávamos às vésperas das eleições
municipais de 2 de outubro.
Tem mais: no dia 01 outubro de 2018, faltando seis dias para as
acirradas eleições presidenciais, o senhor, sem justificativa convincente,
liberou parte da delação de Palocci incriminando Lula e o PT. Numa perspectiva
história, há um evidente sincronismo entre suas decisões “imparciais” e
decisivos acontecimentos políticos. Especialistas internacionais, como o
professor de Havard, John Comaroff, antropólogo estudioso do chamado lawfare — uso
político da justiça –, consideram que a Operação Lava-jato violou a lei para
criar “presunção de culpa” de Lula. O senhor nega a sincronia evidente desses
fatos? Sustenta, diante de todas essas evidências, que são simples
coincidências?
5 — O senhor condenou Lula à prisão em 12 julho de 2017. No dia 04 de
abril de 2018, o STF negou o habeas corpus de Lula, por 6 votos a 5; no dia
seguinte, o TRF4 autorizou o senhor a decretar a prisão de Lula. Dezenove
minutos depois, o senhor expediu o mandado de prisão. A Justiça brasileira,
neste caso, deve ter batido o recorde mundial de celeridade. O fato revela
claramente um ânimo condenatório contra Lula. Ou o senhor costuma ser tão
rápido em todas as ações? Pode dar exemplos ou está com amnésia?
6 — No dia 08 de julho de 2018, um desembargador de plantão do TRF4
concedeu um habeas corpus a Lula. O senhor se encontrava de férias. Mesmo
assim, conforme noticiário da imprensa sobre o célebre caso, o senhor se
insurgiu contra a decisão de um superior hierárquico. É verdade que naquele dia
o senhor se encontrava de férias, em Portugal? É verdade que o senhor ligou
para delegado da PF instruindo-o a manter Lula preso? O senhor se comunicou com
o presidente do TRF-4 naquela ocasião? Com quem mais o senhor se comunicou
naquele dia inesquecível?
7 — Em relação às atuais denúncias de cumplicidade entre o senhor e os
procuradores da Lava Jato, o site jornalístico Intercept em nenhum momento
revelou sua fonte (direito assegurado à imprensa), nem nunca citou um hacker.
Com base em que o senhor afirma que foi hackeado, antes mesmo de
qualquer investigação? Quais seus “elementos de convicção” nesse caso? Ao mesmo
tempo, o senhor mandou a PF investigar a “atividade criminosa” do suposto hacker.
Sendo chefe da PF e estando no centro das acusações, por que o senhor não
se afastou até agora, temporiamente, do Ministério da Justiça, como é da boa
praxe governamental? O senhor não enxerga nenhum conflito de interesse em sua
postura, nenhuma suspeição? Veículos de imprensa que sempre o apoiaram, como a Veja
e o Estadão, pediram abertamente sua renúncia. Quando os apoiavam, eles
estavam certos? E agora, estão errados, defendendo a “atividade criminosa de um
hacker”?
8 — Tentando defender-se das sérias acusações, o senhor tem se
comportado como uma biruta midiática: ora diz que é tudo falso, um “plano
criminoso” de um suposto hacker para atacar a Lava Jato; ora, admite
fatos como verdadeiros, confessando um “descuido” ou não enxergando “nada
demais” na sua parceria fora dos atos processuais com o Ministério Público;
ora, procura o benefício da dúvida, afirmando não se lembrar de fatos recentes
e importantes. Afinal, qual é sua linha de defesa? Por que ao mandar investigar
o caso, o senhor enfatiza o como as informações foram obtidas, mas deixa
de lado o conteúdo das conversas?
9 — A se confirmar a veracidade das mensagens divulgadas pelo
Intercept — o que o senhor admitiu, pelo menos parcialmente, ao confessar um
possível “descuido” — o senhor transgrediu frontalmente as leis e o próprio
Código de Ética da Magistratura, que reza em seus artigos 8º e 9º que o juiz
“deve manter ao longo de todo o processo uma distância equivalente das partes,
e evitar todo o tipo de comportamento que possa refletir favoritismo,
predisposição ou preconceito” e ainda que “cumpre dispensar às partes igualdade
de tratamento”. Ao contrário, os advogados da defesa do réu sempre se queixaram
de sua parcialidade e denunciaram sua suspeição. Comunicar-se frequentemente
com os acusadores, trocando ideias, articulando ações e passando orientações, num
canal secreto da internet — e, portanto, às escondidas da outra parte, dos
demais órgãos do próprio Judiciário e da Imprensa — na sua opinião é
conduta normal e ética?
10 — As “10 medidas de combate à corrupção” propostas pelo Ministério
Público e apoiadas pelo senhor, atualmente em tramitação no Congresso, validam
“provas ilegais colhidas de boa-fé”. No caso do Intercept, tudo transcorre
dentro da boa fé jornalística, cuja missão é informar o público, mesmo quando
as notícias contrariem autoridades e interesses. O senhor mudou sua posição ou
ela só é válida para os outros? Em outras palavras, o senhor pensa que detém o
monopólio da boa fé?
Uma das perguntas que deveria ser feita ao sensato Sérgio Moro: O Sr. concorda que Lula estava diante ou a frente, como CHEFE do maior escândalo de corrupção da história do mundo?!?!?!
ResponderExcluirA resposta é, SIM!!!!!!
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