Por Michel Zaidan Filho
Duzentos e sessenta e cinco
juristas do Brasil inteiro, não formados pelas redes sociais naturalmente,
acabam de assinar um manifesto declarando a inconstitucionalidade do decreto
assinado pelo ministro da Educação e operador do mercado financeiro, que
bloqueia 30 % dos recursos orçamentários destinados por lei ao custeio e
investimento nas universidades públicas brasileiras.
Como se recorda, o ministro
tinha inicialmente justificado o corte, inicialmente, em três universidades
públicas, em razão das críticas de sua comunidade científica à política do governo
Bolsonaro. Em represália, o dito gestor efetuou o corte orçamentário naquelas
IESs. Depois ampliou o bloqueio para todas as instituições públicas
federais. Um corte linear como esse
impede objetivamente as universidades de cumprirem suas metas científicas,
pedagógicas e extensionistas na sociedade.
É a conhecida estratégia de
matar por inanição. Ao invés de um ataque frontal à autonomia administrativa e
científica do ensino público superior, opta-se pelo estrangulamento
econômico-financeiro das instituições. Estratégia perigosa, por expor mais
ainda a crise das universidades perante a opinião pública, como se elas
deixassem de fazer suas atividades em prol da sociedade, por uma inaptidão
própria. Mais ainda, quando comparadas com as privadas, que custariam mais
barato e formariam mais profissionais. Comparação absurda. Pois, o
desenvolvimento da pesquisa, das inovações tecnológicas e propostas de mudança
social fosse barata.
Nenhum país se desenvolveu,
sem autonomia científica. Autonomia esta que, num país como o Brasil, jamais
poderia ser financiada pela iniciativa privada. As empresas privadas, quando
financiam projetos de pesquisa, fazem-no em função de seus interesses
específicos, com retorno econômico garantido. As universidades públicas não são
limitadas por esses interesses. Elas são órgãos estratégicos dos interesses
nacionais.
O ódio, ora, dirigido às
universidades brasileiras é sinônimo de uma estratégia de desmonte do sistema
de ensino federal, em benefício das escolas privadas que, sem a menor qualidade
de ensino, ostentam impudentemente o título de universidade. Colégios de 3º
Grau, sem professores qualificados, sem laboratórios de pesquisa, sem planos
didático-científicos, sem responsabilidade social. A privatização do ensino
público no Brasil é um crime de lesa-sociedade que deve ser combatido
energicamente por todos aqueles que apoiam a tese –genuinamente democrática –
de que a educação pública, de qualidade, gera oportunidades sociais – o tal
capital simbólico- que promove a mobilidade social.
Não há países socialmente
justos, sem educação republicana, laica, e de excelência acadêmica. O nosso
país, malgrado todas as vicissitudes, conseguiu a muito custo construir um
sistema público de ensino superior, que é o primeiro na América Latina. Algumas
de suas universidades estão entre as melhores do mundo. Elas têm ajudado, à sua
maneira, a superar as amarras do subdesenvolvimento, da tirania e a
discriminação social. Que vantagem poderia advir de sua destruição?
*Michel Zaidan Filho é natural de Garanhuns. Mora no Recife e trabalha como professor na Universidade Federal de Pernambuco.
Em defesa das boquinhas e mamatas com dinheiro público!
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