Do jornalista Reinaldo Azevedo, na Folha de São Paulo:
Goste-se
ou não de Lula, o fato é que ele tem no sangue, nos gestos, no olhar, na
linguagem, nos esgares, o prazer da política. Falar sobre o assunto, como se
viu na entrevista concedida aos jornalistas Mônica Bergamo e Florestan
Fernandes Jr., da Folha e do El País, respectivamente, o revigora. E, nesse
particular, ele é o oposto de Jair Bolsonaro. Erre ou acerte, o petista, à
diferença do atual presidente, é dono de uma fala caudalosa, que remete a
vivências várias — dos palácios e das ruas —, articulando memórias,
conectando-as com ideias que estão por aí, em trânsito e em choque. Faço um
registro gramatical. Assisti à entrevista em busca de anacolutos, de expressões
soltas, de palavras sem função sintática que atravancam o discurso. Nada! A
fala é límpida — isso independe de o ouvinte, ou espectador. Aprovar ou
reprovar o que ele diz.
Louvem-se,
assim, de saída, a sua resiliência e, à diferença do que afirmou o governador
de São Paulo, João Doria (PSDB), a sua sanidade mental. Não se percebeu, em
nenhum momento, sinal de confusão, de perda do fio, de palavras ao léu.
Reitero: não estou entrando no mérito do que disse Lula. Em uma hora e 54
minutos de entrevista, por exemplo, não há sombra de autocrítica na sua fala —
ou, vá lá, de crítica ao modo como o PT se conduziu no poder. Sim, compreendo a
circunstância. Preso desde 7 de abril do ano passado, é a primeira vez que fala
com liberdade. Fez um uso político do tempo. Não vou censurá-lo por isso. Ainda
voltarei a esse tema. Quero me ater, por ora, à sua resistência.
Poucos,
caminhando para ninguém, suportariam com tanta dignidade o reverso da fortuna.
Há pouco mais de oito anos, ele deixava o governo como o presidente mais
bem-avaliado da história. Na sua passagem pelo poder, fez-se uma liderança
mundialmente respeitada, reverenciada por governantes das mais variadas
tendências e de todos os quadrantes do planeta. No front interno, governou
praticamente sem oposição — excetuando-se o DEM e o PSDB. A elite brasileira
que hoje lhe vira as costas praticamente se ajoelhava a seus pés. Este cronista
que escreve agora era das poucas vozes dissonantes, o que levou o líder petista
e pespegar em mim a pecha de “blogueiro falastrão” num encontro com petistas.
Não era fácil enfrentar a patrulha organizada dos seus partidários e
admiradores. Mas não vou me ater a isso não.
Contrasto
aquele que chegou a ser tratado quase como um imperador absolutista com o
presidiário de agora, recolhido a uma cela — que ele prefere chamar “sala” —,
em absoluta solidão, vendo o mundo pelo noticiário de TV, preenchendo as suas
horas, como disse, com filmes que lhe passam em pen drives, longe da verdadeira cachaça de que é dependente: não é
a pinga, mas a política. Em dois anos, viu morrer a mulher, Maria Letícia; o
irmão de que era mais próximo, Vavá, e, supremo sofrimento, o neto Arthur, de
apenas sete anos.
Já
vi gente se debulhar em lágrimas de autocomiseração por muito menos e por
contrastes bem mais suaves, não conseguindo suportar com altivez revezes muito
mais brandos. Lula, e qualquer especialista em saúde mental certamente poderá
atestá-lo, está inteiro. E pediu aos jornalistas que não fizessem o registro de
um homem alquebrado. Enfrentou com frieza a primeira e dura questão de Mônica
Bérgamo: está preparado para não sair da cadeia? E, ainda que se mostre
compreensivelmente obcecado por sua absolvição, a resposta inequívoca é “sim”.
SEM PROVAS
Este
é um post que tem o objetivo de
fazer, sim, o elogio da resiliência demonstrada pelo ex-presidente. Tanto mais
porque ele foi, com efeito, condenado sem provas. Já fiz este desafio aqui e o
repito: que alguém aponte, então, na sentença de Sérgio Moro onde está a
comprovação da denúncia feita pelo Ministério Público Federal, segundo quem o
tal tríplex de Guarujá era propina decorrente de três contratos com a Petrobras
celebrados por consórcio integrado pela OAS. Não existe nem sombra de
evidência. E o próprio Sérgio Moro foi obrigado a reconhecer isso, deixando
escrito, com todas as letras, que inexiste liame entre o imóvel e os tais
contratos. O TRF-4 manteve a condenação e reduziu a pena sem enfrentar a
questão. Agora a Justiça de São Paulo reconhece que Marisa Letícia efetivamente
pagou à Bancoop por cotas de um apartamento e que desistiu da aquisição. Tanto
é assim que a sentença determina que o dinheiro seja devolvido. Nunca se viu
propina em que é o beneficiário — o corrupto passivo — a pagar mensalidades ao
corrupto.
Estou
longe de ter a certeza que tem Lula de que vai deixar a cadeia. A forma como a
Lava Jato e seus braços urdiram os processos não o autoriza a ter muitas
esperanças. Mas ele tem um vício, lembram-se? É a política. Não entregar os
pontos é a forma que encontrou de manter a sanidade mental e espiritual. E
isso, por si, o torna uma pessoa admirável.
*Reinaldo Azevedo
sempre foi um crítico implacável do PT e dos governos Lula e Dilma. Foi ele
quem criou o termo petralha, associando os petistas aos famosos ladrões das
histórias em quadrinhos.
**Foto: Twitter
Que coisa do arco da velha, não!!! O melhor jornalista do país ser BAJULADO pela putada petralha. Justamente, o dito cujo que o PT sempre teve ódio mortal.
ResponderExcluirP.S.: - Eu vivi pra ver...
No Brasil a IGREJA TEM PARTIDO,A IMPRENSA TEM PARTIDO,MILITAR TEM PARTIDO ,JUIZ TEM PARTIDO,MAS O PROFESSOR TEM QUE SER NEUTRO.
ResponderExcluirSÃO COMBOIOS DE VAGABUNDOS SEM CÉREBRO E ACÉFALOS OS QUE PREGARAM E PREGAM ESCOLA SEM PARTIDO E QUE TEM QUE CANTAR O HINO NACIONAL E NO FINAL TEM QUE PREGAR A DOUTRINA PARTIDÁRIA "BRASIL ACIMA DE TUDO E DEUS ACIMA DE TODOS".