Em 2008 escrevi uma crônica sob o título “A Manoel
Rabelo”. Ela, inserta em minhas “Linhas e Linhas das Redes Sociais -Volume
III”, já, já no prelo, valorizado pelo prefácio do amigo Roberto Almeida.
Naquele 2008, foi-me dado dizer, eu, Secretário de
Cultura da cidade:
“Fui criança ouvindo falar dessa Banda. A Banda da
minha cidade. A Banda Musical Manoel Rabelo. Mais tarde, já adolescente...
Antes, pré-adolescente, e criança, ainda, aí é que me falavam dos espetáculos
musicais dela.
Nos Natais. Ah! E em outras efemérides da cidade,
quem não a via? Linda. Garbosa. Vertical... Sim, também vaidosa. E, por que
não? Orgulhosa, porque orgulho da cidade e da região. E milhares vinham pra
Garanhuns presenciar nosso Natal e se deleitar com o encanto de nossa Banda.
Na época, éramos tidos como a capital do Agreste de
Pernambuco. E como esse cognome nos envaidecia. Para não dizer: orgulhava. Na casa de meus pais, 161, da Dantas
Barreto. Na casa dos Valença, 123, da Nilo Peçanha, só se falava da Banda
Musical Manoel Rabelo. E eu me lembro: com muito orgulho.
Eu, criança ainda, e depois... Eu torcia por um
encontro com a Banda. Para ouvi-la. Para segui-la. Onde quer que ela fosse ou
estivesse. A minha disposição. A minha atenção... Denunciavam meu entusiasmo.
Ah! Quem me dera poder fazer alguma coisa por essa
Banda - dizia aos meus botões. O consolo era que via dezenas, fazendo de tudo
para mantê-la sempre garbosa, vertical... Orgulhando Garanhuns por onde
passava.
Seu cardápio musical era grande. Imenso! Digno de
uma grande orquestra. Mas ela, através de seus músicos, atendia pela alcunha
simples, singela... De Banda Musical Manoel Rabelo.
Os anos fluíram. As décadas escorreram. Até que um
dia a insanidade de alguns resolveu pôr fim a Banda. Terminar com a Manoel Rabelo.
Como se fora iniciativa inútil, abjeta do passado. Passado distante,
esquecido... Afinal, para que preservar?
E, pior, cortando e liquidando com a alegria da gente. Sim! Porque eles
desconheciam a história da cidade, seus encantos, suas riquezas... E a Banda
Musical Manoel Rabelo, segura e, positivamente, era um deles. Que brilharam,
através de décadas. Dentro e fora da “Cidade de Simôa”. Porque sempre instada
sua presença em dezenas de cidades de Pernambuco e de outros Estados.
Lá na frente, fora eu convocado para dirigir a
cultura da minha cidade. Disse a mim mesmo, não. Não! Não posso me permitir.
Porque careceria, à empresa, de disposição, de dedicação. De... Afinal, ao meu
olhar, tanto se precisava construir pela cultura de Garanhuns que a ausência de
qualquer desses requisitos seria excludente ao exercício, pelo menos,
satisfatório dessa empresa. E, depois, ainda me dizia: há tantos mais dispostos
e disponíveis que eu. Mais preparados... Também! Logo, por que eu? Por quê? E
não, algum desses?
De repente, vêm-me à mente: A1 - O centenário da Banda.
Que se aproxima. E dele, poucos, muito poucos lembram; A2 - Os nossos artistas.
Que brilhavam. Eles, à própria sorte; A3 - Os nossos lindos festejos. Que
encantavam. E atraíam turistas. E que davam tanto orgulho à cidade. Alguns, já
mortos. Outros, já morrendo; A4 - Os nossos altares turísticos. Que atraíam
tantos. Sim, aqueles que traziam riquezas para nossa gente. Em estado de
abandono. Porque tratados com desleixo e desdém; A5 - Enfim, a nossa memória,
sendo apagada. Ou pelo menos correndo esse risco. Conquanto, beirando esse
perigo, cada vez mais iminente. Daí sussurrar à sua defesa. À sua preservação.
E como que dizendo: não deixem que façam comigo aquilo que fizeram ao
Castelinho e aos traços da cidade, estes precursores ao de Oscar Niemeyer com
sua obra prima, Brasília. Obras de
Ruber. De visão. Para Garanhuns do futuro. A6 - E ainda. Sim! E ainda toda uma história... Que se
procurava esquecer, matar... Relegando a patamares inferiores, desprezíveis...
Por mãos, essas, sim, assaz inferiores. Assaz desprezíveis... Ungidas por
equívoco. Sim, por equívoco a gestões da cidade. Que, registro, só e tão só,
para prevenir nosso futuro.”
Hoje, passados incríveis onze anos, ela continua
aí. Vertical, altiva, linda... Melhor do que nunca, e a homenagear o mesmo
Manoel Rabelo de outrora. Só que, agora, revestida do charme do prenome
“orquestra”. Que sempre fora, tamanho seu ecletismo musical. Que a ninguém cabe
eclipsar. Viva a Banda Musical Manoel Rabelo! Ou melhor: Viva a Orquestra
Manoel Rabelo! Que sempre fora orquestra. Posto que sem o prenome.
Também, hoje, passadas tantas primaveras, é me dado contar que alguém me
procurou na época, com a sugestão de eu denunciar o vilão da obra? Sim, o autor
da morte desse patrimônio musical da nossa cidade. Pensando em uma passagem de
Aluízio Azevedo, disse-o: “Denunciar o infame? Atirar-lhe à cara a prova de sua
vilania... Não! Não o faço. Deixo que a história o faça”.
* Acadêmico. Empresário. Figura Pública.
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