Não tenho ilusões de final de
ano.
Não guardo orações especiais
a Deus.
Se Deus me escuta, saberá
entender o meu silêncio.
Também não faço planos.
Muito menos, fantasio qualquer
amor ideal.
Se acaso alguém no tempo me
deixou para trás,
não me quedo em ressentimentos.
Tampouco aceito o dedo
acusador de culpas que jamais serão minhas.
Reservo-me apenas o
livre-arbítrio de sonhar,
antes
que os fascistas batam à minha porta
Decretando o fim irrevogável
das utopias.
Guardo-me ainda das ilusões
de regenerar
a humana espécie de seus pecados capitais.
(Quem sou eu, de mísera alma,
a pretender
recriar
o meu próximo, que às vezes nem enxergo
Nas multidões cheias desse
vazio de existir?).
Não me iludo com planos de
sociedades, secretas ou anônimas,
se sei que o dinheiro é arma de qualquer negócio.
Não imagino messias
redentores à esquerda,
muito menos à direita.
Não pretendo cabalar o
divino, esconjurar demônios,
profetizar tempos de vacas magras ou gordas.
O que faço é me calar nestes
dias de dezembro.
E vagar pelos céus agrestes
meu olhar mesmo.
Vislumbro planetas, a lua
melancólica, as estrelas no tropel das constelações.
As horas, então, inexistem.
Os segundos são quimeras.
Sequer eu existo.
E me quedo sorrindo para o
céu profundo,
resplendendo num fulgor negro de luzes.
Penetro assim o eterno, manto
incorpóreo infenso
aos
calendários, às memórias de família, aos amores perdidos,
Às mortes e nascimentos.
Talvez Deus aí habite.
Talvez a vida aí pulse.
E todo dia seja 31 de
dezembro.
E toda eternidade seja 1º de
janeiro.
Recife/PE, 20/12/2018.
*Roberto Numeriano é escritor e autor dos romances Nuvens
Vermelhas, Céu de Santo Amaro, As Águas do Fim do Mundo e Folhas Mortas.
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