Esse era o primeiro sinal de
que o Natal se aproximava. Então, tudo virava preparativos num burburinho de gente
correndo para as Casas Zé Araújo, aproveitando-se dos “queimas” promocionais, a
nossa Black Friday de décadas atrás.
Ali se comprava chitões, Terbrim, Mescla,
Popelini e o Tergal sempre deu boas calças e paletós. A preferência do Linho
ficava entre os mais caprichosos e abastados. O mesmo se dava na Loja G. Cunha.
A mando das costureiras, os aviamentos podiam ser comprados em Michel Zaidan ou
Jaime Pinche. Os homens preferiam muito a Sapataria Moderna que expunha logo na
entrada do estabelecimento, na esquina com a Rua Dom José, Chapéus Prada
enquanto a vitrine era repleta de sapatos Vulcabrás. Já os Capotes Serranos eram
expostos no Armazém Avenida,bem ao lado da Casa Combate que por si pendurava guarda
chuvas e sombrinhas coloridas, além de chapéus de marca mais simples.
Quem
podia comprava na Loja Jóia Magazine as famosas camisas Volta ao Mundo. Elas
existiam em mangas compridas e curtas, branquinhas e bonitas. Já os móveis e
eletrodomésticos ficavam por conta de Ferreira Costa e S. Moraes.
Na Livraria de
Manoel Golveia, viam-se expostos os mais belos cartões de Natal. Era ético,
solidário e cheio de ternura enviá-los a amigos e parentes saudando ao Natal e
Ano Novo. No espaço da Avenida Santo Antonio tudo ia se apertando com o pessoal
do Parque Serrano instalando os brinquedos na parte superior da avenida. Assim
também iam providenciando os donos de barracas de jogos, comidas e bebidas.
Costumava-se
reservar uns trocadinhos para perdê-los nos bingos chamados num microfone
enrolado com uma flanela e alguns varavam a madrugada sem apontar ganhadores. O
artesão Pantaleão dava os últimos retoques nas figuras que compunham o Presépio. O
quadro do Nascimento de Jesus era colocado na plataforma da Loja Flores
de Abril e sempre chamava a tenção pelo tamanho e perfeição das figuras.
A essa altura a Prefeitura já estendia os
cordões de lâmpadas por toda a Avenida
Santo Antônio. Dependendo do capricho do prefeito, estrelas, anjos e sinos
confeccionados em compensados eram afixados nos postes do centro da cidade. Duas torres de madeira e
carregadas de lâmpadas coloridas afixadas em bocais de louça anunciavam a chegada
do Natal e do Ano Novo.
A festa estava pronta e o resto era com o povo. E a
população fazia a sua parte convergindo para o coração da cidade nos dias
cruciais da festa. No beco em frente ao Cinema Jardim, instalavam-se as barracas
mais populares e já a partir das cinco da tarde o cheiro de caju, manga,
abacaxi outras frutas, misturavam-se ao de tripa, passarinha e carnes diversas
assando. Então, o Alto Falante da Roda Gigante, tascava uma música de vez de
Roberto Carlos e as sequencias musicais eram entrecortadas pela voz fanhosa do
locutor que, trancado numa cabine de lata atendia aos bilhetinhos apaixonados:“ Atenção, muita atenção A. M.S, que
está de blusa azul e saia plinçada. Escute
esta linda gravação como prova de meu amor. Assinado: .L. J.S.
O estribulim era
uma espécie carrossel empurrado à mão. No centro um sanfoneiro e seus ajudantes
puxava o fole e quanto mais bebiam os empurradores, o troço rodava numa velocidade
deixando impossível ficar em pé quem dele descia após a corrida. A Banda Manoel
Rabelo já estava lá no centro do Largo do Colunata, com seus músicos de quepe
brilhoso e fardamento impecável azul marinho, sob a batuta dos maestros que se
sucederam ao longo dos anos.
Um dobrado atrás do outro até chegar o momento da
Missa do Galo ou da Passagem de Ano. ”Faltam só 10 minutos para virar o ano! Diziam
alguns apressados em direção a Catedral de Santo Antônio para assistir a Missa
da Virada do Ano. Dito e feito. O sinal era ver a banda se deslocar em marcha, onde
mais alto do que os demais integrantes, via-se o bojo da Tuba de “Correntão”,
brilhando à base da caprichada pasta de Caool.
Seguiam decididos em direção ao
altar montado na escadaria do Templo. Doze horas em ponto, Garanhuns fechava os
olhos num simbolismo unânime em todos os lares. Um minuto apenas de escuridão e
que mais parecia uma eternidade em meio a fogos, gritos de euforia, lágrimas, reflexões,
sonhos rezados e as melhores expectativas de um ano bom. O Ano velho ia embora
em meio à escuridão para nunca mais voltar.
O ano Novo, chegava com o reacender
das luzes, toque do sino e abraços entre
as pessoas com ares de velha amizade. Naquele instante tudo passava a ser novo.
Noutro tempo era hoje. Tendo no DNA do Magia do Natal de agora, a
ancestralidade desses idos de natais passado.
Só para mostrar que em Garanhuns essas
festividades sempre tiveram algo de telúrico, profano, sagrado e poético.
Separando os parâmetros de tempo, permanece o mesmo sentido somados à
sofisticação e ao entendimento dos dias atuais. Eis aí a cidade enfeitada, recantos
banhados de luz, encantos de toda sorte. A cidade se acende como se reacendem
todas as nossas esperanças nessa época do ano. Evitamos discutir a dialética da
maior festa do Mundo Cristão, limitando-se ao processo pelo qual se levanta
sim, a auto estima de um povo.
A cidade escancara portas e braços para um
abraço a quem chaga. Do alto da torre da Catedral, vejo que Santo Antônio mostra
ao Menino Jesus a sua festa de aniversário. Noto uma perninha diante da outra
como se o Moleque Divino quisesse espernegar para correr pelas ruas e tocar as
luzes numa travessura humana... Burburinham as praças, restaurantes, bares,
hotéis.
A música se espalha no ar onde se canta e dança sem o desassossego da
timidez. Há ânimos em todo que parece ganha e tudo vida e vira brinquedo pra a gente
brincar, porque não há nada mais doce e infantil para o ser humano do que
sentir-se criança outra vez. Vejo nas “selfes” de famílias algo que carrega luz
para a retina da alma numa vaidade sem pecados e sem culpa.
Gostamos de uma
Garanhuns exposta ao que tem de melhor. O mais importante é o atrevimento de se
mostrar grande, expressiva em suas nuances de cidade bela. A conta à gente faz
uma vaquinha e paga. Sempre foi assim até quando não tinha nada. Bem mais que
as praças, é bom que nos enchamos de luz e que dos olhos saltem a nítida
alegria que possa se derramar rua à fora nesse cortejo que embala a alma de
amor intenso.
Meus aplausos.
*Gerson Lima é radialista. Uma das melhores vozes, um dos melhores textos e um dos comunicadores mais completos de Garanhuns.
ESSE CABRA É DOS MEUS!!! PROFISSIONAL QUE ESBANJA TALENTO!!! É UMA PENA UMA PESSOA TÃO GABARITADA COMO GERSON LIMA, NÃO SEJA MELHOR APROVEITADO EM NOSSA CIDADE POR QUEM DE DIREITO... QUE PENA!!!
ResponderExcluirP.S.: - ÀS VEZES FICO A ME PERGUNTAR: PARECE QUE A INVEJA, AQUI EM GARANHUNS, PERSEGUE O TALENTOSO, E O PIOR: ALÉM DO POUCO-CASO QUE FAZ, AINDA O BOICOTA...