Pessoas que votaram no presidente eleito, Jair Bolsonaro, querem que a
imprensa perca o senso crítico em relação aos fatos. Jornais e portais do
Brasil têm acompanhado a montagem do Ministério e revelado que boa parte dos
nomes anunciados até agora são de pessoas suspeitas, investigadas pela justiça.
Nós mesmos, aqui no blog, já divulgamos artigos com teor crítico, sempre de
forma respeitosa. Apenas nos recusamos a deixar de pensar, convencidos de que informar os fatos como
eles são é obrigação profissional.
Nas democracia a coisa funciona assim. Nas ditaduras é que a imprensa é
censurada.
Alguns procuraram desqualificar a crítica ao ministro colombiano
naturalizado brasileiro enumerando seu extenso currículo. Ora, de pouco adianta
muito título se a cabeça é doentia, ainda está na época da “Guerra Fria” em
pleno século XXI (os que não sabem o que foi a guerra fria podem pesquisar no
Google).
Vamos transcrever hoje dois textos importantes, para quem gosta de ficar
bem informado. Um é do jornal O Povo, do Ceará, da Grande Imprensa, portanto
sem nenhum verniz esquerdista. É uma reportagem sobre os investigados do futuro
governo. Atente bem para a palavra investigado, que não significa culpado. Isso
só acontece quando recebe uma sentença dada por um juiz.
CINCO FUTUROS MINISTROS ESTÃO SOB INVESTIGAÇÃO
Dos 13 ministros já anunciados pelo presidente eleito Jair Bolsonaro
para compor seu governo em 2019, cinco são ou já foram alvo de investigação.
Luiz Henrique Mandetta (DEM), Tereza Cristina (DEM), Onyx Lorenzoni (DEM),
Paulo Guedes e Marcos Pontes estiveram enquadrados em denúncias que envolvem,
no geral, ganhos financeiros irregulares. Bolsonaro já declarou que não farão
parte do governo ministros que tiverem denúncias ou acusações “robustas” ou que
se tornem réus.
Sobre o assunto
“Qualquer denúncia ou acusação que seja
robusta, [o ministro] não fará parte do governo", afirmou o presidente
eleito em uma entrevista coletiva após deixar a sede do Tribunal de Contas da
União (TCU), em Brasília. “É muito difícil hoje em dia você pegar alguém que
não tenha alguns problemas, por menores que sejam. Os menores, logicamente, nós
vamos ter que absorver. Se o problema ficar vultoso, você tem que tomar uma
providência”, também declarou, dessa vez em entrevista à TV Record no último
dia 14.
Bolsonaro é réu por apologia a estupro em
processo de 2016, movido pela deputada Maria do Rosário (PT), após ele dizer
que não a estupraria por ela “não merecer”. O presidente eleito também tem seu
nome em 29 processos no Supremo Tribunal Federal (STF). Ele defendeu a futura
ministra da Agricultura, Tereza Cristina, investigada por conceder incentivos
fiscais ao grupo JBS, se afirmando como réu. “Eu também sou réu e daí? Tenho
que renunciar ao meu mandato?”, disse, durante visita a uma competição de
jiu-jítsu no Rio de Janeiro no último domingo, 18.
Onyx Lorenzoni
O futuro ministro da Casa Civil Onyx
Lorenzoni é o que tem sua denúncia mais conhecida. Ele admitiu ter recebido R$
100 mil não declarados à Justiça Eleitoral por meio de caixa dois em 2014.
Recentemente, uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo mostrou outra
denúncia, revelando um documento que indica o recebimento de outros R$ 100 mil
em 2012, quantia sobre a qual o deputado ainda não havia dado informações.
LUiz Henrique Mandetta
Anunciado na última terça-feira, 20,
como futuro ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta é investigado por tráfico
de influência, suposta fraude em licitação e caixa 2 em um contrato para
implementar um sistema de informatização na saúde em Campo Grande (MS), no
período em que foi secretário.
Tereza Cristina
A futura ministra da Agricultura
teria concedido incentivos fiscais ao grupo JBS enquanto ocupava o cargo de
secretária estadual de desenvolvimento agrário e produção do Mato Grosso do Sul
enquanto arrendava terra para a JBS, conforme reportagem do jornal Folha
de S.Paulo. Segundo os delatores da empresa, a JBS conseguia um acordo para
obtenção do crédito e, pagava propina que variava conforme o valor obtido com
os créditos em troca.
Paulo Guedes
Guru econômico de Bolsonaro e futuro
ministro da economia, Paulo Guedes é investigado pelo Ministério Público
Federal (MPF) para apurar se o economista cometeu irregularidades na gestão
financeira de fundos de investimento. O MPF pediu que a Polícia Federal abrisse
um inquerito devido à suspeita de que os investimentos dos fundos de pensão
tenham sido aprovados sem uma análise adequada e tenham gerado lucros
excessivos a Paulo Guedes.
Marcos Pontes
O futuro ministro da Ciência e
Tecnologia, Marcos Pontes, foi investigado pelo Ministério Público Militar em
2006 para apurar se ele havia infringido o artigo 204 do Código Militar, que
proíbe a militares da ativa de se envolver em qualquer atividade comercial. Em
setembro de 2017, documentos divulgados pelo jornal Intercept mostravam
o astronauta como sócio majoritário da empresa Portally Eventos e Produções. Em
agosto, o recurso foi engavetado pela ministra Rosa Weber sob o argumento de
que o eventual crime já teria prescrito. (Jornal
O Povo).
Do jornalista Josias de Souza, do Grupo Folha, sobre a escolha do futuro
ministro da Educação:
No
processo de escolha do ministro da Educação, Jair Bolsonaro esteve muito
próximo de tomar uma decisão que elevaria sua estatura. Preferiu, entretanto,
rebaixar o teto de sua futura Presidência.
Bolsonaro
cogitou a sério nomear um craque: o educador Mozart Ramos. Vetado pela bancada
da Bíblia, Mozart foi trocado pelo colombiano Ricardo Vélez Rodríguez, indicado
pelo polemista Olavo de Carvalho.
Guru ideológico da família
Bolsonaro, Olavo de Carvalho já havia apadrinhado o chanceler Ernesto Araújo.
Está prestes a empatar com o DEM em número de ministros. Eis o placar: Olavo 2
X 3 DEM.
Nada é mais desesperador no
Brasil do que a unanimidade educacional. Entre os políticos, não há quem
discorde: reverter a deterioração do ensino público é uma prioridade máxima. A
despeito disso, a educação nunca dá o prometido salto.
Bolsonaro ajuda a entender o
motivo. Enquanto o presidente eleito transitava na área educacional entre o
acerto e o desastre, Paulo Guedes, o czar econômico do capitão, concluía a
composição de sua equipe livre de pressões.
Se um deputado evangélico se
dirigisse ao Posto Ipiranga para vetar um dos técnicos selecionados para o BC,
BB, BNDES e Caixa seria tratado a pontapés. Se Olavo de Carvalho ligasse para
apadrinhar fulano ou beltrano seria ignorado.
As estatísticas sobre
analfabetismo funcional revelam que as escolas brasileiras ainda não conseguem
ensinar adequadamente o A-E-I-O-U. Mas a prioridade do novo ministro é
implantar uma escola sem partido e livre da educação de gênero.
Evangélicos e aliados já estão
providenciando uma lei no Congresso. Proselitismo político em sala de aula
terminará na cadeia. Resta explicar como se dará a fiscalização do trabalho dos
2,4 milhões de professores que atuam nas mais de 200 mil escolas de ensino
fundamental e médio.
Na reta final da composição da
nova Esplanada dos Ministérios, faltou a Bolsonaro discernimento e coragem para
providenciar um Posto Ipiranga para a área da educação.
Em vez de tirar um partido para
colocar outro, talvez fosse mais produtivo providenciar escolas nas quais os
adolescentes não tivessem que aprender coisas inúteis de pessoas que não
entendem do que falam, para receber ao final um certificado de que sabem o que
ignoram, estando perfeitamente aptos a engrossar as estatísticas do subemprego.
*Josias
de Souza sempre foi um crítico do PT, mas como jornalista está cumprindo seu
dever profissional e informando bem o leitor a respeito do passado de integrantes do futuro governo.
*Na foto reproduzida da Revista Veja o economista Paulo Guedes, um dos investigados. O sexto é o próprio presidente eleito.
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