Coronel Luís Fernando Silveira de Almeida
Armar o
cidadão de bem, como resposta à violência, é o argumento mais falacioso, mais
inescrupuloso, que já ouvi a respeito do assunto. No ano passado, o Brasil
registrou 59.103 mortes por crimes violentos letais e intencionais (CVLI). Na
guerra da Síria, de 2017 a maio deste ano, portanto cinco meses a mais,
morreram 43 mil pessoas. Estamos em guerra, estamos em guerra!
Daí, uma mente iluminada propõe
como solução: mudar a legislação para armar o “cidadão de bem”. A primeira
pergunta: quem é o cidadão de bem? Quem decide, ou escolhe, ou elege o “cidadão
de bem”? Obviamente, interesses políticos e comerciais norteiam o engodo de que
armar as pessoas diminuirá o número de mortes.
Quantos policiais têm perdido
suas armas e, muitas vezes, suas vidas, pela ação de marginais? Ora, somente
sendo muito estúpido para acreditar que o “cidadão de bem” estará preparado
para esse enfrentamento. Armas matam, então, quanto mais armas mais mortes.
O discurso em defesa da “tese” é
de que haverá treinamento, teste psicológico, para que as pessoas estejam aptas
a andar armadas. Ora, se treinamento e teste psicológico garantissem o uso
correto das armas, não teríamos policiais mortos e policiais presos, como
temos.
Por falar em Policiais – uma
categoria tão abandonada, tão desvalorizada, na qual deságuam os problemas que
o poder público não deu solução, como se ela pudesse solucionar – vai ter seu
trabalho multiplicado e dificultado. Além de mais gente armada, para
fiscalizar, terá que possuir uma bola de cristal para distinguir, em segundos,
o infrator do “cidadão de bem”. E, não se enganem, se errarem e confrontarem o
“cidadão de bem”, adivinhem para que lado a “corda” vai arrebentar…
Arma é para a Polícia! Para os
cidadãos, uma polícia bem formada, bem paga, bem fiscalizada para protegê-lo.
QUANTO MENOS ARMA, MENOS VIOLÊNCIA!
O aspecto decisivo nesses
embates cotidianos, envolvendo armas de fogo, é o fator surpresa. Esse é
determinante! O infrator sempre busca o “alvo” mais fácil, distraído. Isso
significa dizer que o “cidadão de bem” tem que estar atento o tempo todo, sem
direito à distração, à diversão e à descontração. Assim é o dia-a-dia de um
policial, nas ruas.
Por mais treinado que seja o
profissional, isso gera tensão. Tensão essa, que pode levar a falhas, como o
caso do policial que, recentemente, matou um trabalhador, porque confundiu um
guarda-chuva com um fuzil. Imaginem o grau de estresse de um Policial, mal
pago, morando em locais dominados pelo crime, não podendo sair de casa fardado,
deixando sua mulher e filhos à mercê da sorte. Não! Não aumentem seus
problemas. Os erros com armas de fogo, não são os mesmos cometidos nas provas
de matemática, os erros com armas de fogo são fatais.
O outro discurso: “Vejam, não
defendemos o porte de arma e sim, a posse, que é o direito de ter uma arma
dentro de casa, não podendo transportá-la”. Muito bem, agora é diferente!
Afinal, uma das qualidades do nosso povo é o cumprimento das leis. Comparemos,
com uma arma legalizada e também letal, os veículos automotivos: quarenta e
sete mil mortes por ano e quatrocentas mil pessoas com algum tipo de seqüela.
Ops! Ultrapassamos a Síria, mais uma vez. Vivemos duas guerras! Alguém
acredita, que pessoas que dirigem sem habilitação, com licenciamento vencido,
embriagadas, vão deixar suas armas em casa, por não possuírem porte? Isso sem
falar nos acidentes domésticos, na maioria das vezes, envolvendo crianças.
Hoje, o reduto de paz e
segurança do “cidadão de bem”, são os condomínios fechados, murados, com
vigilância eletrônica. Imaginemos cada casa com pelo menos uma arma. Lembremos
da impaciência com som alto, animais soltos, veículos mal estacionados, que
geram os pequenos conflitos nos espaços comuns. Juntemos à bebida do fim de
semana e a alguns temperamentos mais violentos. Hum! Perigo à vista.
Daí, o cotidiano das favelas,
que se tornou o trivial, o banal – uma mãe negra, com seu filho morto por bala
perdida, nos braços (para alguns, menos um marginal no futuro) – transforma-se
no extraordinário: a favela é um condomínio de luxo e a mãe, uma senhora de
classe média alta. E o assassino? O “cidadão de bem”!
Que horror! Inacreditável! Que
absurdo!
Pois é, “a felicidade não tem
cor”, a tristeza, também não. Na tragédia, nos igualamos.
Então, cidadãos e cidadãs,
refletir é de graça. Remediar tem preço. E, às vezes, não é possível remediar.
Armas matam! Bom senso, não!
Precisamos de menos armas, de
menos mortes, de mais amor e tolerância!
VIVAM e DEIXEM VIVER!
Luís Fernando Silveira de
Almeida – Coronel da Reserva da PM e Cidadão, apenas cidadão.
*Fonte:
Carta Capital
Faz algum tempo que eu não lia um artigo / crônica tão explicativo (a). Didático (a) por excelência! - E a pergunta: quem é o "cidadão de bem" é sensacional. – Será que os "cidadãos de bem" são os que moram na Vieira Souto ou na Avenida Atlântica?! – E os "cidadãos do mal" são os que moram no Pavãozinho ou no Complexo da Maré?! - 2. De outro modo, o candidato bolsonazista que defende as armas e as balas é o mesmo que é a favor da TORTURA FÍSICA, MENTAL e PSICOLÓGICA!! E esse tal candidato tem estampado na camiseta o nome de Deus!! Como pode?! – O meu cristianismo NÃO admite tortura de nenhuma espécie!! - Então, ilustres eleitores: vejam se encontram a linha do bom senso!! Se é que os eleitores bolsonazistas sabem o que é bom senso!! Eu mesmo tenho dúvida quanto ao "bom senso" de quem se diz “do bem” e vota num indivíduo desse tipo!! – E o pior: muita gente com formação acadêmica, com boa instrução (talvez para o mal) é fã incondicional desse protótipo de Hitler. - O tal psicopata candidato afirmou ontem num programa de TV, em rede nacional que: "Não aceita resultado diferente (nas urnas) que não seja a eleição dele". - Muita gente assistiu ao programa referido. E está hoje na Folha de São Paulo. - ( VIVAM e DEIXEM VIVER ) ! – É ISSO !!/.
ResponderExcluirÉ O TEXTICULO a cima estaria correto, se na primeira linha já não estivesse errado: "Armar o cidadão de bem, como resposta à violência" DEVE-SE PERMITIRA AO CIDADÃO A POSSE DE ARMAS, para "garantir a liberdade" do cidadão hapto de possuir uma arma e não uma resposta à criminalidade. ENTÃO NÃO VOU ESCREVER MAIS SOBRE UMA MERDA QUE JÁ ESTÁ CAGADA NA PRIMEIRA LINHA!
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