Por Michel Zaidan Filho
Dois fatos
novos parecem determinar a dinâmica das eleições presidenciais, daqui para
frente. O impacto da agressão sofrida pelo deputado Jair Bolsonaro
(PLS) sobre o eleitorado e o registro da candidatura de
Fernando Haddad (PT) a Presidente da República.
Faltando
pouco mais de 15 dias para as eleições de primeiro turno, havia uma
expectativa da parte dos bolsonaristas de que o incidente poderia
alavancara intenção de voto, ao provocar uma comoção popular, no
candidato do PSL. Não foi o que aconteceu. Houve
uma alteração de 2 pontos para cima, no rank eleitoral.
É preciso
atentar para o fato de que Bolsonaro é o campeão de rejeição segundo as
pesquisas eleitorais e que na simulação do segundo turno, não ganha para nenhum
dos outros candidatos. Como se especulava, antes do evento criminoso (ainda não
de todo esclarecido), é como se o teto eleitoral do candidato
já tivesse sido alcançado, mesmo com a ajuda da mídia
"desinteressada".
O deputado
pode ir para o segundo turno, mas perderá o seu favoritismo, sobretudo em razão
das alianças que serão feitas contra si. O outro fato relevante é a candidatura
de Fernando Haddad. Aqui é preciso reconhecer que houve um apreciável atraso no
lançamento dessa candidatura.
Um
tempo precioso foi perdido, enquanto se discutia se havia ou não
plano B para as eleições presidenciais por parte do Partidos dos Trabalhadores.
Há que se distinguir duas importantes questões: a liberdade de LULA: a
outra, a campanha eleitoral deste ano. Atrelar as duas foi um
cálculo que pode dificultar o crescimento eleitoral de Haddad, nesse meio tempo
de propaganda que ainda resta.
A favor do
candidato petista, pesa a pequena rejeição e o patrocínio de LULA, com o seu
imenso prestígio popular. De toda maneira, o próprio LULA
vem recomendando que se faça campanha nas redes sociais, em razão do cerco que
os meios de comunicação vêm fazendo em relação a exposição pública do
ex-prefeito de São Paulo.
Questão
relevante é o início da discussão sobre as possíveis alianças para
aqueles que poderão estar no segundo turno das eleições
presidenciais. Há uma pergunta que não quer calar: para onde vai o PSDB,
se seu candidato não chegar lá, como parece.
É razoável
supor que o PDT, a REDE, os Partidos Comunistas, o PSOL, o PSB caminhem juntos
contra Bolsonaro. Mas há um extenso eleitorado de direita e centro-direita
disponível para ser disputado pelos partidos que chegarem ao fim do pleito
eleitoral.
As
agremiações partidárias e seus candidatos já deviam estar se preparando para
esse debate. Não há mais tempo a perder nessas eleições,
caracterizadas pelos chamados "fake news”.
É
preciso recuperar o tempo perdido junto aos eleitores e rediscutir a estratégia eleitoral a ser seguida depois do dia 7 de outubro. Se o
fato do candidato favorito se encontrar fora - ocasionalmente - da
propaganda e possuir uma grande rejeição (o que em tese trava seu potencial de
crescimento) não for devidamente aproveitado pelos demais, há o risco dele
ganhar as eleições pela incompetência e a inércia de seus adversários em
buscar, desde já, um acordo que permita ao seu competidor, no segundo turno,
derrotá-lo.
Os
partidos e seus candidatos precisam pensar estrategicamente o processo
eleitoral, e não se fixar num planejamento de curto prazo. As eleições em dois
turnos são praticamente duas eleições, com alianças e estratégias de campanha
diferentes. A 15 dias do fim da campanha, é necessário olhar para diante e se
preparar para o que vier acontecer.
Outro
ponto que mereceria uma análise mais detida é a composição do Congresso
Nacional. Quem ganhar, será indispensável contar com o apoio de uma maioria
estável para evitar as crises de governabilidade que colocam em risco o
processo democrático.
*Michel Zaidan Filho é cientista político e professor da UFPE.
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