O CHORO DO PALHAÇO TIRIRICA

Tiririca foi eleito deputado federal duas vezes com mais de um milhão de votos.

Já aí merece um imenso respeito. Na Câmara, tem se portado bem, está entre os deputados mais assíduos, embora tenha apresentado poucos projetos e nunca use a tribuna.

Pelo seu vai e vem como político, mais de uma vez revelando desejo de sair da vida pública, dá para perceber que ele não se sente muito à vontade de paletó e gravata, tendo de cumprimentar as suas excelências e obedecer ao protocolo da Casa Legislativa.

Francisco  Everardo Oliveira Silva tem vocação para palhaço. Nisso ele é bom. 

Sabe contar uma boa piada ou uma história que nos diverte. Como outros bons humoristas do país, arranca risada do público com uma simples palavra, uma careta, um gesto qualquer.

Não se pode cobrar de Tiririca posições ideológicas, compromisso com a direita ou a esquerda, alinhamento com os grupos que se digladiam com o poder.

Quando ele fez campanha a primeira vez, confessando não saber o que um deputado faz, estava sendo sincero.

Agora, que fez um discurso anunciando sua saída da vida pública, parece estar sendo verdadeiro novamente.

Aí vem um e quer avaliá-lo por algum manual de esquerda ou quem sabe pela literatura marxista. “Ele votou com os golpistas! ”, grita um,  como se bastasse esse erro para crucificá-lo, sem outra discussão, sem uma avaliação mais aprofundada da personalidade e da atuação parlamentar de Everardo Oliveira.

É mais ou menos como o coxinha que chama o Lula de ladrão por convicção, sem provas, apenas influenciado pela telinha da Globo, pela revista veja e pelos intelectuais de Facebook.

Tiririca, com todos os seus defeitos, com suas limitações, a falta de vocação para a política, fez um grande discurso esta semana em Brasília e deixou a Câmara Federal e o próprio Congresso Nacional na maior saia justa.

Certo ou errado, ele sempre votou de acordo com suas ideias e crenças. Foi na onda dos ideólogos do golpe e disse sim ao impeachment de Dilma.

Na hora de votar a favor da investigação de Michel Temer pelo Supremo Tribunal Federal, porém, ele também disse sim.

Errou as duas vezes? Acertou nos dois momentos? Errou numa e acertou na outra? Cabe ao povo, principalmente o mais de um milhão de paulistanos que lhe elegeu, fazer o julgamento.

Querer avaliar Tiririca sozinho, com base na velha opinião formada e em superados preconceitos é muita pretensão.

Os leitores e leitoras podem achar que aqui está se gastando muito verbo para escrever sobre o deputado do PR.

Engano. Ele foi o principal personagem da semana e seu discurso repercutiu no mundo real e no virtual. Até respeitáveis personagens da esquerda, como o humorista Bemvindo Siqueira e o filósofo Mário Sérgio Cortella, usaram os espaços da rede para comentar a fala do parlamentar em Brasília.

Tiririca é só um bom palhaço e um deputado frustrado.

E disse grandes verdades num pronunciamento curto na Câmara Federal. 

Revelou sua decepção com a atividade política, demonstrou não ter vocação para o “faz de conta” e demonstrou caráter ao dizer, cara a cara com seus companheiros de Casa:

- Eu fiz o que foi possível, tenho a consciência tranquila. Posso andar por qualquer lugar, frequentar aeroportos sem ser hostilizado. Muitos de vocês, ao contrário, tem de andar escondidos, com medo do povo.

Foi mais ou menos isso. Palmas para o palhaço.

*Foto: Carta Capital.