Por Altamir Pinheiro
Por analogia, se o picareta Eduardo
Cunha é considerado o BANDIDO PREDILETO ou FAVORITO dos
brasileiros, por ter prestado um relevante serviço à nação, em razão dele
ter sido o algoz de Dilma, quando assinou aquele oportuno e bendito
pedido de impeachment (É sempre bom lembrar que o impeachment contra a
ex-presidente Dilma Rousseff salvou o Brasil). Em paralelo vem em nossa
mente àquela figura excêntrica e afamada, além de
galhofeira e debochada desse magistral ator, FERNANDO
SANCHO, o nosso BOM HOMEM MAU... Por esse “interiozão” das cidadelas
brasileiras, dias de feiras livres, fãs de memoráveis westerns spaghetti
procuravam avidamente pelo nome de Fernando Sancho nos cartazes dos filmes
dependurados em postes ou acompanhava o “locutor” num carro de marca Jeep
ou Rural, com um microfone enrolado num farrapo de flanela
vermelha, anunciando a película cinematográfica de logo mais à
noite em CinemaScope, que era uma tecnologia de filmagem e projeção que
utilizava lentes de última geração, pois ninguém tinha dúvida
em comprar o bendito ingresso com a certeza de boa diversão.
O Genial Malvado foi muitas vezes
estigmatizado ou rotulado de modo negativo como um bandido mexicano quando na
verdade ele nasceu em Zaragoza, viveu na Espanha e morreu em Madrid. Com
aquele seu corpanzil pesado, o ator espanhol que passava facilmente por
mexicano, normalmente por bandido mexicano. Ele é um ator espanhol que se notabilizou
por interpretar bandoleiros com seu barrigão exagerado, rosto suado, vestes
ensebadas e gargalhada que se ouvia à distância de um ou mais quilômetros
antecipando alguma crueldade. O nome desse ator é Fernando Sancho,
que por mais que tentasse ser sinistro e sanguinário, nunca deixava de
conquistar o espectador que, muitas vezes, secretamente até a gente
torcia por ele.
Quando o WESTERNCINEMANIA elaborou a
desastrada enquete “GRANDES BANDIDOS DOS FAROESTES”, alguns cinéfilos como
Darci Fonseca, Joaílton de Carvalho e Edson Paiva não se conformaram com
a ausência do europeu Fernando Sancho entre os 50 homens mais
selecionados para a enquete. ESCREVERAM: “Acho que na lista dos piores bandidos
faltou Fernando Sancho, carismático, cruel, cínico e sujo”. OUTROS COMENTÁRIOS:
“Fernando Sancho foi uma ausência de peso. (...) Acho que nenhum dos 50 da
lista interpretou a quantidade de vilões que fizeram a fama de Fernando Sancho.
(...) Ele marcou os westerns spaghetti e muitas vezes os filmes só valiam à pena
por sua presença”...
O cinema espanhol não poderia
prescindir de um artista como Fernando Sancho que, mesmo sempre um pouco acima
do peso, era capaz de interpretar galãs com a mesma facilidade com que
interpretava policiais, oficiais fardados e, melhor que ninguém, HOMBRES MALOS
nos westerns spaghetti. Em sua briosa carreira, no auge, Sancho não parava de
filmar e suas participações em produções na década de 60 é impressionante: sete
filmes em 1961; - seis em 1962; - nove em 1963; - nove em
1964; - 14 em 1965; - 14 em 1966; - 12 em 1967; - nove em 1968; cinco em
1969. Nessa década Fernando Sancho fez desde pequenas participações em
superproduções como “LAWRENCE DA ARÁBIA”, “O Rei dos Reis” e “55 Dias em
Pequim” a papeis importantes como em “O Filho do Capitão Blood”. Ao todo foram
mais de 200 filmes. Sancho participou de gravações cujos elencos eram
liderados por campeões de bilheteria na Espanha como os astros infantis
Pablito e Joselito. Foi pouco relevante mas que alcançou sucesso na Espanha
interpretando “El Zorro” herói muito querido na terra de Cervantes. Em “A
Vingança do Zorro” (1962), Fernando Sancho iniciou uma nova fase em sua
carreira, agora no GÊNERO WESTERN que atraía muito público na Europa. Além
destes, Sancho atuou em muitos filmes com o italiano GIULIANO
GEMMA, filmes como: "Uma Pistola Para Ringo",
"Ringo Não Discute: Mata". Em "Uma Pistola para
Ringo" ele é dublado por alguém bastante competente, o que deixa o filme
ainda mais divertido. O melhor filme de Ringo com Sancho, donde, recomendo-o.
E haja filmes de faroestes!!!, entre
tantos: “Pelo Prazer de Matar; - “Até no Inferno Irei à Sua
procura”; - “Django Atira Primeiro”; - “Clint, o Solitário”; -
“Django Mata por Dinheiro. EM “ARIZONA COLT”, GIULIANO GEMMA E
FERNANDO SANCHO CONTRACENAM PELA ÚLTIMA VEZ NUM WESTERN. Dois spaghetti que
alcançaram muito sucesso foram “O Dia da Desforra” e “Ódio por Ódio”, ambos com
a presença de Sancho. São de 1967: “Um Homem e Um Colt”; - “Killer Kid”
(com o ítalo/brasileiro Anthony Steffen); - “Billy, o Sanguinário” (o
personagem de Sancho é ‘El Bicho’); - “15 Forcas para um Assassino”; -
“RITA NO WEST” (COM RITA PAVONE E TERENCE HILL); - “A Outra Face da
Coragem” (com Mark Damon e John Ireland e Sancho interpretando “Carrancha”, mais
um nome bastante significativo para o ator).
Finalmente, como curiosidade,
os filmes da dupla “O Gordo e o Magro” faziam grande sucesso na Espanha e
o eclético Fernando se tornou o dublador oficial de Oliver Hardy, o Gordo.
Fernando Sancho tinha como seu grande ídolo: JOHN WAYNE. Os últimos westerns da
filmografia de Fernando Sancho, nos anos 70, tiveram qualidade bastante
inferior uma vez que diretores como Corbucci, Sollima, Tessari e
principalmente LEONE (com quem Fernando Sancho nunca filmou) haviam dado
adeus ao gênero. A fama de Fernando Sancho era tão grande na Europa de modo
geral e mais especialmente em seu país, que a revista espanhola “INTERVIU”
bateu recordes de tiragem quando estampou ensaio fotográfico com MAYTITA, A
FILHA DO ATOR. Já passado dos 60 anos de idade, o ritmo de trabalho de Fernando
Sancho diminuiu sensivelmente, mas ainda assim nunca lhe faltou convites para
atuar, no mais das vezes emprestando seu glorioso nome a produções de qualidade
duvidosa. Sancho foi dirigido pelos principais diretores italianos e espanhóis
de westerns, mas não teve oportunidade de atuar sob as ordens de SERGIO LEONE,
o que aparentemente não o incomodou. Se vivo fosse FERNANDO SANCHO teria
completado 101 anos em janeiro de 2017. Morreu em 1990 aos 74 anos de idade de
câncer. O gorducho nunca levava a sério, como também não ligava para
certa discriminação que sofria de Hollyood. Porém, a única coisa que
lamentava, isto sim, nunca ter participado de um filme de John
Wayne, seu grande ídolo no cinema.
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