UM DIA HISTÓRICO NO BRASIL

Por Júnior Almeida

Quatro de março de 2016 foi uma data histórica no Brasil. O dia amanheceu com cara de 31 de março do não muito longe 1964. No lugar dos tanques do exército nas ruas, as viaturas pretas da Polícia Federal e muitas outras viaturas da imprensa, até helicópteros prontos para o combate aéreo. Era dia de golpe, e assim como em 64, ano em que o Brasil entrou em vergonhosos anos de ditadura, a mesma mídia escrota estava lá infiltrada para legitimar a farsa. 

Nos anos de chumbo, enquanto pessoas eram torturadas, desapareciam e morriam, a mesma mídia de hoje  estampava em sua manchetes a grandeza do país e varria pra debaixo do tapete os abusos e a corrupção dos homens de farda. Nada mudou, e o povo continua dividido desde dos tempos da casa grande e da senzala. Os senhores de sangue azul jamais aceitarão “um merda de Pernambuco ser melhor que eles”, como disse Lula em seu histórico discurso no dia de ontem.

Pensaram que se benziam e quebraram a cara. Assim que a PF chegou na casa do ex-presidente Lula, ele ironizou, perguntando pelo Japonês da Federal. Lula sabia que o circo armado em sua volta era para o povo ver ele ser desmoralizado. Para os inimigos não tem dinheiro que pague a cena de Lula sendo preso. É o sonho de consumo de muitos e se o autor da prisão fosse o “japa”, aí seria perfeito. Aí levaram Lula para depor no aeroporto de Congonhas...

A programação da Globo foi especial, a alegria dos apresentadores da emissora era visível. Parecia que era uma final de copa do mundo e a seleção canarinha tinha goleado a Alemanha por 8X1, vingando o vexame de 2014. No saguão do aeroporto e na rua do Instituto Lula o "pau quebrava", com militantes dos dois lados bem exaltados. E tome notícia, e tome opinião dos especialistas, sempre contra Lula, é claro, e tome repercussão na internet. 

Lula ainda estava depondo quando no Twitter o seu nome era o mais comentado no país. Logo atrás do nome Lula, a hastag #ForaGlobo também bombava. Ao final do dia o nome do ex-presidente era o mais falado na internet em todo o planeta. O povo não é bobo, e sabe muito bem quem está por trás de toda “crise” no Brasil. Quem assiste demais a plim plim e for meio depressivo é capaz de se matar de tanto ver notícia ruim.  Nas ruas equipes da Globo trabalhava com o c* na mão, pois onde iam eram hostilizados sendo chamados de golpistas. 

Nas entradas ao vivo da programação global era um Deus nos acuda. Primeiro por que os jornalistas tinham que trabalhar quase que disfarçados, mas sempre que eram descobertos tinham que sair do lugar por questões de segurança. Uma cena hilária foi quando a repórter da Globo News estava ao vivo e um rapaz entrou em cena atrás dela com um cartaz falando no tríplex dos Marinho. O cinegrafista fechou a imagem no rosto visivelmente constrangido da repórter, mas o manifestante falou no microfone, chamando a Globo de golpista, e saiu feliz, com a cara do dever cumprido. 

A expectativa era que Lula fosse levado à Curitiba, pois um jatinho escoltado por cinco viaturas estava na pista de Congonhas de porta aberta, e a cobertura da TV dava a entender que era questão de tempo o petista entrar na aeronave, para a alegria de muitos. Pouco tempo depois, pelo semblante dos apresentadores, a coisa não era tão simples. Primeiro por que Lula queria sair da sala onde estava depondo pelo meio do povo. Com certeza iria ser aclamado, então não permitiram. Na televisão, a moça opinava que Lula tinha que sair escondido, por questões de segurança. Que bonitinho, que meigo. Tanta preocupação com a segurança de Lula chega a comover. Só que não. Não queriam era mostrar Lula nos braços do povo. 

Se a coisa já estava meio desandada, para os golpistas azedou tudo quando deixaram Lula falar. Em uma entrevista de quase meia hora, o ex-presidente usou toda sua experiência de orador e explicou tim tim por tim o que significado da operação de ontem. Disse do preconceito que sofria por não ser doutor e ter vindo de baixo, criticou a justiça por receber prêmios e depois prestar conta a quem o premiou, e também disse que ia no sítio de um amigo, por que dos inimigos não podia ir. Para desespero da Globo, ele se referiu ao tríplex dos Marinhos, construído em terras griladas no Rio, momento em que foi muito aplaudido. 

Lula também disse que os preconceituosos não aceitavam que ele ganhasse R$ 200 mil para dar palestras, mas ele cobrava esse preço por que valia, por que fez mais do que todos os presidentes juntos, e se Bill Clinton cobrava R$ 1 milhão e os vira-latas aplaudiam, ele também poderia cobrar. Para quem assistiu a entrevista pela Globo, pode perceber o momento em que Lula falou da emissora e dos seus donos, eles cortaram a transmissão, voltando depois que ele tinha terminado a cacetada. Ao final, Lula deixou muitos irritados. Gente que tem tanto ódio dele, que parece até que foi corneado pelo petista, gente que não aceita de jeito nenhum um pau de arara ser amado por milhões de pessoas  e ser reconhecido no mundo inteiro como melhor presidente do país. Depois da profética frase da jararaca, Lula se despediu ouvido o coro de "guerreiro do povo brasileiro", para constrangimento da apresentadora da Globo, Sandra Annenberg.