Por Conceição Lemes, Blog Viomundo
Nessa
quarta-feira 25, a família de Frei Chico, irmão do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, registrou um boletim de ocorrência contra o
repórter Ulisses Campbell, da revista Veja,
que durante três dias assediou-os.
“Foi
um horror”, afirma Ivenis, esposa de José Ferreira da Silva, o Frei Chico, como
é conhecido desde os tempos de metalúrgico em São Caetano do Sul, no ABC
Paulista, há quarenta anos.
Ulisses
Campbell veio de Brasília para São Paulo especialmente para isso.
Primeiro,
o jornalista foi atrás do próprio Frei:
– Na
segunda-feira (23 de fevereiro), ele ligou para a minha casa, dizendo que era
Pedro, do Instituto Lula. Quando a minha neta me levou o telefone, ele, de
repente, começou a especular sobre a família, nomes de sobrinhos e netos de
Lula, a fazer perguntas sobre o meu neto Thiago…
–
Cara, o que você querendo mesmo?
– Eu
estou fazendo um mapa da família do Lula, um histórico…
– Mas
para que instituto você está fazendo isso?
– Pro
Instituto da USP…
– Na
hora, pensei: “Acabou de mentir pela segunda vez”.
– Aí, ele acabou se identificando como Ulisses, da revista Veja. Disse que estava em
busca de informações da festa de aniversário. Eu disse que não tinha festa
nenhuma.
–
Depois, esse cara me aparece em São Caetano… Tentou fazer com que um jornalista
antigo, conhecido meu há mais de 40 anos, me convencesse a dar entrevista a
ele. O que eu vou falar para esse rapaz depois do que ele fez? Não dei
entrevista, claro!
Na
terça-feira, Ulisses foi atrás de Denis, um dos filhos do Frei Chico, que mora
em Sorocaba:
–
Ele ligou para o celular da minha nora, se fazendo passar por Pedro, de
Brasília, representante do Buffet Aeropark… Queria saber onde deveria fazer a
entrega dos presentes. Minha nora disse que não tinha nada de festa, de
aniversário…
Na
quarta-feira, usando identidade falsa na portaria do condomínio, foi até a casa
do filho do Frei Chico, dizendo que iria entregar um livro.
– Como
ele não entregou livro nenhum e começou a fazer perguntas sobre a família, a
babá fechou a porta e chamou a polícia. Aí, ele fugiu.
– O
Denis conversou com ele por telefone. Ele disse duas vezes : “Se você não me
der as informações que eu quero, vou publicar o eu que quiser”.
– Para intimidar ainda mais, mandou uma mensagem para o celular
do meu filho com a foto da minha nora e do meu neto… Disse que iria publicar na
próxima edição da revista Veja
Lá
atrás Frei Chico foi do Partido Comunista Brasileiro (PCB), o Partidão.
É sangue bom. Tranquilo. Sempre rindo. Conciliador. Só que essa
história deixou-o preocupado.
Viomundo
– O que acha do comportamento desse jornalista?
Frei
Chico — A
pessoa que age dessa forma é tão baixa… Ele agiu como um bandido. A ética
jornalística está indo para o ralo. Isso é caso de polícia. Ele cometeu vários
crimes ao mesmo tempo.
Viomundo
– Na época da ditadura, você foi preso, torturado, teve companheiros
mortos. Você lembra de ter tido contato com um jornalista que teve
a postura do Ulisses Campbell?
Frei
Chico – Não,
porque quem fazia isso era a polícia. Esse momento político que nós estamos
passando me lembra muito a perseguição aos comunistas, à esquerda em geral na
época da ditadura.
Sinceramente
estou muito angustiado. A grande mídia julga e condena a pessoa ao mesmo
tempo. Ela estampa a tua foto no jornal, na revista, na TV, como se você
fosse bandido, [como se] tivesse culpa por algum malfeito. Depois, vai se
investigar e não aconteceu nada daquilo. Só que com aquela matéria a
pessoa já foi condenada.
Viomundo
– O que a sociedade tem de fazer?
Frei
Chico – Um
grande esforço para manter a dignidade humana. Como eu já disse antes, eu estou
muito angustiado. Parece que piorou o tratamento da mídia às causas nacionais.
A gente não vê a grande imprensa defender as empresas nacionais, mesmo que
sejam grupos privados.
Em
outros países, até onde sei, se acontece algo errado numa empresa, você pune os
responsáveis e salva a empresa. Aqui é o contrário. A gente vai destruindo tudo
o que é nacional como se fosse algo banal, beneficiando as empresas
estrangeiras, o capital internacional.
Viomundo
– Entreguismo?
Frei
Chico —
Entreguismo, sim. Faz parte de um projeto geopolítico muito mais amplo. O
que eu vejo é uma política de desgaste das indústrias e dos projetos nacionais.
Nós temos de reagir a isso.
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