O cantor Roberto Carlos, que é contrário à publicação de
biografias não autorizadas e já tirou de circulação obras sobre sua vida,
conseguiu um apoio de peso. Os músicos Caetano Veloso, Chico Buarque, Milton
Nascimento, Gilberto Gil, Djavan e Erasmo Carlos agora estão a seu lado.
Os sete cantores são fundadores do grupo Procure Saber, que,
segundo a produtora Paula Lavigne, deve entrar na disputa para manter a
exigência de autorização prévia para a comercialização dos livros. Lavigne é
presidente da diretoria do Procure Saber e porta-voz do grupo.
As assessorias de Djavan, Chico Buarque e Gilberto Gil confirmaram
seu posicionamento à Folha.
Os outros músicos não foram encontrados pela reportagem.
Do outro lado da discussão, está a Anel (Associação Nacional dos
Editores de Livros). A entidade move no Supremo Tribunal Federal uma Ação
Direta de Inconstitucionalidade questionando os dois artigos do Código Civil
que impedem a publicação sem a anuência prévia dos biografados ou de seus
herdeiros.
Para a Anel, as normas atuais violam a liberdade de expressão e o
direito à informação.
"Usar esse argumento para comercializar a vida alheia é pura
retórica", diz Lavigne. Ela ressalta que o Procure Saber é contrário à
comercialização, e não à publicação, das biografias. "Se alguém quiser
escrever uma biografia e publicá-la na internet sem cobrar, tudo bem. O
problema é lucrar com isso", diz.
"Essa diferenciação não existe. Os autores e editores podem
produzir o que quiserem, mas não podem ganhar dinheiro com isso?", questiona
Gustavo Binenbojm, advogado da Anel. "É uma censura privada. O biografado
vira o senhor da história, com monopólio da informação."
Em nota enviada ao jornal "O Globo", o cantor Djavan
disse que a liberdade de expressão pode causar injustiças "à medida que
privilegia o mercado em detrimento do indivíduo".
"Editores e biógrafos ganham fortunas enquanto aos
biografados resta o ônus do sofrimento e da indignação."
O grupo questiona também as indenizações recebidas por
biografados. "Corremos o risco de estimular o aparecimento de biografias
sensacionalistas, em um país em que a reparação pelo dano moral é
ridícula", diz Lavigne.
INTERESSADOS NA CAUSA
Segundo Lavigne, o Procure Saber tenta agora registrar-se como
associação, com o objetivo de ingressar como "amicus curiae"
(interessada na causa) no Supremo.
O dispositivo permite que a entidade exponha sua opinião em
documentos submetidos à Corte, sem participar como parte no processo.
Um manifesto divulgado em setembro na Bienal do Rio, assinado por
autores como Boris Fausto e Ruy Castro, diz que a proibição às biografias não
autorizadas é um "monopólio da história, típico de regimes
totalitários".
"Biógrafos e jornalistas têm o dever de contar a história do
país e de suas personalidades públicas, inclusive expondo suas contradições. Os
artistas estão defendendo algo obscurantista, a biografia chapa-branca",
diz Lira Neto, autor de livros sobre a vida de Getúlio Vargas.
"Muitas obras usam jornais como fonte. Ninguém pede para ler
antes o que é publicado em jornais, porque isso é visto como utilidade
pública", afirma Sônia Jardim, presidente do Sindicato Nacional dos
Editores de Livros.
Coerentemente, Lavigne pediu para ler esta reportagem antes de sua
publicação. Sua solicitação foi negada.
*
HISTÓRIA INTERROMPIDA
Casos de biografias barradas na Justiça
Casos de biografias barradas na Justiça
"Roberto Carlos em Detalhes"
Autor Paulo Cesar de Araújo
Editora Planeta
Quando 2006
Para a Justiça, a obra invadiu a privacidade do músico
Autor Paulo Cesar de Araújo
Editora Planeta
Quando 2006
Para a Justiça, a obra invadiu a privacidade do músico
"Noel Rosa - Uma Biografia"
Autores João Máximo e Carlos Didier
Editora Unb
Quando 1990
Para a Justiça, a obra invadiu a privacidade ao falar sobre o suicídio de parentes de Noel
Autores João Máximo e Carlos Didier
Editora Unb
Quando 1990
Para a Justiça, a obra invadiu a privacidade ao falar sobre o suicídio de parentes de Noel
"Sinfonia Minas Gerais: A Vida e a Literatura de João
Guimarães Rosa"
Autor Alaor Barbosa
Autor Alaor Barbosa
Editora LGE
Quando 2007
Para a Justiça, a obra lesou direitos autorais
Quando 2007
Para a Justiça, a obra lesou direitos autorais
"Lampião - O Mata Sete"
Autor Pedro de Morais
Editora do autoR
Quando 2011
Para a Justiça, a obra ofendeu a honra e a intimidade do biografado e de sua herdeira
Para a Justiça, a obra ofendeu a honra e a intimidade do biografado e de sua herdeira
(Fonte Portal UOL)
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