Sempre recebemos um expressivo número de comentários, infelizmente a maioria de anônimos. Algumas pessoas não sabem como incluir o nome no texto, outros têm medo de mostrar a cara. Filtrar os comentários nem sempre é fácil, ainda mais com essa política de permitir o anonimato, desde que não haja exagero nas acusações ou insinuações que sempre surgem.
Quando os comentários são longos você só vê o final quando publica. Por isso hoje um texto interessante recebido pelo blog passou desapercebido quanto ao seu autor. Foi o José Sales, o popular Criança, que telefonou agora à noite para chamar a atenção. O comentário, na postagem a respeito da escolha do novo papa, é assinada pelo padre Fábio de Melo.
Como Sales, eu fiquei na dúvida e li todo o texto cuidadosamente. Como já li pelo menos um livro do religioso e artigos em jornais e revista, fiquei convencido de que foi ele mesmo o autor do texto. É primoroso. Uma lição para todos nós, católicos ou não, defensores do celibato ou não.
Um comentário tão valioso não pode ficar "escondido" na postagem, tem de vir para a página principal, em primeiro plano. Assim, transcrevemos abaixo o comentário que acreditamos ser do padre Fábio de Melo. Se por acaso não foi ele a imitação do estilo do sacerdote escrever está perfeita.
O VALOR DE SER SÓ
Ando
pensando no valor de ser só. Talvez seja por causa da grande polêmica que
envolveu a vida celibatária nos últimos dias. Interessante como as pessoas
ficam querendo arrumar esposas para os padres. Lutam, mesmo que não as tenhamos
convocado para tal, para que recebamos o direito de nos casar e constituir
família.
Já presenciei discursos inflamados de pessoas que acham um
absurdo o fato de padre não poder casar.
Eu também fico indignado, mas de outro modo. Fico indignado
quando a sociedade interpreta a vida celibatária como mera restrição da vida
sexual. Fico indignado quando vejo as pessoas se perderem em argumentos rasos,
limitando uma questão tão complexa ao contexto do “pode ou não pode”.
A sexualidade é apenas um detalhe da questão. Castidade é
muito mais. Castidade é um elemento que favorece a solidão frutuosa, pois nos
coloca diante da possibilidade de fazer da vida uma experiência de doação
plena. Digo por mim. Eu não poderia ser um homem casado e levar a vida que
levo. Não poderia privar os meus filhos de minha presença para fazer as
escolhas que faço. O fato de não me casar não me priva do amor. Eu o descubro
de outros modos. Tenho diante de mim a possibilidade de ser dos que precisam de
minha presença. Na palavra que digo, na música que canto e no gesto que
realizo, o todo de minha condição humana está colocado. É o que tento viver. É
o que acredito ser o certo.
Nunca encarei o celibato como restrição. Esta opção de vida
não me foi imposta. Ninguém me obrigou ser padre, e quando escolhi o ser,
ninguém me enganou. Eu assumi livremente todas as possibilidades do meu
ministério, mas também todos os limites. Não há escolhas humanas que só nos
trarão possibilidades. Tudo é tecido a partir dos avessos e dos direitos. É
questão de maturidade.
Eu não sou um homem solitário, apenas escolhi ser só. Não
vivo lamentando o fato de não me casar. Ao contrário, sou muito feliz sendo
quem eu sou e fazendo o que faço. Tenho meus limites, minhas lutas cotidianas
para manter a minha fidelidade, mas não faço desta luta uma experiência de
lamento. Já caí inúmeras vezes ao longo de minha vida. Não tenho medo das
minhas quedas. Elas me humanizaram e me ajudaram a compreender o significado da
misericórdia. Eu não sou teórico. Vivo na carne a necessidade de estar em Deus
para que minhas esperanças continuem vivas. Eu não sou por acaso.
Sou
fruto de um processo histórico que me faz perceber as pessoas que posso trazer
para dentro do meu coração. Deus me mostra. Ele me indica, por meio de minha
sensibilidade, quais são as pessoas que poderão oferecer algum risco para minha
castidade. Eu não me refiro somente ao perigo da sexualidade. Eu me refiro
também às pessoas que querem me transformar em “propriedade privada”. Querem
depositar sobre mim o seu universo de carências e necessidades, iludidas de que
eu sou o redentor de suas vidas.
Contra a castidade de um padre se peca de diversas formas. É
preciso pensar sobre isso. Não se trata de casar ou não. Casamento não resolve
os problemas do mundo.
Nem sempre o casamento acaba com a solidão. Vejo casais em
locais públicos em profundo estado de solidão. Não trocam palavras, nem
olhares. Não descobriram a beleza dos detalhes que a castidade sugere. Fizeram
sexo demais, mas amaram de menos. Faltou castidade, encontro frutuoso, amor que
não carece de sexo o tempo todo, porque sobrevive de outras formas de carinho.
É por isso que eu continuo aqui, lutando pelo direito de ser
só, sem que isso pareça neurose ou imposição que alguém me fez. Da mesma forma
que eu continuo lutando para que os casais descubram que o casamento também não
é uma imposição. Só se casa aquele que quer. Por isso perguntamos sempre – É de
livre e espontânea vontade que o fazeis? – É simples. Castos ou casados,
ninguém está livre das obrigações do amor. A fidelidade é o rosto mais sincero
de nossas predileções.
Padre
Fábio de Melo
Esse texto é realmentte de Pe. Fábio, mais é antigo. http://brigidolima.blogspot.com.br/
ResponderExcluiralguem copiou e colou
Roberto,
ResponderExcluirTodos nós sabemos quando escrevemos algo na internet, seja em Blog, Face book, ou de outras formas, estamos em Rede Mundial de Computadores, só nunca a gente acredita que estamos sendo visto no mundo inteiro, e muitas vezes por pessoas famosas, assim como Padre Fabio para. Parabéns para você, e para nossa querida Garanhuns, pois seu povo continua engajado nos grandes temas.
Sales/Garanhuns
Que beleza Roberto! Seu blog capacidade que passa se torna mais famoso e surpreendente. Vamos rezar para que tenhamos padres santos e que nãovtenham vergonha de dizer que são felizes, realizados e fiéis a Deus, não obstante as limitações humanas próprias de nossa natureza.
ResponderExcluirJuliana Mendes .
O texto pode ter sido escrito antes mas enviado pelo padre ou alguém que trabalha com ele afinal tem tudo haver com a discussão sobre a escolha do papa e o celibato
ResponderExcluirJúlia Oliveira
Padre Fabio de Melo é realmente um exemplo de fé amor ao próximo. Criatura admirável! Sabemos que os Padres não são enganados com relação a celibato, que aceitam. A questão é : Para que serve o celibato? Todos sabem que não vem de Deus, que foi inventado pelo homem.A questão da pedofilia na igreja católica (os padres), Embora não justifique.Mas são seres humanos feito de carne e osso,Tem suas "necessidades".Porque não ter uma esposa,filhos.E também servir a Deus? A nossa igreja está se destruindo e precisa de várias mudanças, A questão do celibato é apenas uma delas.Peço muito a Deus que o novo papa consiga fazer as mudanças necessárias na nossa amada igreja católica!!!!!
ResponderExcluirMuito bem colocada a questão de escolha feita por ele (Pe. Fábio), porém o que nos envergonha como católicos é a questão desse celibatário não ser seguido por todos. A renuncia do Papa por ele pronunciada a causa maior seria a desobediência ocorrida em seu mandato (Celibato – Grandes Indenizações- /Financeiro – Grandes Desfalques -), a dúvida será: liberando ao casamento acabaria com a pedofilia?
ResponderExcluirUm texto escrito de forma suscinta,responsável,coerente,com conteúdo fora do comum,com palavras verdadeiras,com gesto de grandeza espiritual.Precisamos sim ler artigos desta natureza.
ResponderExcluirPecado é um homem lindo desse ser padre. Benza-te Deus ! Mas, se foi de livre e espontânea vontade que ele aceitou ser padre e aceitar o celibato, que Deus o ajude a continuar assim.
ResponderExcluirGosto muito dos textos, da vida, do exemplo deste homem! Parabéns Roberto pelo grande prestigio do seu blog, que acompanho e acompanharei sempre. Você sempre se reocupou em fazer reportagens que levassem a discussão com imparcialidade (até onde é possível) e responsabilidade! Mais uma vez, parabéns!
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