Na rua arborizada as casas são simples. Mulheres desiludidas
procuram amantes e homens mal encarados esquecem o desencanto bebendo nas
esquinas.
Logo cedo o céu estava azul, sem nuvens, a chuva cada vez mais
distante e o calor intenso estimulando os casais a fazer amor mais uma vez.
Depois deixariam as camas, cuidariam do café, passariam uma vista nos jornais,
recolheriam o leite vendido na porta, em carroças pertencentes a uma outra
época.
Na cidade a igreja matriz. Os católicos, os evangélicos e gente
de outras crenças buscando a paz com Deus e consigo mesmo. Bancas de revista,
algumas lojas desobedecendo o domingo e os carros de passeio em número reduzido
quebrando apenas um pouco a monotonia da avenida.
Há quem vá ao clube, outros procuraram as cidades próximas, um
número expressivo ficará dormindo até mais tarde, tentando refazer as energias
de uma semana corrida, de labuta e preocupações.
À tarde tem o futebol, preferido pelos homens, enquanto as mulheres
planejam jantares especiais, visitas a restaurantes ou conversas na surdina com
a comadre mais próxima.
Um louco lê poesia, outro ouve rock, um terceiro fuma cigarros
sem parar, sem tragar, sem pensar. Mulheres em frente ao espelho, no banho, no
chão da varanda, deitadas na área de serviço... Nuas, vivendo uma fantasia
coletiva.
Suburbanos de ônibus, pobres de bicicleta, mocinhas no Pau
Pombo, adolescentes na sorveteria, senhoras lendo a bíblia, pessoas distraídas
esperando o Faustão.
O domingo precisa ser preenchido. Com a bola, ou literatura,
orações, escapadas na noite, traições nos automóveis estacionados em lugares
ermos ou cuidadosamente guardados nos motéis.
É um dia de silêncio, de inquietações, de ansiedade, porque
quase todos são obrigados a parar, a ficar um pouco se vendo no espelho... e isso
incomoda.
Estão desacostumados da solidão, não sabem organizar os seus
momentos e nem lhes passa pela cabeça a opção de meditar.
O litoral está distante, o shopping center ainda não foi
construído para iludi-los, resta mesmo a companhia dos gatos, passear com os
cachorros, dá um jeito nos cabelos e passar na pizzaria, quando se tem pelo
menos um pouco de grana.
No fim dá tudo certo. Domingo é o dia da preguiça, mas é melhor
do que a segunda, quando o corpo que não soube aproveitar a ociosidade tem
dificuldade agora de se movimentar em meio aos muitos afazeres.
Por que reclamar? Os domingos em Garanhuns são bons se você
tiver a capacidade de saboreá-los. Não vejo razão para invejar o primeiro dia
da semana em Recife, São Paulo ou Nova Iorque.
O homem é o mesmo lá e cá e apesar da azáfama dos grandes
centros, neste dia especial o dilema é igual, estejamos no Norte ou no Sul, na
rua calma ou no turbilhão.
Se olharmos pra frente, se tivermos fé, se trocarmos ideias com
algum amigo de verdade, se beijamos com amor a companheira ou os filhos, o
domingo será abençoado.
Um bom dia e uma boa semana para vocês que leram esta crônica.
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