Um dos prazeres que tive neste período de carnaval foi assistir os filmes Lincoln e Django Livre, duas badaladas produções recentes do cinema americano. Abaixo escrevo breves impressões que me ficaram dessas obras, assinadas por dois cineastas de prestígio internacional.
LINCOLN – Em seu novo filme Steven Spielberg não usa de efeitos espetaculares nem faz ninguém chorar, como é comum em sua obra cinematográfica. Tampouco fez um relato biográfico do presidente Abraham Lincoln, um dos mais cultuados da história americana.
O longa, com a boa direção de sempre do mestre
Spielberg, é centrado nas negociações políticas do presidente para fazer passar
na Câmara dos Deputados a 13º emenda à Constituição, com a proposta de pôr um
fim à escravidão no país. Tudo se desenrola enquanto a guerra divide o Sul e o
Norte, com milhares de mortes entre irmãos.
O filme interliga os temas da guerra, da
escravidão e da emenda constitucional de forma competente, privilegiando a
parte política. Dá para ter uma ideia do
caráter de Lincoln, determinado como presidente e envolvido em problemas
pessoais com a mulher e os filhos, principalmente o mais velho.
Interessante é observar como o princípio de
democracia nos americanos é arraigado e vem de longe. E olha que o presidente
retratado neste filme era republicano.
A mais recente obra de Steven Spielberg é
densa, longa, mas não chega a ser cansativa. Para os brasileiros, chama a atenção o fato do presidente Abraham
Lincoln ter jogado pesado para aprovar seu projeto. Cooptou deputados com
empregos, comprou votos, pressionou, fez tudo que o jogo político permite para
sair vitorioso. Afinal de contas, como diriam alguns comunistas, “os fins
justificam os meios”.
Nesse ponto, o filme norte americano candidato
a ganhar as principais estatuetas do Oscar, este ano, prova que não foi o PT
quem inventou mensalão. Dois séculos antes, nos Estados Unidos, já havia essa
prática pouco ética envolvendo Executivo e Legislativo.
Não falta quem apareça por aí criticando
Spielberg, como fizeram o ano passado com o bom drama de aventuras “Cavalo de
Guerra”. O diretor está acima disso.
No elenco, destaque para o ator Daniel
Day-Lewis que está soberbo interpretando o presidente. Bom rever a veterana
Sally Field, sempre uma boa atriz, neste trabalho fazendo o papel da esposa do
líder republicano.
DJANGO – Outro filme que está na corrida do
Oscar de 2013 é Django Livre, do ousado diretor Quentin Tarantino. Desta vez o
cineasta americano realizou um faroeste sem abrir mão do seu estilo, com muita
criatividade, violência (não poderia faltar) e competência.
Entendi como uma homenagem aos westerns das décadas
de 60 e 70, na linha do que foi produzido por Sérgio Leone (Era Uma Vez no
Oeste). O Django original é de 1966 e foi dirigido por Sergio Corbucci, tendo
como ator Franco Nero, um ídolo do faroeste naquela época.
Pois não é que Franco Nero, já esquecido, tem
uma participação nesse novo Django, embora não seja o mocinho da história?
Tarantino usa seu talento e capacidade de
inovar para criar um bang bang que vai além disso. Usa a música do Django da década
de 60 na abertura do seu filme, mas se permite ousadias como incluir um rap na
trilha sonora. Até Bethoveen é tocado em determinada cena.
O heroi ou anti-heroi de Quentin Tarantino é
negro. Libertado por um caçador de recompensa de torna um ás com o revólver e
vai usar suas balas e sua revolta contra a crueldade dos brancos e na luta
contra a escravidão. Só mesmo um gênio para pegar um tema desses e transformar
num filme que está destinado a virar cult.
O ator que interpreta Django é Jamie Foxx, um
dos melhores atores negros da América. É até desnecessário dizer que ele cumpre
muito bem seu papel e ajuda Tarantino a marca outro tento no cinema. Leonardo DiCaprio, embora
participe menos da metade do filme, está arrasador como um branco cruel e
escravista.
Lincoln e Django são dois filmes muitos
diferentes. Feitos por dois diretores de estilos diversos. O primeiro é um acadêmico,
diria mesmo um tanto conservador e previsível, embora muito acima da média. O
segundo é rebelde, revolucionário. E cada um, dentro da concepção dos seus
trabalhos, faz coisas tão maravilhosas.
Une os dois filmes o fato de que são dirigidos por americanos,
com atores desse país. E também as duas obras discutem a questão da escravidão
e do racismo nos EUA. Os dois longas contribuem com a arte e a história.
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