Filmes
de arte podem vir da Alemanha de Werner Herzog, da Itália de Federico Felinni,
da América de Stanley Kubrick, do Japão de Akira Kurosawa, do Brasil de Nélson
Pereira dos Santos ou da China de Zhang Yimou.
E
necessariamente o filme de arte ou cabeça, de qualidade artística indiscutível,
não precisa ser maçante ou difícil demais de entender.
“Lanternas
Vermelhas”, do chinês Zhang Yimou, é um bom exemplo de cinema que faz pensar,
que encanta, sem entediar o expectador em nenhum momento.
O
filme é de 1991 e retrata o país comunista na década de 20, bem antes das
profundas transformações porque iria passar nos anos seguintes.
A
história, no entanto, não perde a atualidade e tem caráter universal. Embora as
mulheres tenham conquistado espaços importantes em boa parte do mundo ainda são
discriminadas e relegadas a segundo plano, quando comparadas com o homem.
“Lanternas
Vermelhas” apenas retrata uma época e um país em que o poder do homem era bem
explícito, não ficando muitas alternativas para as mulheres além do papel de
concubinas, oficiais ou não.
No
filme do cineasta chinês a jovem Songlian, universitária de 19 anos, fica órfã
do pai e não tem mais condições de prosseguir seus estudos. O jeito é se
submeter a um casamento com um homem rico e mais velho, a quem nem ao menos
conhecia.
Oficializado
o ato, Songlian passa a ser a “quarta senhora”. Isso mesmo, o seu esposo ou senhor,
já tinha três mulheres, todas elas vivendo num conglomerado de casas próximas,
se tratando respeitosamente e chamando umas às outras de irmãs.
A
primeira, já velha, com um filho adulto e pouco procurada pelo senhor. A segunda
numa situação parecida, embora ainda tivesse alguns trunfos para ter o marido
por perto e a terceira aparentemente mais hábil, dengosa, usando das malícias
femininas para passar as outras para trás.
Com
pouco tempo a quarta esposa percebe que está dentro de uma espécie de jogo,
cada uma luta por seu espaço, o marido na sua casa significa não somente o
amor, o sexo, mas também e principalmente o poder.
A
cada noite, quando o senhor decidia com qual das mulheres iria ficar, os
empregados acendiam lanternas vermelhas na frente da casa. A escolhida estampava no rosto
a felicidade pela conquista, pela preferência, enquanto as outras se recolhiam
entristecidas, entediadas, demonstrando inveja e ciúmes.
Esse
jogo se repete todas as noites, o rosto do esposo mal aparece diante das
câmeras do diretor, que prefere focar as mulheres submetidas a um sistema
arcaico e injusto, talvez ainda hoje praticado em algum lugar com pequenas
modificações.
Na
luta pelo macho, pelo poder, vale tudo. Até fazer intrigas e usar a amizade das
servas. Essas, num papel ainda mais baixo na escala social, talvez sonhando
inutilmente e ser uma das esposas.
É
um drama bem conduzido, com bons atores e o uso de cores que combinam com a
história e o próprio título do filme.
"Lanternas Vermelhas" tem um pouco de história, de estudo social, de psicologia e sobretudo
discute a relação de poder entre o homem e a mulher, mostrando até que ponto
pode chegar uma sociedade ou um sistema mantido por regras e tradições muito antigas.
Zhang
Yimou contou sua história com muita sensibilidade, de um modo que envolve o cinéfilo,
o amante do cinema de qualidade. É impossível assistir “Lanternas Vermelhas” e
ficar indiferente, não repudiar o poderio excessivo dos machos, não ficar simpático
à causa das mulheres.
Um
filme indispensável que poderá marcar pra sempre a vida de quem o assiste.
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