Numa entrevista ao site Clic Music, no início da década passada, Geraldo Vandré disse que nunca foi um compositor de música de protesto. “Sou um músico de formação erudita. Ouço Villa Lobos, Wagner...”, revelou.
O artista, hoje, aos 76 anos, não é nem uma sombra do homem que incendiou o Brasil na década de 60, participando de festivais, compondo, gravando e fazendo versos que ganharam as ruas, como da emblemática Caminhando, também conhecida como Pra não dizer que não falei de flores.
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção.
Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão.
Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
e viver sem razão.
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição.
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Geraldo Pedrosa de Araújo Dias nasceu em João Pessoa, na Paraíba, no dia 12 de setembro de 1935. Aos 14 anos já se apresentava num programa de calouros da Rádio Tabajara, na capital paraibana. Mudou do Nordeste para o Rio de Janeiro em 1951 e na cidade maravilhosa fez o curso de Direito. Nunca exerceu seu ofício, a música e a política atraíram o jovem artista que participou de diversos festivais dos anos 60.
Em 66 dividiu o 1º lugar do Festival da Record com Chico Buarque. Este foi o autor de A Banda, enquanto o paraibano apresentou a música Disparada, que se tornaria um grande sucesso em todo o Brasil na voz de Jair Rodrigues. Dois anos depois, Caminhando ficaria na segunda colocação no Festival Internacional da Canção, perdendo para Sabiá, de Chico Buarque e Tom Jobim.
Como Pra não dizer que não falei de flores era a música favorita do público o teatro quase veio abaixo, debaixo de vaias. Geraldo Vandré teve de fazer um discurso para acalmar o público, quando pronunciou a frase que ficou célebre: “Gente a vida não se resume a festivais...”
Esse Vandré impetuoso e criativo dos anos 60 foi parceiro de nomes como Carlos Lyra e Baden Powell e compôs músicas para o filme A Hora e a Vez de Augusto Matraga, um clássico do cinema nacional. “Pequeno Concerto que virou Canção”, curta e bela, que recebeu uma interpretação com muito sentimento do autor, é uma das pérolas desse trabalho.
"Não
Não há por que mentir ou esconder
A dor que foi maior do que é capaz meu coração
Não
Nem há por que seguir
Cantando só para explicar
Não vai nunca entender de amor
Quem nunca soube amar.
Ah...
Eu vou voltar pra mim
Seguir sozinho assim
Até me consumir
Ou consumir
Toda essa dor
Até sentir de novo
O coração
Capaz de amor."
O fato é que Geraldo Vandré era um dos grandes nomes da música popular brasileira naqueles anos difíceis da ditadura militar. Em 1968, com a edição do AI-5, que endureceu mais ainda o regime político brasileiro, o compositor teve de se exilar. Caminhando estava censurada e não havia clima para artistas engajados, que faziam a chamada música de protesto.
Fora do país, morou no Chile, França, Argélia, Alemanha, Áustria, Grécia e Bulgária. Nos quatro anos que esteve fora virou um mito e Pra não dizer que não falei de flores foi escolhida como o hino de parte da juventude e dos protestos estudantis.
No exterior continuou seu trabalho de músico e compositor, fazendo apresentações nas capitais de interior. Chegou a ser gravado por Sérgio Endrigo, conhecido artista italiano, um dos vencedores do outrora prestigiado Festival de San Remo. Em 1973 Vandré gravou para os programas de Flávio Cavalcanti, da TV Tupi, e o Fantástico, da Globo, mas a censura proibiu a exibição do artista.
Só em 1982 Geraldo voltaria a se apresentar em show, no Paraguai, rompendo um silêncio de 14 anos. Em março de 1995 apresentou-se no Memorial da América Latina, em São Paulo, no concerto realizado pelo IV Comando Regional, em comemoração a Semana da Asa. Na ocasião, um coral de cadetes lançou sua música Fabiana,uma homenagem a FAB.
O compositor que criticava a vida nos quartéis e pregava “quem sabe faz a hora” agora fazia uma homenagem as forças armadas.
Canção da Despedida, uma de suas inspiradas composições, censurada durante muitos anos, foi regravada por Geraldo Azevedo e Elba Ramalho, quando a ditadura começou a abrandar. Tornou-se um grande sucesso na voz do pernambucano e da paraibana. Simone regravaria “Caminhando”, também com pleno êxito popular.
Em 1997 o grupo pernambucano Quinteto Violado gravou um CD só com músicas a Geraldo Vandré. Era uma maneira de homenagear um dos ícones da MPB. O compositor, na citada entrevista ao Clic Music, criticou o trabalho, disse que não gostou. “”Há uma série de equívocos deles”, reclamou.
Mais recentemente, entrevistado pelo jornalista pernambucano Geneton Moraes Neto, Vandré voltou a negar todo seu passado, pronunciou um emaranhado de frases incompreensíveis e irreconhecíveis.
“Muitos, porém, acreditam que Vandré tenha enlouquecido por causa de supostas torturas que ele teria sofrido. Dizem que uma das agressões físicas que sofreu foi ter os testículos extirpados, após a realização de um show, por policiais da repressão. O músico, no entanto, nega que tenha sido torturado e diz que só não se apresenta mais porque sua imagem de Che Guevara Cantor abafa sua obra”, registra o site letras.com.br numa breve biografia do cantor.
É provável realmente que Geraldo Vandré tenha sofrido algum trauma. Afinal de contas não se tem notícia de que nenhum outro artista da música brasileira tenha passado por uma transformação semelhante a sua. Geraldo Azevedo, que chegou a cantar com o paraibano, mantém sua coerência até hoje, quando já passa dos 65 anos. Chico Buarque não precisa nem dizer. Caetano às vezes atira pra todo lado, gosta de criar polêmica, nunca porém deixou de ser um grande cantor e intérprete, além de brilhante letrista. Milton, Gil, Betânia, Gal, Paulinho da Viola, Jair Rodrigues... todos envelheceram sendo eles mesmos, com o mesmo DNA.
Geraldo Vandré parece ter passado por uma lavagem cerebral, ficado louco ou alienado. Imagine que perguntaram a ele se conhecia Chico César, seu conterrâneo da Paraíba. A resposta: “Nunca ouvi falar. Vivo em outro mundo”.
Mesmo que não queira admitir, Vandré deu enorme contribuição a Música Popular Brasileira. Abaixo, a letra de Canção da Despedida e de Disparada, citadas neste texto.
CANÇÃO DA DESPEDIDA
Já vou embora, mas sei que vou voltar
Amor não chora, se eu volto é pra ficar
Amor não chora, que a hora é de deixar
O amor de agora, pra sempre ele ficar
Eu quis ficar aqui, mas não podia
O meu caminho a ti, não conduzia
Um rei mal coroado,
Não queria
O amor em seu reinado
Pois sabia
Não ia ser amado
Amor não chora, eu volto um dia
O rei velho e cansado já morria
Perdido em seu reinado
Sem Maria
Quando eu me despedia
No meu canto lhe dizia
DISPARADA
Prepare o seu coração
Prás coisas
Que eu vou contar
Eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão
E posso não lhe agradar...
Aprendi a dizer não
Ver a morte sem chorar
E a morte, o destino, tudo
A morte e o destino, tudo
Estava fora do lugar
Eu vivo prá consertar...
Na boiada já fui boi
Mas um dia me montei
Não por um motivo meu
Ou de quem comigo houvesse
VANDRÉ - Ao clicar no nome do artista, todo em maiúsculo, você acessa um vídeo do yotube com Geraldo Vandré discursando e cantando Caminhando, quando foi derrotado no Festival pela música Sabiá.
Fontes consultadas:Discografia do artista, entrevista a Geneton Moraes Neto, geraldovandre.blogspot.com, letras.com.br, mpb.net e Click Music.
Fontes consultadas:Discografia do artista, entrevista a Geneton Moraes Neto, geraldovandre.blogspot.com, letras.com.br, mpb.net e Click Music.
Meu irmão, conheço pouco a história nesses últimos tempos, mas pelo que tenho lido nos ultimos tempos a música canção da despedida é de Geraldo Azevedo, a não ser que este tenha se apropriado desta letra e eu não soube, probrema de burrisse mesmo. Mário Antonio Leite dos Santos.
ResponderExcluirNOTA DO BLOG - Como o irmão deve ter lido no fim do texto ele foi feito baseado em algumas consultas. Os principais sites e jornais lidos informam que Canção da Despedida tem letra de Geraldo Vandré e um deles chega a publicar um trecho atribuindo a autoria da música ao compositor paraibano, acrescentando que foi regravada por Elba Ramalho e Geraldo Azevedo. Há também quem informe que a canção é do Geraldo de Petrolina. Como tenho em meus arquivos o disco em vinil A Luz do Solo, de Geraldinho, do ano de 1985, quando ele gravou pela primeira vez A Canção da Despedida, após a liberação da censura, busquei hoje tirar essa após este comentário tão sábio e educado.
ResponderExcluirO próprio Geraldo Azevedo informa em seu disco que a música é uma parceria dele com o outro Geraldo, o Vandré. Isto, logicamente, não é uma questão de inteligência, é uma questão de querer estar mais ou menos informado. Agradecemos pela colaboração e humildade.
As composições de Geraldo Vandré são obras de arte. - Se ele fez parcerias com Geraldo Azevedo ou com outros de semelhantes talentos, isso só engrandece os dois lados. - 2. Todavia, o que lamento mesmo é que um sujeito de tanto valor artístico tenha essas excentricidades no comportamento. - São "razões que a própria razão desconhece". - Talvez, quem conviveu com o Vandré, no Brasil e/ou no exílio, possa explicar alguns motivos dessas suas atitudes. - Ou, do contrário, se um dia ele resolver falar a respeito das várias fases de sua vida, poderemos ficar sabendo o que realmente existe. 3. Tudo é muito estranho. Principalmente aquele episódio de prestigiar a FAB. - Não devo, nem posso arriscar que ele tenha sido cooptado pelos militares. - 4. Ademais, para mim, é QUASE CERTO QUE ELE TENHA SIDO TORTURADO barbaramente! E que, das torturas, ficaram as sequelas. - Notem que ele fez política estudantil, no Rio, ligado à UNE, no início dos anos 60. - Sabemos que ele, Geraldo Vandré, é de personalidade muito instável. Mesmo assim, não seria nada fácil mudar tanto. - 5. Sobre o fato de ele não conhecer Chico César, isso é bastante compreensível. Haja vista que Vandré ficou muito tempo fora do Brasil. E, ao voltar, passou a viver em Santa Catarina, isolando-se do mundo artístico. E até repudiando. - O que NÃO são compreensíveis SÃO AS RESPOSTAS DELE, EM VÁRIAS OCASIÕES. - É ISSO./.
ResponderExcluirvarios meses num quarto que so cabia ele em pe,e muito baralho a 300 decibeis 24 horas,depois iam e falavam,vc ama a fab....vai fazer uma musica de nome fab iana.......
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