ANATOMIA DE UM CRIME
Desta vez vamos escrever sobre um clássico bem antigo, de 1959, considerado pelo editor de “1001 Filmes para ver antes de morrer”, como o melhor longa de tribunal já feito até hoje. Segundo o livro citado, que reúne as mais representativas obras da sétima arte de 1902 até 2007, Anatomia de um crime supera mesmo “Dez homens de uma sentença”, outro trabalho impecável ligado à área jurídica. Os dois são indispensáveis a estudantes de direito, advogados, juízes, promotores e cinéfilos em geral.
Doze Homens e uma Sentença tem duas versões. Uma de 1957, dirigida pelo consagrado Sidney Lumet, tendo Henry Fonda (pai da atriz Jane Fonda), como um dos principais atores. Em 1997 a história chegou pela segunda vez ao cinema, desta vez com o uso da cor e tendo em Jack Lemmon um dos jurados que rouba as cenas. A direção é de William Friedkin. É um filme de tribunal inesquecível, que prende a atenção do início ao fim, apesar de toda a ação se passar numa sala, onde 12 pessoas completamente diferentes devem decidir sobre o destino da vida de um jovem, acusado de ter assassinado o próprio pai.
Vamos, porém, a Anatomia de um Crime, este filme excepcional que só recentemente tive oportunidade de assistir. A direção é de Otto Preminger, um cineasta de origem austríaca que foi morar nos Estados Unidos fugindo do horror do nazismo e por lá ficou. Realizou suas primeiras obras ainda no início dos anos 30, tendo encerrado sua carreira em 1979, com O Fator Humano. Outros longas mais conhecidos deles são Exodus, O Cardeal e Setembro Negro.
Anatomia de Um Crime tem uma fotografia primorosa em preto e branco e o principal ator é um dos mais destacados dos anos 50 e 60: James Stewart, que estrelou vários filmes de Alfred Hithcock, inclusive “Janela Indiscreta” e “Um Corpo que Cai”. Fez ainda “O Homem que matou o Facínora”, considerado por muitos críticos como o melhor faroeste de todos os tempos, e “Aeroporto 77”, um dos seus últimos trabalhos.
Stewart está muito bem na pele do advogado Paul Biegler, contratado para defender o tenente Frederick Manion, acusado de matar um dono de bar por ter estuprado sua esposa. Esta é a bela e sensual Laura (Lee Remick), uma mulher avançada e até um tanto vulgar, para sua época.
Uma informação interessante dada pelo articulista de “1001 filmes para ver antes de morrer” é que o longa de Otto Preminger gerou polêmica na sociedade americana dos final dos anos 50. Palavras como calcinhas, estupro e espermatogênese causaram escândalo.
O filme em alguns aspectos está mesmo à frente do seu tempo, mas se transformou num clássico pelas muitas qualidades que reúne. Todo o elenco brilha durante os 160 minutos dessa obra cinematográfica, o diretor consegue prender a atenção do espectador durante todos os minutos e quando a história chega no Tribunal você ri, torce, sofre, a cada lance do promotor, do advogado de defesa, do juiz e dos depoimentos das testemunhas.
Os diálogos travados são curtos, objetivos e inteligentes, exigindo raciocínio rápido de quem acompanha a trama. É um filme que da mesma maneira do citado “Doze Homens e uma Sentença” tem preocupação com a psicologia dos personagens, aprofunda este lado, se destacando de trabalhos comuns feitos só para entreter.
Anatomia de um Crime merece figurar não só na lista dos 1000 melhores filmes da História. Deve ficar entre os 100, talvez entre os 10, vai depender muito da visão e até das preferências pessoais de cada um. O que é inegável é estamos diante de uma das obras primas do Cinema, uma verdadeira aula do senhor Otto Preminger no uso das câmeras.
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