VIDAS SECAS
A literatura sempre rendeu bons filmes. Vinhas da Ira, o grande romance do americano John Steinbeck, foi adaptado com maestria para o cinema. “O Velho e o Mar” e “Por quem os Sinos Dobram”, de Ernest Hemingway, também foram levados com competência à tela grande. A obra de Shakespeare igualmente recebeu boas leituras de diferentes cineastas. Há casos em que a obra cinematográfica ganha tal relevância que as pessoas até esquecem do livro. Um exemplo é “E O Vento Levou”, romance dramático de Victor Fleming, conhecido pela maioria das pessoas mais pelo filme do que pelo romance.
Se fossemos fazer uma pesquisa, encontraríamos centenas ou mesmo milhares de bons livros que renderam excelentes filmes. Verdade que nem sempre se consegue uma boa adaptação. Alguns autores parecem ser mais difíceis de traduzir. Que eu saiba nenhum dos primorosos romances de Tolstoi, Dostoievski ou do brasileiro Machado de Assis foi transformado em um filme irretocável. Muitas foram as tentativas, mas todas as adaptações desses escritores ficaram muito aquém do talento literário dos autores.
No Brasil temos talvez um número menor de adaptações, mas alguns escritores foram levados com sucesso ao cinema. Dona Flor, de Jorge Amado, foi transformado num divertido filme que durante mais de 30 anos se manteve no posto de maior bilheteria do país. José Lins do Rego, Érico Veríssimo, Lima Barreto, José de Alencar e o próprio Machado serviram de inspiração a diferentes diretores, mas nenhum trabalho com as câmeras resultou em obras primas como Menino de Engenho, O Tempo e o Vento, O Triste Fim de Policarpo Quaresma e O Guarani.
Lembro, de cabeça, três bons filmes nacionais que nasceram primeiro na literatura: O Pagador de Promessas, baseado em obra de Dias Gomes; Memórias do Cárcere e Vidas Secas, ambos relatos do escritor Graciliano Ramos, transformados em dois excelentes filmes por Nelson Pereira dos Santos, um dos maiores cineastas deste país.
Graciliano era um escritor seco, preciso, realista (não estamos nos referindo ao movimento literário) que tratou com muita competência o tema da seca no Nordeste. E que, avançando em relação à Raquel de Queiroz e José Américo, buscou aprofundar os porquês da miséria do povo simples de Alagoas, Pernambuco, Ceará, Bahia...
“Vidas Secas”, o filme, de 1963, é um grande momento do cinema brasileiro. O longa recebeu o reconhecimento da crítica e do público aqui no país, ganhou prêmios internacionais e foi inclusive indicado a Palma de Ouro em Cannes.
Nelson foi fiel ao livro, mas também tomou suas liberdades, uma vez que o cinema tem sua linguagem própria e muitas vezes é impossível usar o texto ou narrar determinada cena tal qual o autor concebeu ao escrever o seu romance.
Mas a essência de Vidas Secas, o livro, está mantida no filme.
O ritmo lento, as poucas palavras, a paisagem árida, os personagens esmagados por uma condição social desumana. Não apenas a seca em si, mas também o sistema político, os valores arraigados de uma sociedade atrasada e injusta.
Átila Iório, ator que marcou época no cinema e na televisão brasileira, participando de muitas novelas da antiga Tupi, interpreta bem o Fabiano, o personagem central do filme. Maria Ribeiro compõe a Sinhá Vitória, a mulher nordestina sofrida, tangida pela seca e pela vontade dos homens. Há os meninos, a cachorra baleia, e cenas inesquecíveis que fazem desta obra de Nélson um dos grandes momentos do cinema nacional.
Há uma cena em que está chovendo. A chuva é surpreendente, naquela região castigada pela estiagem. O diretor, de forma proposital, traz pra gente o barulho da água batendo no telhado de uma forma estridente, diria até um tanto musical.
É chuva.
Os personagens, dentro de uma casa humilde, sem reboco, sem nada, acham que estão seguros. Fabiano elogia a moradia, como para encorajar a mulher. Tentando passar a idéia de que o arremedo de imóvel vai resistir a trovoada.
No livro é muito forte o momento em que Fabiano é injustamente atropelado pela autoridade policial. Nelson Pereira dos Santos conseguiu fazer uma cena marcante também. Átila Iório está perfeito na pele do matuto simples vítima do arbítrio. Quando o soldado o descompõe, pisa no seu pé e depois usa o apito para chamar os colegas de farda não dá para ficar indiferente. Graciliano e Pereira denunciam com igual competência o abismo social e a injustiça reinante no Brasil daquela época (será que mudou muito?).
O filme Vidas secas não é fácil de achar. Infelizmente. Como o livro, devia ser conhecido pela maioria dos brasileiros. Faz muito anos que assisti. Pela internet, consegui rever várias cenas e me chamou a atenção a bela fotografia em preto e branco. Embora denuncie a miséria, retrate a vida de nordestinos sofridos, o longa consegue também tocar corações e mentes ao mostrar de uma forma tão realista o semi-árido e o sertão.
A música de Luiz Gonzaga em algumas cenas, a prisão de Fabiano, o sofrimento de Vitória e das crianças, a morte da cachorra Baleia fazem de Vidas Secas um filme único e inesquecível.
O texto acima retrata bem o povo brasileiro e nordestino.O drama vivido pelos personagens descrito acima mostra o quanto ainda precisamos se desenvolver para atingir o desenvolvimento social de um país mais justo.
ResponderExcluirAo ler as mensagens contidas acima pude fazer um recordação do tempo em que vivia estudando na Universidade Federal Rural de Pernambuco e na Universidade Católica de Pernambuco.
visitei muito as bibliotecas e lia muito as obras de Machado de Assis , José de Alencar, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Castro Alves, Olavo Bilac, Aluizio de Azevedo, João Cabral de Melo Neto, Carlos Drumond de Andrade, Osvaldo de Andrade, Monteiro Lobato, Manuel Bandeira, Gilberto Freire, Issac Newton, Galileu Galilei, Aristótoles, Platão, Klepper, Pitágoras, Lavoisier, Charles Gay Lussac e a vida do maior filósofo grego Sócrates.
Pense que leitura saudável e enriquecedora.
Professor -Zeca Barbosa.