FLÁVIO JOSÉ E OS HERDEIROS DE GONZAGÃO
A música nordestina teve sua expressão máxima no pernambucano Luiz Gonzaga. Enquanto cantores como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Fagner, Ednardo e Alceu Valença - para ficar só nesses nomes mais conhecidos e consagrados da Música Popular Brasileira –, desde o início produziram um som sintonizado com o país inteiro, de características até universais, o cantor e sanfoneiro de Exu voltou-se mais para o Nordeste. Canções que podem ser chamadas de raiz, vinculadas à realidade da região. A terra, a seca, o gado, as festas juninas, o São João, a fauna, a flora, os rios, as cachoeiras, as cidades, as feiras, os retirantes, os missionários, os romeiros, a religiosidade, os santos, os amores caboclos... De tudo um pouco Gonzagão mostrou em sua obra, com composições próprias ou de parceiros como Zé Dantas, Humberto Teixeira, Onildo Almeida, Patativa de Assaré (autor dos versos de A Triste Partida) e muitos outros.
Gonzaga partiu deixando um legado imenso, influenciando todas as vertentes da MPB. Assim, Caetano, Gil, Alceu, Fagner, Belchior, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, Lenine, Chico César, Dominguinhos e até Roberto Carlos em algum momento fariam uma referência ao Rei do Baião. Teve até o Benito de Paula, um cantor de sambas abolerados que fez sucesso nos anos 70/80, fazendo uma homenagem ao artista de Exu, exaltando a sua “sanfona branca”.
Embora os artistas citados acima tenham bebido na fonte de Luiz Gonzaga, nenhum deles se dedicou à música 100% nordestina, seguindo a trilha do pernambucano. A partir dos anos 80 e principalmente após a morte do cantor de Asa Branca, é que surgiram e se firmaram muitos nomes seguindo os caminhos abertos por Lua.
Tivemos Jackson do Pandeiro, O Trio Nordestino, Marinês, Genival Lacerda e o Quinteto Violado se destacando lá atrás, antes mesmo do sanfoneiro de Exu subir para o céu. Dominguinhos vem de longe também e o próprio Rei o elegeu seu sucessor. Depois vieram Elba Ramalho, Jorge de Altinho, Alcymar Monteiro, Petrúcio Amorim, Maciel Melo, Santanna, Gláucio Costa, Zezinho de Garanhuns e Flávio José, todos herdeiros de Gonzagão, cantando ou compondo músicas estritamente afeitas à realidade do Nordeste.
Sem que fosse formada uma associação e criado um estatuto, ao longo do tempo se criou praticamente um Movimento da Música do Nordeste, com direito até a um hino, a canção “Nordeste Independente”, de autoria de Bráulio Tavares e Ivanildo Vilanova.
Em Recife o distrito industrial
O idioma ia ser nordestinense
A bandeira de renda cearense
"Asa Branca" era o hino nacional
O folheto era o símbolo oficial
A moeda, o tostão de antigamente
Conselheiro seria o inconfidente
Lampião, o herói inesquecido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente.
São versos fortes, revolucionários, que incomodam, tanto que a música chegou a ser proibida de ser tocada nos rádios, devido ao seu conteúdo “separatista”. Ficou conhecida principalmente na voz de Elba Ramalho.
FLÁVIO JOSÉ
Cada um dos artistas citados neste ensaio merece um perfil, uma biografia, o reconhecimento. Como o nosso objetivo, porém, não é fazer um tratado sobre o tema, vamos focar a figura de Flávio José, a nosso ver o mais bem sucedido dos cantores da autêntica música nordestina, na linha dos herdeiros de Luiz Gonzaga.
Flávio José Marcelino Remígio nasceu em Monteiro, na Paraíba, e desde os sete anos de idade já demonstrava vocação para música. Aos 10 anos já tocava um fole de 24 baixos, animando as festinhas de sua cidade. Iniciou sua carreira profissional ainda no final dos anos 70, mas ficaria conhecido mesmo a partir do início da década de 90, graças principalmente ao sucesso de Caboclo Sonhador, uma linda música que depois foi regravada por vários outros artistas, inclusive Fagner.
Nas últimas décadas, Flávio emplacaria um sucesso atrás do outro, tornando-se um pop star sertanejo, capaz de lotar casas de shows e praças em cidades da Bahia, Alagoas, Sergipe, Pernambuco, Paraíba e outros estados nordestinos.
Que Nem Vem Vem (Maciel Melo), Um Nordestino Lutador (Itanildo Show), A Casa da Saudade (Coroné Caruá), Um Passarinho (Nando Alves e Ilmar Cavalcanti), Quando Bate o Coração (Acioly Neto), Tareco e Mariola (Petrúcio Amorim), Sem Ferrolho e Sem Tramela (Juarez Santiago), Espumas ao Vento (Acioly Neto), Casa Velha de Sapé (Dorgival Dantas), A Poeira e a Estrada (Flávio José), De Mala e Cuia (Flávio Leandro) , Brasilidade (Flávio Leandro) e muitas outras canções de bom nível marcam a carreira do menestrel paraibano.
Ao contrário de colegas de estrada, como Petrúcio Amorim e Maciel Melo, Flávio prefere gravar músicas de outros compositores. Mas parece escolher a dedo canções que se identifiquem com ele e seu projeto artístico-cultural.
É um defensor consciente do forró pé-de-serra, da cultura nordestina, não temendo, em sua declarações à imprensa, de criticar os que fazem o “forró de plástico”, estilizado ou eletrônico, para cravar aqui algumas expressões usadas em relação ao “falso forró”.
Flávio já tem 30 anos de carreira e mais de 20 discos gravados, entre LPs e CDs. Fez bem em trocar a profissão de bancário pela de cantor, pois tem uma voz que se encaixa à perfeição na interpretação de xotes, baiões e forrós da lavra dos compositores nordestinos.
Interessante é que Flávio José, o mais bem sucedido dos herdeiros de Gonzagão, é também o que segue mais sua própria linha, sem regravações das músicas do pernambucano, acrescentando ao legado do Rei do Baião algo de novo, como que dando continuidade ao caminho aberto pelo inesquecível intérprete de Assum Preto.
Numa entrevista na Bahia, alguns anos atrás, Flávio confessou a influência de Gonzaga em sua música. Revelou ter tido até uma convivência próxima do cantor pernambucano, sem que tenha tido a oportunidade de se apresentar com ele. Quando o sanfoneiro de Exu partiu é que o paraibano começou mesmo a despontar.
Graças a sua voz gostosa de ouvir, ao seu repertório bem escolhido, a sua coerência como artista, aos muitos sucessos que emplacou nesses anos todos, Flávio José com certeza pode figurar na relação dos Grandes Nomes da Música Popular Brasileira.
Olá Roberto tudo bem?
ResponderExcluirSó pra complemnetar uma informação dada por você no correio sete colinas, não foi só São Bento do Una que pagou 13º salário, trabalho em Paranatama e já recebi metade do 13º este mês.
Abraços
Flavio José hoje é evangélico, acho que só não tá tocondo gospel ainda porque a fama que fez com esse estilo lhe rende um bom dim dim.
ResponderExcluirAmigo anônimo. S[o retificando o amigo acima, Flávio José não é evangélico, mas sim é um crente, pois o mesmo tem Jesus Cristo como senhor e salvador. Continua levando a cultura nordestina por esse Brasilzão e vai continuar por muito tempo. Abraços
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