NANA CAYMMI - GRANDES NOMES DA MPB - 56º

Pouca gente deve ter ouvido falar em Dinair Tostes Caymmi. O sobrenome conhecido, no entanto, dá imediatamente a pista de que se trata de alguma artista. É mesmo, das melhores do país. Dinair é Nana, integrante de uma família de músicos que honram a música popular brasileira. São compositores, cantores e músicos reconhecidos mesmo internacionalmente.

Nana Caymmi nasceu no Rio de Janeiro, em 1941. Filha de Dorival Caymmi e Stella Maris, tem como irmãos Dori e Danilo Caymmi, todos dedicados de uma maneira ou de outra a boa MPB. Embora não tenha nenhum momento de brilho especial, como estrela, caso de Maria Betânia, Simone, Marisa Monte, Nara Leão, Elba Ramalho ou mesmo Adriana Calcanhoto (todas elas já com o seu perfil nesta série), a carioca filha de baianos tem uma carreira coerente, sólida, respeitada, sem os altos e baixos comuns no meio artístico.

Cantarolava desde criança e aos 19, no início da década de 60, teve sua primeira participação em disco. Gravou em estúdio a música Acalanto, no disco do pai lançado naquela época. Essa canção, por sinal, foi uma composição para a filha quando esta era ainda uma garotinha.

Lançou no mesmo período seu primeiro disco solo, um 78 rotações,  mas casou pouco tempo depois com um médico, Gilberto Paoli e foi morar na Venezuela. Ficou longe do Brasil e do meio artístico por cerca de quatro anos.

Quando voltou ao País, retomou sua carreira e em 1966 ficou com o primeiro lugar do I Festival Internacional da Canção, promovido pela TV Globo. Cantou a música Saveiros, uma parceria do irmão Dori com Nélson Mota, este último um compositor e crítico com uma vida dedicada a música brasileira.

A partir daí Nana Caymmi passou a se apresentar na televisão e em shows, ao lado de artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Betânia e Toquinho.

Com sua voz de contralto e sua maneira de interpretar única, aliada a um repertório bem escolhido, em 1969 o maior poeta brasileiro, Carlos Drummond de Andrade, publicou no Correio da Manha “A Festa”, usando os versos para fazer uma citação à cantora.

Na década de 70 gravou pouco, porém fez shows por países da América Latina, como Uruguai e Argentina, inclusive lançando um disco direcionado a los hermanos. No Brasil só retornaria aos estúdios em 1975, lançando um LP com seu nome e que obteve boa repercussão, principalmente no Rio de Janeiro. Depois disso fez um show numa boate de São Paulo e arrancou elogios rasgados do exigente e competente crítico Tarik de Souza. Caetano Veloso ficou impressionado com sua interpretação de “Medo de Amar”.

Nos anos 80 a excelente intérprete continuou sua caminhada. Gravou novos discos, participou de projetos musicais ao lado de cantoras e compositoras importantes do País, como Sueli Costa, Rosinha Valença, Zezé Mota (também atriz) e Fátima Guedes, além de se apresentar em países como Portugal e Espanha. Por este tempo começou também a emplacar algumas músicas nas trilhas sonoras de novelas, tornando sua voz sensual mais conhecida do grande público.

Nana, como o vinho, fica melhor com o tempo. Nos anos 90 recebeu seu primeiro disco de ouro, por vender mais de 100 mil CDs do álbum “Resposta ao Tempo”. Antes, em 94 gravou “A Noite do Meu Bem”, um disco só com canções de Dolores Duran (também já com sua biografia nesta série).

O grande momento da cantora, na década passada, foi em 2004, quando gravou com os irmãos, em homenagem aos 90 anos do pai, o disco “Para Caymmi, de Nana, Dori e Danilo”. Todas as músicas, naturalmente, compostas pelo eterno Dorival, que morreu em agosto de 2008. Stela, sua mulher, morreu no mesmo mês e no mesmo ano.

A morte dos pais abalou a artista, que ficou por uns meses sem motivação para cantar. Em dezembro de 2008, contudo, participaria de um especial da Globo – juntamente com os irmãos – em homenagem ao pai. No ano seguinte gravou mais um disco, “Sem poupar Coração", com 14 faixas, uma delas incluída na novela global das 21h. Em 2010 um francês, Georges Gachot, finalizou um documentário completo sobre a artista.

Ao longo de mais de 50 anos de carreira, Dinair Tostes, ou melhor Nana Caymmi, nos presenteou com suaves ou marcantes interpretações dos maiores nomes da MPB. Quando se pensava que Gal Costa dera uma interpretação definitiva a “Só Louco”, de Dorival, veio a filha e arrasou. Quando uma velha canção pouco lembrada de Roberto Carlos parecia perdida no túnel do tempo, chegou Nana e a relançou: “Não se esqueça de mim”, encantou o Brasil fazendo parte da trilha sonora de uma novela. “A Noite do Meu Bem”, da inesquecível Dolores, tão forte na interpretação de Nélson Gonçalves e cantada por tantos artista de peso, é singular na interpretação da senhora Caymmi. “Beijo Partido”, conhecida na voz de Milton Nascimento, tem outro sabor na voz de Dinair.

Aqui em Garanhuns tem um intelectual, muito ligado à música, ao teatro e a literatura, que definiu o modo de Nana Caymmi interpretar canções de uma maneira muito especial. 

Segundo esse rapaz, “ela canta com a xoxota”. Escrito assim, parece vulgar, fora do contexto de tudo que escrevemos. Acho, no entanto, que ele expressou, usando de ironia, o seu modo de ver e sentir a força interpretativa da artista: “Nana canta com todo o corpo, com o coração, com o sexo, com tudo de mais puro e mais profano do seu ser”.

Nana Caymmi cantando nos embala com uma voz muito sensual. É coisa de louco, de ficar rodando na cabeça e não descartar com facilidade.

É Nana, a gente não podia te esquecer.

(Principais Fontes de Consulta: Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, artigo na internet de Tatiana Rocha, discografia da artista, site biográfico de Nana, enciclopédia Google).

NANA - Ao clicar no nome da artista, todo maiúsculo, você acessa um vídeo do youtube com a interpretação da cantora da música "Não se esqueça de mim".