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FILMES INESQUECÍVEIS XV


LADRÕES DE BICICLETA

Esse filme é dos meus tempos de cinema de arte, em Recife. Não tenho certeza, mas devo tê-lo assistido no Ritz ou ou Astor, na Avenida Visconde de Suassuna. Era um tempo na capital pernambucana em que os Shopping Centers ainda não tinham sido inventados. As boas salas de exibição eram todas no centro da cidade. Tinha o Art Palácio, o Trianon, o Moderno, o São Luiz. Alguns já foram citados dentro desta série.

O Grupo Severiano Ribeiro era o magnata do cinema em todo país. Possuía as melhores casas de exibição na maioria das capitais. O Ritz e o Astor, porém, foram instalados por outra empresa. Com os charmosos nomes franceses, modernos, confortáveis, localizados nas proximidades do Parque 13 de Maio, foram um acontecimento no Recife, quando inaugurados. Inicialmente tinham ótima programação, um deles era mais comercial, o outro abria espaço para filmes de arte. Ladrões de Bicicleta não tenho tanta certeza, mas “Tempos Modernos” (nada a ver com a novela), de Charlie Chaplin sei que foi numa dessas salas que assisti. O tempo passa, contudo muitas coisas boas a gente retém na memória.

Vamos, contudo, entrar no assunto que interessa: O extraordinário filme de Vittorio De Sica. Este foi uma dos maiores cineastas italianos e do mundo, que nasceu no início do século passado e viveu até o dia 13 de novembro de 1974. Suas obras faziam tanto sucesso de crítica e público, tinham tanta qualidade, que ele conquistou em sua carreira três Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Um reconhecimento desses pela Academia de Hollywood não é para muitos. Mas ele pegou a famosa estatueta em 1946, com Vítimas da Tormenta; em 1948 com Ladrões de Bicicleta ; e em 1971, graças a O Jardim dos Finzi-Contini. O diretor tem ainda em seu currículo Matrimônio à Italiana, muito popular, no seu tempo, e Os Girassóis da Rússia, um grande clássico do cinema, se não estou enganado com Sophia Loren, uma das atrizes mais cultuadas da história do cinema.

“Ladrões de Bicicleta”, do qual tratamos nesta resenha, foi realizado em 1948, apenas três anos após o final da Segunda Guerra Mundial. A Itália, como outros países da Europa, estava arrasada pela loucura de Benito Mussolini e do seu parceiro Adolf Hitler. Havia desemprego, sofrimento, fome.

Neste contexto foi que nasceu na Itália um movimento artístico chamado neorealismo, integrado por cineastas que viraram celebridades.Dentre esses estavam Roberto Rosselini (Roma, Cidade Aberta), Luchino Visconti (Obsessão) e De Sica. Esses diretores mostraram fatos da guerra e as conseqüências dela. O desemprego, o desespero das pessoas, a falta de perspectivas de uma época difícil foi levada às telas, mesmo enfrentando resistências e perseguições.

No filme de Vittorio De Sica temos um personagem, Antônio Ricci lutando de forma angustiada para arranjar um emprego. Como sustentar a família sem trabalho? Depois de muitas tentativas, o pobre homem finalmente consegue uma vaga para colar cartazes nas ruas. Uma ocupação humilde, mas que serviria para aliviar as agruras da mulher e do filho.

O emprego, no entanto, exigia que o trabalhador tivesse uma bicicleta. Primeiro, o drama de arranjar a ocupação remunerada. Depois, a angústia para adquirir uma bicicleta sem meios para isso. A mulher vende umas roupas de casa para que o marido possa comprar o equipamento necessário.

Antônio compra a sua bicicleta. Quando ele sai para trabalhar no primeiro dia, com o seu veículo de transporte, é uma emoção. Os seus olhos brilham, está orgulhoso, confiante, feliz.

Ricci tem um filho de mais ou menos 10 anos. Apaixonado pelo pai, vive todo o drama da família e vibra com a possibilidade da vida da família melhor por conta da bicicleta, objeto que irá possibilitar o trabalho, um salário, comida na mesa e alegria dentro do angustiado lar.

Então acontece o pior. Naqueles tempos difíceis, outros precisavam de uma bicicleta, o desemprego provocava o aumento da criminalidade. Um desses ladrões que perambulava pelas ruas rouba o equipamento de Antônio, de repente dominado pelo medo de perder o emprego, voltar à estaca zero.

A maior parte do filme, lembro bem, se desenrola na busca desesperada de Antônio tentando recuperar a bicicleta. Ele e o pequeno Bruno fazem de tudo para tentar reaver o objeto, tão essencial na vida deles, naquele momento, quanto um carro ou um computador, hoje, para muitas pessoas.

“Ladrões de Bicicleta”, filmado em preto e branco quando já havia muitas obras da sétima arte em cor, tem uma fotografia magnífica. Os atores, na maioria amadores têm um desempenho impecável e a direção, a cargo de um mestre, dispensa maiores comentários. O roteiro é bem costurado, a trilha sonora é boa, a história comove e provoca reflexões sobre até onde o homem pode ir numa situação particularmente difícil.

De certa maneira, esse filme me faz lembrar duas obras primas da literatura mundial que tive oportunidade de conferir: “Fome”, do escritor norueguês Knut Hansun, vencedor do prêmio Nobel de Literatura; e “Vinhas da Ira”, do americano John Stenbeck. Este último livro, inclusive, também foi transformado num ótimo filme.

Acho que há em comum entre Fome, Vinhas da Ira e Ladrões de Bicicleta, a angústia, a dimensão do sofrimento humano, quando advém uma situação de grande dificuldade. Algumas pessoas, acredito, não têm sensibilidade para compreender essas obras, por nunca terem sofrido a dor do desemprego, da falta de dinheiro até para comprar comida.

Ladrões de Bicicleta é um filme que pode perturbar, deixar alguém ocasionalmente "pra baixo", no entanto é um clássico inesquecível, digno de ser visto por todo mundo que se interessa pelo bom cinema e é capaz de ficar sensibilizado com uma história bem humana. Anda hoje, infelizmente, situações como as narradas aqui se repetem em vários países, inclusive no nosso amado Brasil.

(Fontes de Consulta: O site Cineplayers, com uma boa crítica de Rodrigo Cunha e alguns outros sítios da internet com referências a obra de Vittorio de Sicca e ao filme comentado. De 70 a 80% do texto, acredito, ficou mesmo por conta da memória do autor do blog).

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