A ÁFRICA EM FESTA GRAÇAS A COPA DO MUNDO

Joanesburgo em festa com a passagem da seleção africana

Copa do Mundo sempre é um acontecimento. Uma velha frase, tantas vezes já usada, pode ser repetida aqui: "É tão bom que só acontece de quatro em quatro anos". Desta vez não é na Europa rica ou no Brasil, que espera sua vez para 2014 e sim na pobre África do Sul. País que ainda não sarou as feridas do Apartheid e sofre na pele, hoje, índices de contaminação pelo HIV que assustam o mundo: 19% dos sul africanos estão com o vírus da AIDs. Tudo isso, às vésperas da bola começar a rolar nos gramados, será temporariamente esquecido. Joanesburgo está em festa. O povo está nas ruas, se divertindo como num grande carnaval e quando passa o ônibus levando a seleção nacional a alegria é geral.

Lembro de muitas copas. 1958 tinha apenas um ano de idade, o Brasil foi campeão e não tomei conhecimento. Em 1962, aos cinco anos, ainda lembro das bombas que estouravam na vilazinha, os adultos comemorando o bicampeonato, depois de acompanhar a grande final pelo rádio. 1966 lembro muito bem: 2 x0 na Bulgária, gols de Pelé e Garrincha. Perdemos para Hungria e Portugal, ficamos de fora logo. Ainda "assistimos" pelo rádio. Veio 1970, na TV preto e branca e foi aquele show: Brasil tricampeão, com atuações inesquecíveis de Pelé, Rivelino, Jairzinho, Gerson, Carlos Alberto... Quatro anos depois a novidade foi o carrossel holandês, que atropelou o time brasileiro. Na Argentina, em 78, o título ficou com os rivais, com uma maracutaia em cima do Peru. 1982. A brilhante seleção de Telê Santana, tão injustiçada quanto a de 50, que fez o Maracanã chorar. Pulamos 86, 90, voltamos a erguer a taça em 94, Romário jogando como um Pelé. Na França, eles nos golearam na final, um tal de Zidane assombrando o planeta. Em 2002 veio o penta, Ronaldo Fenômeno em grande forma.

Estamos num país irmão. De certa maneira temos muito dos africanos, que foram trazidos para o Brasil à força. Tratados de forma infame - os bichos eram mais respeitados - ainda hoje sofrem a discriminação, apesar de serem tantos negros de norte a sul. Será que chegou a vez do hexa? Será que além da alegria dos estádios, das ruas, a África se beneficiará da Copa para avançar e fugir da miséria, como nós temos feito nos últimos anos. A Copa vai começar. Deus proteja principalmente brasileiros e africanos e lhes dê não somente a alegria dos gols, mas sobretudo a felicidade de uma vida digna aos seus povos.