GOVERNISTAS

Apesar do talento indiscutível como cantor e compositor, Luiz Gonzaga se posicionou politicamente sempre ao lado dos governos, mesmo do militares que infelicitaram o Brasil durante tantos anos. Ele, inclusive, chegou a ter problemas com o filho Gonzaguinha por conta das posições políticas antagônicas dos dois. Tempos depois fizeram as pazes, gravaram juntos e "andaram muito por esse país".
Mesmo tendo gravado uma das mais fortes canções de protesto da MPB, a já citada "Vozes da Seca", o próprio Gonzagão reconhecia seu lado governista. "Eu sempre tive uma vocação para estar ao lado dos governos eleitos, sem levar em conta os partidos no poder. Assim foi com Dutra, com Getúlio, com Jânio, com Carlos Lacerda... Eu fiz a campanha dele todinha para o governo da Guanabara". Esta confissão de Gonzaga é citada hoje no JC pelo jornalista José Teles, um dos melhores críticos de música de Pernambuco e do Brasil.
O Inaldo Sampaio também registra esse comentário e lembra que Luiz Gonzaga fez até música para Marco Maciel, quando ele governava o Estado nomeado pela ditadura.
O sucessor de Gonzagão, o garanhuense Dominguinhos, também tem verve direitista. Aqui no Estado mesmo sempre participou dos programas eleitorais do PFL e no campo nacional esteve e está com José Serra.
A intenção aqui, naturalmente, não é denegrir a imagem dos dois grandes artistas. Nem minimizar a importância do trabalho de cada um deles. Mesmo se estiveram equivocados politicamente (e se estiverem certos e os chamados progressistas errados?), Luiz Gonzaga e Dominguinhos são refererências da autêntica música popular do Nordeste e nos deixam um legado para toda a vida.
Tem mais: poucos artistas da área musical se posicionam à esquerda, como Chico Buarque, Gonzaguinha, Fafá de Belém e João Bosco. A maioria prefere ostentar uma certa alienação ou simplesmente se coloca a serviço do poder.