19 de março
Acordei cedo e me olhei no
espelho. Mais cabelos brancos, mais rugas. O tempo passou. Ela, ao lado, perdeu o ar de princesa, porém continua trazendo nos olhos a beleza de
outrora. Ainda há amor, apenas mudou a essência, e a culpa é do relógio, que nos faz
estar em constante transformação.
Não há pássaros nas gaiolas, na verdade
nem gaiolas, elas estão distantes, em outro lugar, as pequenas aves cuidadas por
mãos cheias de calos, sedentas do pouco lucro.
A televisão é ligada várias vezes ao
dia. Filmes, documentários, música. Belchior sempre presente, Chico, Caetano,
Gal, Bethânia, Zeca, Chuva de Honestidade e Luiz Gonzaga, com aquela canção
bonita que ele fez pra Maçonaria.
Livros nas estantes, no guarda roupa,
na sapateira e na cama. Eles me cercam, cheio de letras, como disse um certo
presidente. Os últimos que chegaram têm as letras miúdas, parece bula de
remédio. Vou ter de comprar um kindle, pois posso aumentar a fonte e evitar
sofrimento aos óculos, que nem sempre me salvam.
Festa em homenagem a São José não aconteceu,
tudo culpa do vírus que nos deixa ilhados, separados dos pais, dos filhos, dos
netos, dos amigos e das ruas.
Agora, se vive como no filme, com mais
medo, mais até dos que nascem provocados pelos arremedos de ditadores.
19 de abril
Os casos estão aumentando sem que em
nenhum lugar se consiga vencê-lo. O mundo ficou pequeno e a China, Os Estados
Unidos, a Espanha, a Itália, a Índia, até Sorocaba, parecem compor um só
continente.
Aí, vou do quarto para a sala, passo ao escritório, com pouco vou ao banheiro.
Chove muito e não dá para espiar a rua.
A igreja, as casas, as árvores, a farmácia, o movimento dos carros na avenida
principal que corta o bairro em direção ao Castainho.
Como se estivesse tudo distante, e tão
perto. Encosto as costas na parede, protegido por almofadas, sonho acordado.
Um filme francês, outro holandês, um
cineasta de Lituânia mostra os horrores praticados pelos russos na época de
Stalin.
Mas um amigo comunista jura que é tudo
intriga dos americanos. Só faltou dizer que o genocida soviético era um santo,
agia a serviço da causa, do povo.
A história registra que ele foi
terrível, não teve compaixão nem mesmo da mulher e do filho.
Tudo propaganda anticomunista?
Vai ver que apesar de não ter fazendas,
nem carrões, imóveis na praia ou dinheiro no banco sou um pequeno burguês, e
fui convencido pelos inimigos do proletariado de que Stalin foi tão assassino
quanto Hitler.
Faz frio e estou de novo diante do
espelho, espantado. Será que é por ver cara a cara a passagem implacável do
tempo? Por não ter mais o mesmo pique de quando tinha 30 anos e na cidadezinha,
no inverno, envolvia a amada em lençóis e fazíamos amor o dia todo?
19 de maio
Passou o dia das mães e não fui
visitá-la. Dar um abraço, levar-lhe o merecido presente.
Fiquei aqui, preso sem ter cometido
nenhum crime. Viciado nas tais redes sociais. Quando menino e adolescente,
jogava futebol, mesmo nos dias de chuva. Agora corro do Facebook para o
Instagram, participo de uma olimpíada pelos sites, leio as notícias de hoje que
são as mesmas de ontem, de março e abril.
O sujeito comete um crime atrás do
outro, fala todo tipo de sandice, ataca homens, mulheres e instituições. E
ninguém faz nada. Vai ver ele além de protegido do exército, da mídia
corporativa e de parte do empresariado, fez um pacto com o capeta. E vai viver
500 anos, sem envelhecer, como aquele personagem de Oscar Wilde.
Se a vida imita a arte, estamos muito
fodidos. Brasil irá conseguir chegar ao topo entre as nações mais desiguais,
mais miseráveis. Campeão de impunidade e da injustiça.
E os militantes de esquerda, inquietos,
perguntam nos grupos de WhatsApp, quem mandou matar Marielle?
Era uma mulher negra, que saiu da
favela, chegou ao parlamento na segunda cidade do país e lutava pelos pobres,
os marginalizados, denunciava a violência policial, as arbitrariedades. Aí, foi
morta barbaramente, como nos filmes sobre Al Capone, impiedosamente metralhada
na cidade maravilhosa, para incredulidade dos países civilizados. E alguns aqui
ainda aplaudem, gado no Brasil não é mais palavra que define os bovinos, é
gente também, gente estúpida, ignorante, desinformada, cheia de medinhos de
virarmos a Venezuela ou Cuba. Sem dar a mínima que nos transformem no
Afeganistão.
Mas tudo isso está só na minha cabeça.
Estou no quarto. Vou ao escritório, escrevo notas. Vou novamente ao
banheiro, deve ser esse frio que me faz mijar tanto.
19 de junho
Caruaru ficou sem São João. Campina
Grande não promoveu as festas juninas. Elba não cantou, nem Flávio José,
Alcymar ou Flávio Leandro. Na verdade nem teve fogueira. Aqui na rua não. Na
cidade inteira ninguém fez fogueira, nem para homenagear Santo Antônio, nosso
padroeiro.
Que o santo, os outros santos, São
Sebastião, Deus e seu filho afastem de nós esse cálice, levem todo o mal pra
bem longe.
Todos em casa, embora uns se arrisquem
e saiam às ruas para não fazer nada.
Uns de máscara, outros sem.
Eu quando não está chovendo vou ao supermercado, às
pressas. Tomo um banho de álcool gel, saio mascarado como o Zorro. Faço a
pequena compra depressa, sem chegar junto de ninguém, tocando somente o
necessário. Usando álcool de novo após pegar na maquineta.
Volto mais que rapidamente. Olhos as
plantas do jardim, na sala falo com os gatos, embora eles nunca respondam.
Quando estou com o cachorro é
diferente, ele fala com os olhos. Às vezes como quem pede socorro, ou um
carinho. Outras vezes é pura alegria, saltitante, companheiro, meu melhor amigo
entre as paredes verdes do lugar que me coube viver, criar filhos, envelhecer
com o mínimo de de dignidade.
Ela faz tudo sempre igual, se levanta
às seis horas da manhã, me sorri com um sorriso pontual e não me beija porque
ainda não serviu o café.
E assim, entre tapas e beijos, vamos
vivendo essa doce loucura, aprendendo, torcendo, esperando que os filhos
apareçam e nos tragam as novidades do mundo.
19 de julho
Mais uma vez não tem festival.
Houve um tempo em nós íamos os 10 dias.
Chegávamos à praça, 22 ou 23 horas e voltávamos pra casa quatro da manhã.
Veio Zeca Baleiro, Ney Matogrosso,
Alcione, Chico César, Milton Nascimento, Gal Costa, Vanessa da Mata, Jorge
Vercillo, RPM, Skank, Caetano Veloso. Tanta gente boa.
Assistíamos espetáculos no teatro,
íamos aos parques, o povo na rua, gente de todas as tribos, gente bonita,
vestindo casacos, se protegendo do frio.
Agora está tudo cancelado, a praça
vazia, não tem ninguém para tomar vinho. Faltam os jovens se agarrando por
amor, tesão, ou simplesmente desejosos de vencer o frio e o ócio.
Em vez de shows, de arte, à distância
acompanhamos as estatísticas indesejadas, a ineficiência da máquina pública, a
falta de empatia, de sentimentos, de quem acha que um livro são só letras e
nada mais.
A cinemateca pegando fogo, a cultura
queimando, como em Roma, e Nero rindo, satisfeito, protegido pelos seus
generais.
Como não vou às ruas, às praças, visito
o jardim. Tem uma linda rosa vermelha toda emperiquitada, imponente,
indiferente às pedras e a cerâmica em seu entorno.
Quarto, sala, rampa, área de serviço,
banheiro. De volta pra o quarto e para o audiovisual.
"Aprendemos com a classe média,
que a vida é um tédio sem a televisão". Frase dos anos 70, do compositor
Ednardo.
Parafraseando o cearense: "A vida
é um tédio, perde o sentido sem o WhatsApp".
A internet não precisa de rua. Está na
casa toda, nos salva no quarto, na sala, no escritório e no banheiro.
Santa tecnologia!
19 de agosto
Mês de desgosto. Que levou meu avô,
Luiz Gonzaga, Raul Seixas e o ditador Getúlio Vargas, à época presidente pelo
voto popular.
Agora parou de chover. Também não está
tão frio.
Também, estou de camisa e paletó. Calças
jeans, janelas fechadas, luzes esquentando a manhã.
Eu sei que à tarde vai esfriar. Vou me
enfiar entre lençóis e lembrar de quando vivia na cidade grande.
Fazia muito calor, grandes distâncias,
tudo muito caro e o dinheiro sempre curto.
Aqui é diferente. Dá pra ir a pé no
supermercado, na farmácia e na feira.
Dá até pra passar uns dias sem dinheiro
de papel. E no quintal sempre se pode plantar um jerimum, tomates (minhas
filhas sempre gostaram, minha neta adora), beterraba e até morango. Veja que
luxo!
Quando tiver grana e a vacina chegar
vou convidá-las pra voltar naquele restaurante italiano.
Quem sabe posso ir no rodízio comer
picanha, maminha, costela, tomar suco de laranja natural e sem açúcar.
Agora, porém, aqui estou. No
escritório, daqui a pouco na sala, na cozinha, no quarto, no aconchego. A vida
ficou curta, mas ainda é vida. Gracias a la vida, que me ha dado tanto.
Obrigado Violeta Parra. Salve a Elis, que a cantou tão bem.
19 de setembro
Setembro passou, outubro e novembro, daqui a pouco é dezembro, meu Deus que é de nós?
E ele não vai embora. Não nos deixa em
paz.
E eu fico aqui, detido, como Lula
quando estava em Curitiba lendo enquanto esperava voltar ao seio do povo e aos
braços de Janja. Marisa, tão nobre, a lava jato matou.
Tim Maia cantava é primavera! Ora, o
Brasil não tem quatro estações bem definidas. Aqui é inverno ou verão. E seca,
que castiga o Nordeste e os políticos tiram proveito. Oportunistas e
aproveitadores, fazem política até com o vírus, como se o infeliz fosse cabo
eleitoral.
Vamos ver o que tem aqui em casa: alguns
quadros na parede. Um deles retrata ela ajoelhada no barreiro, lavando roupas.
Você conhecem a música do Gonzaguinha, a mais bonita dele? "Minha mãe no tanque, minha mãe na cozinha, lavando louça, lavando
roupa, cantando um fado, alegrando a labuta. Labutar é preciso..." Que versos tão lindos. Salve Luiz Gonzaga Júnior, que me visita entre quatro
paredes, parece estar tão vivo no YouTube.
Além dos quadros tem um sofá velho no
escritório, outro não tão velho na sala. Dois aparelhos de TV, um no quarto,
que nunca está Globo, muito menos no SBT ou Record. A Netflix é americana, mas
oferece qualidade.
Do quarto eu posso ir à Inglaterra, ao
Japão, à China, à Coréia do Sul, ao Uruguai, à Argentina, ao Chile, Dinamarca
ou mesmo a Hungria.
Ou posso viajar nos livros, voltar aos anos
50, quando nem era nascido ou engatinhava. Saber mais dos anos 60, da Jovem
Guarda, do Tropicalismo, da Bossa Nova e dos atos institucionais da ditadura
militar.
Sempre há espaço pra nós dois. Dou-lhe
um beijo, passo as mãos nas suas pernas, a provocação surte efeito e voltamos a
ser jovens.
Quem disse que o amor tem idade?
"Seu amor ainda é tudo".
19 de outubro
Mês das crianças. Dia 12 é aniversário
de Vitória. Em fevereiro nasceu João Paulo. Abril é o mês de Carolina. Daniela
e Roberta são de maio, Lula chegou em junho, Tiago em novembro.
Dias e meses abençoados. Daqui do
quarto eu comemoro filhos, filhas, netos, netas. Na verdade eles é que são
tudo. Dão sentido a nossa vida.
Toda luta é por eles, mesmo
depois que crescem, casam, têm os próprios filhos.
E mesmo se eles não nos amam com a
mesma intensidade isso não importa, amor de pai é incondicional, não precisa de
mão dupla, independente de tempo e distância.
Na sala, no escritório, no jardim, na área de serviço, acordado ou no quinto sono eles estão comigo. Os filhos me fazem suportar esse tal isolamento e tudo mais.
Em outubro também é aniversário do
Colégio Diocesano. Foram quatro anos lá. Dois ainda menino, dois já rapaz
feito, quando me tomei de amores pela literatura, com estímulo da professora
Luzinette, que Deus a tenha. O padre Ademar, o rigor, o medo, o aprendizado e
uma paixão que se perdeu no tempo.
Meu filho chegou. Ele é guarda
municipal. Funcionário público responsável, homem maduro. Está sem o carro,
porém foi a pé mesmo buscar o almoço. Está cansado e foi, quis poupar o pai,
que está teclando, entre quatro paredes.
19 de novembro
Mês de lembrar dos mortos. De
reverenciá-los, homenageá-los. Quem disse que eu preciso de um dia de finados
para lembrar deles? Meus avós, meu pai, alguns amigos queridos, estão aqui na
cabeça e no coração e posso vê-los a qualquer momento, conversar com eles e
pedir:
- Vocês que já estão no outro plano,
que já desvendaram o segredo, que estão junto do Criador, intercedam por nós.
Por mim, minha mulher, meus filhos, meus irmãos, minha mãe, meus netos.
Na casa também tem um som de CD que não
funciona mais, centenas de discos que já foram ouvidos, um aparelho de DVD
quebrado, objetos que se tornaram obsoletos, porque tudo agora é pela
plataforma digital.
A impressora também faz séculos que não
é usada, a cadeira de balanço do escritório me espera, na cozinha o cupim faz
estragos nas cadeiras e na mesa, as paredes foram danificadas pelo Cebolinha, o
cãozinho traquina que apronta de tudo e nunca temos raiva dele.
Nas muitas camas espalhadas em três
quartos duas gatas fazem a festa. Dormem muito e quando estão com fome pedem a
ração.
Uma mia forte, se faz logo entender. A
outra é silenciosa, parece que tímida, chegou aqui enxotada, com medo. Como é
bicho, nunca esqueceu os maus tratos e se recusa a confiar nas pessoas, mesmo em
nós que a alimentamos e lhe queremos bem.
Volta a chover. Pingos fortes batem no
telhado e no chão do jardim. Vai ser o dia todo assim. Mesmo que seja domingo e
a fome comece a chegar.
Daqui a pouco vou experimentar a
comidinha que chegou e talvez depois eu volte pra o quarto.
Aniversário do Colégio Quinze, onde também estudei quatro anos. Foi um tempo bom, os amigos daquela época se espalharam pelo mundo, ficaram na lembrança. Minha filha não teve a mesma sorte por lá. Os tempos são outros, há intolerância e preconceito os evangélicos agora querem impor seus conceitos do mundo (não todos, é claro), muitos deles obsoletos.
Hoje, mais uma vez, não vou sair. Se
bem que no sábado de não sei que mês fui a um restaurante e me alimentei muito
bem.
E esqueci de agradecer ao Senhor por nunca deixar faltar o pão nosso de cada dia, quando tem gente na fila de
ossos por aí.
19 de dezembro
Chegou o mês mais bonito do ano. Quando a magia toma conta da cidade, as praças ficam mais bonitas, barítonos cantam em frente ao Palácio Municipal e as luzes piscam na avenida.
Este ano, contudo, a alegria irá ficar sufocada numa garrafa, o consumismo será freado, os papéis de presente serão recolhidos, guardados, talvez alguém os solte ao vento e as crianças terão os olhos sem tanto brilho, sem entender o que se passa com os adultos.
Na minha casa tem dois crucifixos. Um foi presente do velho Ulisses, que gostava de mim. Não sei agora em que cômodo está. O outro, maior, presente de mamãe, é vistoso, protege a sala e toda a residência, com o Cristo de braços abertos e minha esposa, católica, sempre a cuidar de Nosso Senhor, em suas orações pede por todos nós.
A TV da sala, grande, fica num rack comprado por minha mulher, com o dinheirinho dela, que é pouco, mas ela também faz milagres.
Quando vou tomar banho, faço exercícios, são necessários para não enferrujar, principalmente depois dos 60.
Com esse clima, o chuveiro quente é indispensável e depois que se toma a ducha as forças são renovadas, já se pode voltar pra o quarto e de lá é possível, às vezes, lembrar que lá fora está o mundo.
Já escrevi sobre as molduras, as telas e os bichos. Do lado esquerdo da casa tem um corredor, na terra, onde ela faz suas plantações.
No final, tem uma casinha improvisada. No local, são criadas galinhas que vão e vêm. Vez por outra uma salta para a panela e sem remorso as degustamos com feijão verde, aqui conhecido como feijão de corda, ou fava, vinagrete.
O banquete pode ser aos domingos, mas também às segundas, é tudo feito em casa mesmo, por mãos carinhosas, habilidosas.
Umas têm sorte e passam meses na casinha, pondo ovos que são fritados para se comer no café da manhã, com pão e café quentes.
As refeições viraram a grande diversão. Atendem a necessidade e o lazer. Estar à mesa, nas atuais circunstancias, é como estar num parque de diversões.
Não fui a muitos, na cidade grande, contudo lembro de andar num trenzinho em Dois Irmãos e de um brinquedo maluco que me deixou grogue (meus filhos rindo de mim), isso entre Recife e Olinda, imagine só.
Quando criança, no lugarejo, ganhava roupa nova, sapatos e até um brinquedo. Ainda hoje lembro de um pião colorido que fazia um zoom encantador. E uma espingarda branquela que usei até uns 11 anos, atirando pra acabar com inimigos imaginários.
É Natal, mesmo com o mundo de cabeça pra baixo?
Há uma esperança no ar e quem sabe no próximo ano a magia vai estar de volta, num novo formato, com mais luzes, as pessoas podendo sair e comemorar o renascimento.
A vida de nossas
histórias
De fé, de coragem pra ver
Ver que a vida é a grande vitória
De quem decidir por viver.
Que eu canto, eu
canto, eu canto a vida
Só ela quem pode saber
A hora de cada partida
Pra o novo, de novo nascer.
Está na poesia da paraibana, saiu de um lugar pequeno para cantar a esperança no mundo grande.
Não podemos perdê-la (a esperança). Ela que nos permite seguir em frente, acordar todo dia convencido de que pode melhorar.
Se na Espanha homens viveram aprisionados, por décadas, dentro das paredes, ameaçados pelo ditador, por que não podemos suportar um tempo muito menor do quarto pra sala, do terraço para o quintal, da cozinha para o jardim?
Era uma vez um homem e seu tempo
Botas de sangue nas roupas de Lorca
Olho de frente a cara do presente e sei
Que vou ouvir a mesma história porca
Não há motivo para festa
Ora esta eu não sei rir à toa
Fique você com a mente positiva
Que eu quero a voz ativa
Ela é que é uma boa
Terá sido pessimista o filósofo de Sobral? Talvez, e ele acabou quase como nos seus versos, contudo deixou tanta coisa boa.
Ele me ajuda a viver assim. E todos os artistas, e as rosas do meu jardim, a companheira, os bichos. As paredes são mudas e indiferentes mais protegem, seja na Espanha ou no Brasil.
Salve a poesia, salve a arte, que nos alimenta, seja na rua, seja na prisão improvisada dentro de casa.
*Ilustração: 1) Imagem do filme "A Trincheira Infinita"; 2) Imagem da Revista IstoÉ Dinheiro. 3) Submarino Viagens.
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