Por Roberto Numeriano*
Uma das coisas que parece
espantar muita gente de bom senso no país é saber o quanto de brasileiros são
maus, toscos, imorais, covardes, autoritários, preconceituosos e canalhas. Sim,
dezenas de milhões de brasileiros são exatamente isso.
Não me surpreendi quando essa
chusma saiu do armário com a ascensão do seu líder, legitimando-os e por eles
legitimado como algo decente e digno de disputar qualquer coisa, de ter
protagonismo e influência política e social. Pra minha desgraça (ou sorte,
talvez), sempre percebi esses tipos desde minha juventude. Suas piadas tolas e
grotescas, suas atitudes públicas e privadas carregadas de ódio e preconceito,
a burrice e ressentimento.
Não tenham dúvidas: dentre
esses milhões, centenas de milhares estariam dispostos a matar e torturar,
humilhar e encarcerar os milhões do “outro lado”. Boa parte dessas almas
sebosas reside no sul-sudeste (onde muitos cultivam a ilusão de
pureza/superioridade racial), mas também podem ser vizinhos de porta, colegas
de trabalho ou de sala de aula. Talvez gritem gol conosco num estádio de
futebol ou conversem amenidades num elevador, depois de um cordial bom dia.
Onde está a insanidade
potencial / real desses tipos pérfidos? Está no fanatismo do medíocre
ressentido, movido a ódio contra tudo o que não se encaixa no seu modelo de
mundo. Muitas ou todas as guerras civis têm sua gênese nessas mentalidades. O
Brasil vive, a seu modo, essa guerra civil que, em Ciência Política, chamamos
de “branca”. É “branca” porque não declarada; está nos interstícios de uma
sociedade cindida desde a Casa-Grande contra a Senzala.
O ódio dos bolsonaristas é a
expressão rediviva dessa guerra que saiu do armário pra matar o “diferente”, o
viado, a lésbica, o comunista, o democrata, o preto, o pobre, tudo o que,
enfim, não se encaixa no mundo de Pollyanna moça construído na opressão e na
miséria. E é uma pena que essa guerra contra os humilhados e ofendidos seja
assim, amoitada, silenciosa, covarde como é, em essência, o bolsonarismo como
expressão político-ideológica dos perversos.
Escrevo isso porque talvez
fosse/seja necessário que essa canalha que saiu do armário viesse/venha pra
cima da outra porção do país de peito aberto, sem a cobertura das “fakenews”.
Essa canalha da direita ancestral nos sangra com golpes pelas costas (hajam
vistos tantos golpes de Estado do Exército que sustentamos pra detonar a
democracia, a cada ciclo de avanço político da esquerda), sufoca secularmente
as rebeliões libertárias, renega e anula direitos sociais duramente
conquistados.
Não se espantem com estas
palavras. Temos, sim, no mínimo, dois “brasis” antagônicos e irreconciliáveis.
Assim como houve nos Estados Unidos, na França, na Inglaterra, na Rússia, na
Alemanha, na Espanha, temos aqui a nossa guerra civil sempre ganha pelo lado
corrupto, em nome de uma falsa “família dos homens de bem”, e certamente em
defesa dos interesses da elite do atraso.
Se essa guerra fosse aberta,
declarada, os bolsonaristas do sul-sudeste não vacilariam um segundo sequer em
jogar bombas de extermínio sobre o “Nordeste vermelho”, com o beneplácito de
nordestinos de direita aqui residentes. E o Exército diria em suas ordens do
dia, na sua costumeira retórica oca e retumbante, que estava “salvando o Brasil
contra o avanço ignominioso do solerte comunismo”.
Assim foi feito no passado em
Contestado, Farroupilha, Canudos, Balaiada, Sabinada, Confederação do Equador
etc. Essas e muitas outras rebeliões sufocadas são as nossas eternas Guernicas imortalizadas por Pablo
Picasso.
Todos esses movimentos de
contestação / libertação foram varridos a ferro e fogo pelo ódio dos ricos. Se
for preciso, esses assassinos em potencial matarão o outro Brasil que eles
odeiam. Em nome da Ordem dos opressores de sempre e do Progresso de uma
meia-dúzia cada vez mais rica. O gesto da “arminha” tem como alvo o Brasil que
sempre se ferrou sob o jugo da Casa-Grande: o Brasil dos assenzalados.
*Roberto Numeriano é
jornalista, professor e pós-doutor em Ciência Política pela Instituto Português
de Relações Internacionais (IPRI) da Universidade Nova de Lisboa (UNL).
Verdade!
ResponderExcluirMás nós vamos concertar o que esse POVO ruim,esse POVO do mal provocou por sair do armário,
Não valem o que o gato enterra.
Depois de 2022 o que foi mamado terá de ser devolvido. Os chorões mal esperam pelo que os aguarda.
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