Professor Cláudio Gonçalves
Professor, historiador e escritor, autor
de quatro livros sobre o Cangaço e uma biografia do Mestre Dominguinhos,
Antonio Vilela de Souza é um profundo conhecedor da trajetória de Lampião nos
Sertões nordestino e Agreste pernambucano. O escritor também é um incansável e
obstinado pesquisador da História de Garanhuns, estando na fase final de
produção de sua nova obra, “Páginas Viradas – Memórias de Garanhuns”, livro que
surpreenderá os estudiosos e leitores da História do município pelas revelações
de fatos e personagens ainda inéditos.
Nessa entrevista, passaremos a conhecer
as suas origens, trajetória literária, a paixão pelo Cangaço, as suas obras
lançadas e o pesquisador pertinaz, que tem contribuído consideravelmente para o
resgate da memória de Garanhuns.
1) Conte-nos um pouco a sua trajetória pessoal, desde as suas
origens, família e infância, em linhas gerais.
Antonio Vilela - Sou filho de Antônio
Joaquim de Souza e Analice Oliveira Vilela, nasci no dia 12 de agosto de 1953
na Vila de São João, então distrito de Garanhuns. Com três anos de idade vim
morar com os meus pais em Garanhuns
Comecei meus estudos no Instituto
Presbiteriano de Heliópolis. Minha infância foi muito difícil, para comprar um
livro ou uma revista tinha que nas horas vagas catar lixo. Nos finais de semana
ia pegar fretes de frente a Rádio difusora de Garanhuns, no casarão dos
eucaliptos e na Estação Ferroviária.
2) Como ocorreu o seu primeiro contato com a literatura?
Antonio Vilela - O meu primeiro contato com
a literatura foi lendo os gibis de Walt Disney, como não tinha dinheiro para
comprar ia ler as obras de Disney na banca do folclórico Washington, estes eram
alugados, ainda na minha adolescência li as obras Alexandre Dumas Filho, enfim
era um viciado na leitura infanto-juvenil.
3) Quando nasceu o seu interesse pelo Cangaço e o processo de
aproximação com a ideia de vir a escrever sobre essa temática?
Antonio Vilela - Quando adolescente morava
na Vila José Bernardino Teixeira e lá morava também uma senhora que chamava de
“Dona Mocinha” por ironia do destino era rendeira, quanto eles estava
manobrando os seus bilros, sentava ao seu lado para ouvir as histórias do
Cangaço, especialmente do Capitão Lampião. Foi com dona Mocinha que passei a
gostar da literatura cangaceira. O primeiro livro que comprei na década de 1970
foi “Lampião” de Eduardo Barbosa, não parei mais.
A ideia de escrever um livro de cangaço
surgiu do meu filho Lincoln: “Pai, o senhor sabe tantas história do cangaço,
devia escrever um livros”. Tomei gosto e comecei a rabiscar as primeiras
linhas. Anos depois estava pronto o meu
primeiro livro sobre o cangaço: “O Incrível Mundo do Cangaço”, este foi lançado
em setembro de 2005, o qual já está em sua sétima edição.
4) Agora vamos abordar o seu primeiro livro, “O Incrível Mundo do
Cangaço”, o qual traz riquezas de detalhes sobre o fenômeno do Cangaço. Como essa obra foi recebida pelos estudiosos
e leitores do tema?
Antonio Vilela - O Incrível Mundo do
Cangaço é um livro diferenciado dos demais, pois faroliza o cangaço no Agreste
Meridional, enquanto os outros relacionam diretamente a figura de Lampião ao
Sertão. Ainda neste trabalho destaco as figuras de grandes militares que
dedicaram à vida perseguindo Lampião: Tenente José Jardim, seu irmão Sólon
Jardim, o Bravo Optato Gueiros, estes eram filhos de Garanhuns, ainda
destacamos João de Araújo Nunes, de Águas Belas. Do lado Cangaceiro citamos
Paizinho Baio, João Coxó e Barba Dura.
Como falei acima o Incrível Mundo do
Cangaço foi bem aceito pelo tema e baila, razão pelo qual foi vendido mais de
doze mil cópias.
5) Depois do lançamento desse primeiro livro, você seguiu
pesquisando e escrevendo sobre o Cangaço. Quais as outras obras que foram
publicados por você com essa temática?
Antonio Vilela - Não
parei mais de pesquisar, juntamente com confrades pesquisadores reviramos o
Sertões Nordestinos á procura de cangaceiros e volantes para enriquecermos a
nossa literatura. Não parei mais de escrever, posteriormente lançamos “O
Incrível Mundo do Cangaço Vol. II”, o qual já está em sua terceira edição
esgotada. Em 2012 lancei “A Outra Face do Cangaço – Vida e Morte de Um Praça”,
este livro narra a morte do único soldado na gota do Angico. Em 2015 lançamos o
livro “Lampião de Mocinho a Bandido – A Saga de Serrinha do Catimbau Contra o
Cangaço”, este relata a invasão de Lampião e séquito a Serrinha do Catimbau
(Paranatama) em 1936.
6) O que diferencia seus livros sobre o Cangaço de outras obras já
pulicadas?
Antonio Vilela - A diferença dos meus
trabalhos sobre o cangaço é que trago fatos inéditos, sou o primeiro escritor a
levar as ações de Lampião no Agreste Pernambucano.
7) Durante os longos anos de pesquisas você entrevistou importantes personagens do
Cangaço, principalmente ex-cangaceiros (as) e ex-integrantes das volantes. Qual
dessas entrevistas marcou sua vida como pesquisador do Cangaço?
Antonio Vilela - Sou de uma casta de
pesquisadores que tivemos o privilégio de entrevistarmos cangaceiros e
volantes. Do lado cangaceiro entrevistei: Dona Mocinha (Maria Ferreira de
Queiroz), irmão de Lampião, Expedita Ferreira Nunes, Filha de Lampião e Maria
Bonita, Aristeia, Durvinha, Sila, Moreno, Candeeiro, Silvio Hermano de Bulhões,
Filho de Corisco e Dadá, este ainda vivo, reside em Maceió. Do Lado Volante
(militares) estive com os Sargentos Elias Marques e Antônio Vieira, Neco de
Pautilha e Teófilo Pires. Destes por mim entrevistados o que marcou a minha
vida foi o sargento Elias Marques pelo laço de amizade que tivemos, quando ia
pesquisar em Piranhas constantemente passava em Olho D’água do Casado para
prosear e tomar um café.
8) Quais intuições do Cangaço você tem participado?
Antonio Vilela - Faço parte da SBEC
(Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço), com Sede em Mossoró – RN, Cariri
Cangaço, com sede em Juazeiro do Norte – CE. ABLAC (Associação Brasileira de
Artes e Literatura do Cangaço), com sede em Aracajú SE e GECAPE (Grupo de
Estudos de Cangaço de Pernambuco), Com sede no Recife-PE.
9) Em 2014 você lançou o livro “Dominguinhos – O Neném de
Garanhuns”. Como foi o processo de criação dessa obra? Quais os momentos de percalços e
gratificantes dessas pesquisas? Alguns que possam ser contados?
Antonio Vilela - Sou Nordestino da gema,
desde criança escutava Luiz Gonzaga e Dominguinhos. Em 1994 tive o privilégio
de conhecer Dominguinhos em uma entrevista feita pelo radialista Marcos
Cardoso, na Rádio Jornal de Garanhuns. Anos depois surgiu o desejo de escrever
a biografia do seu Domingos. Depois de dois encontros com o sanfoneiro de
Garanhuns iniciei o trabalho de pesquisas e somente depois do seu falecimento
comecei escrever “Dominguinhos o Neném de Garanhuns”. No dia 23 de setembro de
2012 fui convidado pela equipe da Radio Marano, formada por Luciano André e
Tony Duran para vir dando fleches históricos durante o traslado de
Dominguinhos. Foi a maior emoção de minha vida. Nesta ocasião conheci muitas
pessoas que viveram com o sanfoneiro de Garanhuns: seus filhos Mauro Moraes e
Liv Moraes. Os amigos Paulo Vanderley, Sirano e Sirino, o Mestre Camarão e
muitos outros artistas. Não posso esquecer os seus irmãos Valdomiro Moraes e
Maria Auxiliadora Moraes. O livro “Dominguinhos o Neném de Garanhuns” foi impresso
pela Prefeitura de Garanhuns, uma cortesia do Prefeito Izaias Régis, livro este
lançado em 2014.
10) Você é o idealizador do
Troféu Dominguinhos. Como surgiu a ideia dessa premiação especial entregue a
amigos e admiradores do cantor e compositor garanhuense?
Antonio Vilela - Sim, plagiei a ideia do
Troféu Viva Gonzagão, O Primeiro Troféu Viva Dominguinhos, selecionei os amigos
mais achegados do mestre e outros que sempre divulgaram o nome de Dominguinhos,
especialmente seus conterrâneos como Aldo Machado, do Maria Rita e Jarbas
Brandão, do Garoa.
11) Em 2012 você participou da
criação do Instituto Histórico, Geográfico e Cultural de Garanhuns, sendo um
dos seus sócios-fundadores. Você considera que houve mudanças no pensamento de
preservação da memória de Garanhuns a partir da fundação dessa entidade?
Antonio Vilela - Houve mudanças
significativas, à medida que, o IHGCG promoveu a divulgação e estudos da nossa
história, e como é uma instituição ligada as nossas raízes espero que possamos destinar
um lugar para um museu para guardar a nossa memória.
12) Seus trabalhos publicados
são resultados de muitas horas de pesquisas. Você tem uma rotina e conjunto
hábitos que procedem ao seu processo criativo?
Antonio Vilela - A minha vida é uma pesquisa constante, quando
encontro algo que diz respeito a nossa História arquivo com muito carinho,
especificamente recorte de jornal e fotografias, sou apaixonado por fotos
antigas, especialmente de Garanhuns do passado.
13) Voltando um pouco no tempo
e olhando a sua trajetória literária, você considera que alcançou muitos dos
seus objetivos?
Antonio Vilela - Ainda não alcancei o meu objetivo principal
que é escreve a História de Garanhuns. O Livro “Páginas Viradas – Memórias de
Garanhuns” está pronto, só falta à diagramação e o sonho... O seu lançamento.
14) Qual o momento que você
considera inesquecível na sua trajetória literária?
Antonio Vilela - Quando fui buscar o meu
primeiro trabalho (O Incrível Mundo do Cangaço) ao pegar um volume não me
contive, comecei a chora copiosamente.
15) Antonio Vilela e a
literatura, como definiria essa relação?
Antonio Vilela - Defino como algo
vital em minha vida.
16) Você tem dedicado longos
anos de estudos e pesquisas a História de Garanhuns, sempre resgatando fatos
históricos e personagens da Terra de Simoa. Atualmente está trabalhando em uma
nova obra? Como estão seus projetos literários?
Antonio Vilela - Tenho 17 anos que venho
trabalhando diuturnamente neste meu novo projeto, a História de Garanhuns, como
falei anteriormente, o livro “Páginas Viradas – Memórias de Garanhuns” já está
pronto, faltando somente a diagramação e sua publicação.
17) Deixe suas considerações
finais para os seus leitores, admiradores e os que desejam seguir uma carreira
como escritores e escritoras.
Antonio Vilela - O conselho que dou
aqueles que pretendem escrever um livro, deixo como exemplo a Maria Fumaça.
Quando ela saia da estação... eu posso, eu posso...eu
posso solfejando essa melodia puxando uma infinidade de vagões, ao se aproximar
da primeira estação (São João), ia soltando vapores e apitava bem
alto, eu sabia que podia, eu sabia que podia...
*Cláudio Gonçalves é professor e escritor.
*Cláudio Gonçalves é professor e escritor.
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